Para o opositor cazaque Ablyazov, 'revolução' está em andamento
O opositor cazaque Mukhtar Ablyazov, um refugiado político na França, declarou à AFP nesta quinta-feira (6) que "a revolução" está em andamento em seu país e denunciou a "ocupação" do Cazaquistão pelas forças russas.
"Em literalmente três dias, aconteceu uma revolução", disse o opositor de 58 anos durante uma entrevista em Paris, onde vive.
"A mudança de regime ainda não foi realizada, mas a revolução nas mentes das pessoas já aconteceu", afirmou este ex-banqueiro e ex-ministro, que caiu em desgraça em seu país no final dos anos 1990.
Ablyazov, que foi ministro do ex-presidente Nazarbayev, passou 14 meses na prisão antes de se exilar no Reino Unido e depois na França.
As autoridades o acusam de desviar bilhões de dólares quando dirigia o banco BTA, alegações que ele sempre negou.
"Penso que é o final do regime, a questão é quanto tempo vai demorar", disse ele. "Pode durar mais um ano, mas tudo pode mudar em duas semanas", refletiu.
O Cazaquistão, uma ex-república soviética, está passando por um movimento de protesto sem precedentes contra o aumento dos preços dos combustíveis.
As manifestações começaram no fim de semana no oeste do país, rico em recursos energéticos, e depois se espalharam para Almaty, a capital econômica, onde se transformaram em distúrbios.
Os confrontos deixaram dezenas de manifestantes mortos e mais de mil feridos, informaram as autoridades nesta quinta-feira.
Além disso, 18 membros das forças de segurança morreram e 748 ficaram feridos, de acordo com o governo, citados por agências russas.
Para tentar acalmar a situação, o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, demitiu seu governo e baixou o preço do gás. Mas as medidas não surtiram efeito.
Na quarta-feira, ele pediu ajuda à Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma aliança militar liderada pela Rússia e integrada por cinco outras antigas repúblicas soviéticas. O primeiro contingente chegou ao Cazaquistão nesta quinta.
"Para nós, é uma ocupação", denunciou Ablyazov.
Para o dissidente, após três décadas de regime autoritário, "as pessoas entenderam que não são fracas e que podem forçar o regime a ouvir o povo".
"Agora, as pessoas veem que, se se unirem, podem derrubar estátuas e provocar a queda do governo", disse.
Na cidade de Taldykurgan, no sudeste, os manifestantes derrubaram uma estátua de Nursultan Nazarbayev, que liderou o país de 1989 a 2019. Naquele ano, ele entregou o poder a Tokayev, considerado seu fiel discípulo.
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