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Após 2 anos de pandemia, chefe de emergências da OMS espera 'futuro melhor'

Capuski/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Capuski/Getty Images/iStockphoto

18/12/2021 16h05

Passados dois anos na linha de frente da luta contra a pandemia da covid-19, o chefe de emergências sanitárias da OMS, Michael Ryan, não perde o otimismo, convencido de que a humanidade tomará as medidas necessárias para controlar o vírus.

Enquanto isso, reconhece que a crise pode se agravar com a variante ômicron, pois tudo indica que ela aumentará os índices de contágio e voltará a encher hospitais.

Não é impossível que o mundo enfrente outras variantes, mais perigosas, que com ondas sucessivas podem sobrecarregar os sistemas de saúde.

"É um futuro possível se não tratarmos o vírus corretamente", disse Michael Ryan em entrevista recente à AFP. Mas "não é isso que vejo no momento. Vejo um futuro melhor", declarou.

O epidemiologista de 56 anos, ex-cirurgião, acredita que se "nos empenharmos seriamente em termos de medidas sanitárias e aumentarmos a cobertura vacinal", será possível superar a fase pandêmica.

Embora o vírus SARS-CoV-2 provavelmente não desapareça, Ryan acredita que ele pode se transformar em outro vírus respiratório endêmico, como a gripe.

Essa perspectiva otimista parece ir contra a situação em campo. A covid-19 já matou oficialmente mais de 5,3 milhões de pessoas no mundo, embora o número real possa ser três ou quatro vezes maior.

Otimista patológico

A propagação da ômicron não muda fundamentalmente as coisas, de acordo com Ryan. "Tínhamos dificuldades muito antes da ômicron", apontou o médico, que lembrou que a variante delta se espalhou graças à desigualdade na vacinação, à politização da pandemia e até mesmo à desinformação generalizada e ao levantamento prematuro das restrições sanitárias.

Mas para ele, o mundo pode mudar de rumo: citou a "incrível resiliência" das comunidades, o serviço altruísta dos profissionais de saúde e a cooperação científica sem precedentes desde o início da pior crise de saúde em um século.

"Estou muito otimista sobre o que podemos alcançar coletivamente", afirmou.

Na verdade, o irlandês foi diagnosticado por seus colegas como um "otimista patológico", característica que tem sido extremamente útil desde que ele assumiu a chefia do programa de emergências de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, pouco antes do início da pandemia.

Censura

A OMS está mais uma vez no olho do furacão, criticada por às vezes reagir muito lentamente ou demorar para reconhecer seus equívocos, e tem sido usada como bode expiatório das autoridades surpreendidas pelos acontecimentos.

"Às vezes é difícil", admitiu Ryan, que junto com o diretor geral Tedros Adhanom Ghebreyesus é um dos rostos na luta da OMS contra o covid-19. "Levamos alguns golpes", mas "faz parte do ofício".

O mais difícil para ele é o impacto para as famílias dos especialistas da OMS que trabalham incansavelmente. Ele mesmo só conseguiu ver seus três filhos, que vivem na Irlanda, apenas quatro vezes em dois anos.

"É difícil", reconheceu, embora seja rápido em esclarecer que isso não é nada comparado com a experiência da equipe em campo.

"Não há nada mais exaustivo e estressante do que estar na linha de frente de uma epidemia", disse Ryan, que passou grande parte do último quarto de século lutando contra as epidemias de ebola, cólera e poliomielite.

Mais diplomático

A visão de Ryan sobre a vida mudou no Iraque em 1990, onde foi feito refém durante a primeira Guerra do Golfo, quando chegou a ter uma arma apontada para sua cabeça.

"Fui refém no Iraque e (...) várias vezes pensei que minha vida havia acabado", confidenciou. "Atualmente, para mim, a maior parte do tempo é uma espécie de bônus."

Essa experiência foi útil para ele em seu trabalho atual, pois o ajudou a desenvolver uma "habilidade para lidar com o estresse de uma emergência".

No entanto, tudo o que viveu em campo não o preparou para enfrentar a política do poder. "Não sou um político nato", afirmou o médico, mas "aprendi" e "pode ser que eu seja um diplomata melhor depois dos últimos anos".