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Suspeito de incendiar Parlamento da África do Sul é acusado de terrorismo

Apresentando-se, perante ao tribunal, como um sem-teto, Mafe foi detido poucas horas após o início do incêndio - Mike Hutchings/Reuters
Apresentando-se, perante ao tribunal, como um sem-teto, Mafe foi detido poucas horas após o início do incêndio Imagem: Mike Hutchings/Reuters

Na Cidade do Cabo (África do Sul)

11/01/2022 10h50Atualizada em 11/01/2022 10h54

O homem suspeito de estar por trás do incêndio que devastou o Parlamento sul-africano no início de janeiro, na Cidade do Cabo, foi acusado hoje de terrorismo. Ele deve passar por uma avaliação psiquiátrica após um diagnóstico inicial de esquizofrenia.

Zandile Christmas Mafe, de 49 anos, chegou à audiência com a cabeça raspada e terno preto.

Apresentado como sem-teto, Mafe foi detido na manhã de 2 de janeiro, poucas horas após o início do incêndio, no recinto do Parlamento. Foi acusado três dias depois.

O suspeito "é culpado" de ter violado uma lei de "proteção da democracia constitucional contra o terrorismo", segundo a acusação consultada pela reportagem.

O porta-voz do MP (Ministério Público), Eric Ntabazalila, disse à imprensa que "o acusado detonou um artefato no Parlamento", sem especificar de que natureza.

Na audiência, o MP disse que essa acusação adicional foi incluída na véspera, depois que os investigadores assistiram aos vídeos das câmeras de vigilância.

O homem já havia sido acusado de ter entrado por "arrombamento" no edifício, de ter "incendiado os prédios do Parlamento" e de ter roubado "laptops, pratos e documentos".

Desde que ele foi preso, muitas vozes se levantaram para apresentá-lo como bode expiatório, enfatizando as brechas de segurança e a falha do sistema contra incêndio.

Dezenas de manifestantes, incluindo vários sem-teto, protestaram em frente ao tribunal.

Um homem contou as lembranças que tinha da noite anterior ao incêndio. Ele dormia em uma rua ao lado do Parlamento e ouviu um barulho.

Imaginou se tratar de uma colisão entre carros e adormeceu novamente, até ver a fumaça e perceber que o Parlamento estava em chamas.

No tribunal, o advogado de defesa do sspeito, Dali Mpofu, disse que Mafe foi avaliado em 3 de janeiro e diagnosticado com "esquizofrenia paranoica". Em função disso, insistiu que a liberdade condicional dele seja examinada.

Um dos advogados mais famosos do país, com uma lista de clientes de alto perfil, que inclui o ex-presidente Jacob Zuma, Mpofu se recusou a dizer à AFP se representa o acusado gratuitamente.

O MP respondeu que seria uma "perda de tempo", pedindo 30 dias de observação para avaliar o estado psicológico do acusado.

O juiz decidiu nesse sentido, alegando ter "as mãos atadas": para examinar o destino, é necessário saber se o acusado estará "apto para ser julgado".

De acordo com os primeiros elementos da investigação divulgados pelas autoridades, o sistema de detecção de incêndio estava "com defeito", e "o sistema de sprinklers (chuveiros automáticos) não funcionou".

Este sistema havia sido revisado pela última vez em 2017, e uma inspeção programada para fevereiro de 2020 não foi realizada.

As câmeras de vigilância mostraram Zandile Mafe no prédio por volta das 2h. "Mas os seguranças viram-no apenas por volta das 6h, quando olharam para as telas, alertados pela fumaça", disse à AFP a ministra de Obras Públicas, Patricia De Lille.

"As câmeras funcionaram. O problema é que ninguém estava olhando para elas naquela noite fatídica", afirmou, referindo-se a "uma falha na segurança".

Os bombeiros sul-africanos lutaram por mais de 48 horas até conseguirem dominar o fogo completamente. O incêndio não deixou vítimas, mas devastou um dos edifícios mais emblemáticos da democracia sul-africana.