Ortega rumo a uma reeleição garantida, com opositores na prisão
Manágua, 4 Nov 2021 (AFP) - Nenhuma surpresa. A Nicarágua celebrará no próximo domingo (7) eleições em que o presidente Daniel Ortega, com seus rivais presos, confirmará o quarto mandato consecutivo após 14 anos no poder, sob o risco de não ser reconhecido por parte da da comunidade internacional.
Três anos e meio depois dos protestos que exigiam sua renúncia e cuja repressão deixou mais de 300 mortos, Ortega, que completará 76 anos na próxima semana, tem garantido outro mandato de cinco anos com a esposa Rosario Murillo (70), a quem chama de "copresidenta", à frente da ex-guerrilheira Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, esquerda).
Nas ruas ninguém duvida. Ortega enfrenta cinco candidatos desconhecidos e acusados de colaborar com o governo, após a detenção de sete pré-candidatos à presidência e da cassação de três partidos opositores em uma ofensiva que, desde maio, levou 39 políticos, empresários, agricultores, estudantes e jornalistas para a prisão.
A ação do governo provocou temores neste empobrecido país da América Central, de 6,5 milhões de habitantes.
Quase 4,3 milhões de nicaraguenses estão registrados para votar - também escolherão 90 deputados. Uma pesquisa do instituto Cid-Gallup mostra que 65% votariam em um opositor e 19% em Ortega, mas o instituto pró-governo M&R afirma que 70% votarão na FSLN e 11,2% nos candidatos desconhecidos.
Dos aspirantes de oposição, a favorita, de acordo com as pesquisas, era Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios (1990-1997) e que está em prisão domiciliar.
Os detidos são acusados de atentar contra a soberania e promover sanções contra a Nicarágua, "traição à pátria" ou "lavagem de dinheiro", com base em leis aprovadas em 2020 pelo Congresso, sob controle governista, assim como o Poder Judiciário e as autoridades eleitorais.
Mais de 100.000 nicaraguenses partiram para o exílio, sobretudo Estados Unidos e Costa Rica, durante a crise política. Para Ortega, os mais de 150 opositores detidos desde 2018 não são políticos, e sim "criminosos" e "golpistas" patrocinados por Washington.
- Arsenal de sanções -A onda de detenções provocou tensão nas relações da Nicarágua com Estados Unidos e União Europeia - que adotaram sanções contra parentes e pessoas próximas a Ortega -, assim como com governos aliados, incluindo México e Argentina.
O Congresso americano aprovou na quarta-feira a lei "Renascer", um arsenal de medidas para aumentar a pressão contra Ortega e Murillo, acusados de corrupção, violação dos direitos humanos e de não permitir eleições "livres".
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que eleições serão "ilegítimas". A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) indicou que buscam apenas "a perpetuação no poder de forma indefinida".
Ortega, que tem como principais aliados Venezuela, Cuba e Rússia, acusa Washington e a UE de "interferência".
A analista de questões de governabilidade Elvira Cuadra, no exílio, disse à AFP que o isolamento afetará investimentos e financiamento internacional,m com o risco de um agravamento a questão social e aumento da migração.
Ortega e Murillo afirmam que com a "paz" chegará a prosperidade. O governo projeta um crescimento econômico de 6% este ano e pretende convocar um diálogo após as eleições.
"Este diálogo é apenas parte da estratégia para buscar a legitimidade que não conseguiram nas urnas", afirmou à AFP o analista Eliseo Núñez.
O cientista político costa-riquenho Kevin Casas opina que, "assim como na Venezuela, dificilmente a comunidade internacional poderá fazer algo para mudar a autocracia" que o líder da FSLN está forjando desde que voltou ao poder em 2007, com reformas que instauraram a reeleição sem limites.
- "Estado policial" -O ex-guerrilheiro já havia governado o país nos anos 1980, depois de ajudar a derrubar o ditador Anastasio Somoza. Seus opositores o acusam ter se transformado em um ditador como Somoza.
Enquanto a FSLN multiplica a entrega de casas e rodovias, a oposição no exílio, sem liderança e fragmentada, pede aos nicaraguenses "que fiquem em casa".
Afetados pela pandemia, o custo de vida, o desemprego e a crise política, na Nicarágua a população demonstra apatia eleitoral.
A presidenta do Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, considera que no país há um Estado policial "para ter o controle social da população, reprimir e esmagar opositores".
Dezenas de jornalistas nicaraguenses trabalham na Costa Rica e vários meios de comunicação internacionais denunciaram que tiveram entrada negada no país.
Para a eleição de domingo, com mais de 30.000 policiais e militares nas ruas, o governo não aceitou observadores internacionais, apenas "convidados".
mis/mav/lm/fp
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.