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Morre ex-padre protagonista do emblemático caso de abuso sexual no Chile

11.nov.2015 - O padre chileno Fernando Karadima é cercado por jornalistas enquanto deixa o prédio da Suprema Corte do país, em Santiago, no Chile. Karadima foi ao tribunal para interrogatório em uma ação judicial contra a Igreja Católica sobre os abusos sexuais que ele disse ter cometido contra três vítimas. Karadima negou acusações de abuso, mas em 2011 uma investigação do Vaticano o considerou culpado de abusar de meninos adolescentes ao longo de muitos anos e ordenou que ele se aposentasse para "uma vida de oração e penitência" - Carlos Vera/Reuters
11.nov.2015 - O padre chileno Fernando Karadima é cercado por jornalistas enquanto deixa o prédio da Suprema Corte do país, em Santiago, no Chile. Karadima foi ao tribunal para interrogatório em uma ação judicial contra a Igreja Católica sobre os abusos sexuais que ele disse ter cometido contra três vítimas. Karadima negou acusações de abuso, mas em 2011 uma investigação do Vaticano o considerou culpado de abusar de meninos adolescentes ao longo de muitos anos e ordenou que ele se aposentasse para "uma vida de oração e penitência" Imagem: Carlos Vera/Reuters

26/07/2021 15h43

Santiago, 26 Jul 2021 (AFP) - O ex-padre chileno Fernando Karadima, condenado pelo Vaticano por abuso sexual em 2011, um caso que revelou um escândalo de abuso de menores perpetrado pelo clero local, morreu aos 90 anos em uma casa de saúde em Santiago, de acordo com um documento oficial.

Karadima morreu na noite de domingo (26) de "broncopneumonia, insuficiência renal, diabetes mellitus e hipertensão", segundo o atestado de óbito, ao qual a AFP teve acesso.

A Arquidiocese de Santiago não confirmou o falecimento e se dissociou do assunto afirmando que ele já não era mais sacerdote.

Karadima foi expulso do sacerdócio pelo Vaticano em 2018, na maior sentença aplicada dentro da Igreja Católica, que anteriormente o havia sentenciado a uma vida longe de suas funções eclesiásticas por abuso sexual de menores nas décadas de 1980 e 1990.

O caso é um dos mais emblemáticos do Chile pela influência do então sacerdote dentro da Igreja.

Na paróquia de El Bosque, localizada em um bairro nobre da capital, que dirigiu de 1980 a 2006, Karadima estabeleceu laços sólidos com setores da elite política e econômica do Chile por anos.

Segundo dados oficiais, até 2019 mais de 200 membros da Igreja chilena foram investigados por mais de 150 casos de abuso sexual, enquanto mais de 240 vítimas foram identificadas, das quais 123 eram menores.

A Justiça chilena arquivou o processo criminal contra o ex-padre, mas há dois anos ordenou que a igreja local pague uma indenização de 450.000 dólares por "danos morais" a três de suas vítimas: o médico James Hamilton, o filósofo José Andrés Murillo e o jornalista Juan Carlos Cruz, pessoas conhecidas hoje por defenderem as vítimas de abusos sexuais cometidos na Igreja chilena.

A decisão judicial considerou que a igreja local foi negligente ao não investigar as denúncias de abusos e creditou os "danos psicológicos" sofridos por Hamilton, Murillo e Cruz, que em 2010 abriram a caixa de pandora que revelou a "cultura do abuso" na Igreja chilena.

"Morreu Fernando Karadima, ex-padre católico que abusou sexual e espiritualmente de muitas pessoas, nós entre elas. Tudo o que tínhamos a dizer de Karadima já está dito. Ele foi mais um elo desta cultura de perversão e acobertamento na Igreja", disseram os três em uma declaração pública.

"Nós estamos em paz e vamos continuar lutando para que esses crimes não voltem a ocorrer e por tantas pessoas que também viveram isso e ainda não conseguiram justiça", acrescentaram.