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Boric tem recepção de astro pop em primeiro discurso após posse no Chile

O presidente do Chile, Gabriel Boric, posa para uma selfie após prestar juramento no Congresso em Valparaíso, Chile, 11 de março de 2022 - Rodrigo Garrido/Reuters
O presidente do Chile, Gabriel Boric, posa para uma selfie após prestar juramento no Congresso em Valparaíso, Chile, 11 de março de 2022 Imagem: Rodrigo Garrido/Reuters

11/03/2022 21h42Atualizada em 11/03/2022 22h01

A esperança e a alegria de uma mudança de geração política no Chile provocou euforia nesta sexta-feira (11) nas dezenas de milhares de seguidores do recém-empossado presidente Gabriel Boric, um ex-líder estudantil que, aos 36 anos, chegou à Presidência ovacionado como se fosse um astro pop.

"Boric, amigo, o povo está contigo", repetia sem cessar a multidão após a longa espera pelo primeiro discurso presidencial de Boric na Praça da Constituição, que antecede o Palácio de La Moneda, em Santiago.

"Obrigado, juventude corajosa", dizia o cartaz levado por Amaya Gutiérez, uma administradora de 52 anos. "Vim ver esse menino que nós ajudaremos a que tenha bom desempenho", disse à AFP na praça sob um calor de 30 graus Celsius e sem sombra.

Oportunidades, transformações, promessas e mudanças foram palavras repetidas entre os que lotaram as proximidades da sede do governo para ver passar o novo chefe de Estado, após a cerimônia de posse no Congresso, em Valparaíso.

"Deste novo governo espero igualdade de oportunidades, direitos para todos. Não quero que me deem nada de presente, mas que o gramado seja similar para todos", afirmou José Luis Carrasco, um engenheiro de 33 anos.

Casais, famílias com crianças e pessoas desacompanhadas esperavam, com celulares nas mãos, ansiosas e apoiadas sobre as cercas de segurança, desejando que Boric se aproximasse para um cumprimento, um aperto de mãos e desejar-lhe bons votos.

"Presidente, estamos contigo", "Boric, muita força, filhinho" diziam alguns cartazes, muitos nas cores lilás e verde, que identificam os novos movimentos feministas, que vêm apoiando sem fissuras o presidente mais jovem da história do Chile, que promete um governo "feminista, ecologista e de reformas graduais".

"Espero que estes quatro anos sejam de transformações, que possa cumprir o que prometeu e que possa ser um período colaborativo. E espero que cumpra a promessa de que vai fazer um governo feminista, que haja mais igualdade para as mulheres", confiava Carol Rivera, de 29 anos.

Dúvidas, incerteza

As expectativas também eram marcadas pela incerteza de alguns, que observavam o ambiente à distância.

"Tomara que Boric entenda que nestes 32 anos (desde o retorno à democracia) progredimos no Chile, não é preciso mudar tudo", afirmou Silvia Gallegos, médica de 68 anos, que admite ter votado em Boric porque "nunca votaria na direita".

"Ele me faz lembrar quando chegou (o socialista Salvador) Allende (ao poder) em 1971, é similar no fervor e na ilusão", disse, franzindo o cenho.

De momentos de euforia, passava-se ao silêncio, em seguida a um murmúrio nervoso e novamente a falsos gritos de "Já vem!", que levantavam ânimos e bandeiras, para voltarem as atenções às rádios e redes sociais que transmitiam o percurso da comitiva presidencial.

Inclusive dois adultos idosos comentavam sobre o ambiente no entorno: "Você viu, igual a quando veio o Papa", em alusão à visita de João Paulo II em 1987.

Chega um carro e as pessoas perguntam, emocionadas: "Quem é, quem é?". É Giorgio Jackson, novo ministro das relações com o Parlamento (articulação política), e as pessoas o aclamam como se fosse uma estrela do rock, um ensaio para o que espera Boric.

Mas quando chega a companheira do presidente, Irina Karamanos, a ovação é impressionante.

O sol e a temperatura começam a baixar quando os gritos das ruas vizinhas anunciam que o novo presidente se aproxima. Apesar do que muitos esperavam nos quarteirões vizinhos, o carro conversível que levava Boric - de pé, acenando a todo momento - avança muito lentamente, mas não para e ele não se aproxima das pessoas.

Chega até a Praça da Constituição, em frente ao La Moneda, desce do Ford Galaxie, e pessoas de todas as idades correm e tentam se aproximar o máximo possível. Boric começa o percurso por uma praça não lotada de gente, mas tomada de fervor, que espera o primeiro discurso presidencial de Boric de um balcão simbólico.