Indígenas da Amazônia denunciam exclusão da Cúpula das Américas
Los Angeles, 8 Jun 2022 (AFP) - Representantes indígenas da Amazônia denunciaram que foram excluídos da Cúpula das Américas, que acontece nesta semana em Los Angeles e que tem em sua agenda a discussão sobre as mudanças climáticas.
"As vozes indígenas não estão sendo ouvidas na Cúpula das Américas", afirmou Atossa Soltani, fundadora e presidente da ONG Amazon Watch. "Vários delegados indígenas tiveram sua entrada negada", acrescentou.
Soltani afirma que vários representantes indígenas se inscreveram para participar das atividades da Cúpula e percorreram enormes distâncias para chegar ao evento nos Estados Unidos, mas não tiveram acesso com a justificativa de que "não há espaço para todos".
"Nestes eventos importantes, onde há governos no poder, devemos estar todos os indígenas de diferentes países, para chegar com nossa voz e com nossa proposta", questionou Domingo Peas, da comunidade achuar na Amazônia equatoriana.
Peas, membro da Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (Confeniae), viajou de barco, carro, ônibus e avião por mais de dois dias para ir de sua remota comunidade de cem famílias a Los Angeles, apenas para ouvir que não poderia participar do evento que abordará a questão ambiental.
- Soluções -"Os povos indígenas não só têm as soluções para a nossa crise climática e biodiversidade, eles são os habitantes originários", acrescentou Soltani.
"O motivo pelo qual temos essas incrivelmente intactas florestas na América Latina é porque os indígenas cuidaram delas por séculos e as defenderam com suas vidas".
Os representantes indígenas organizaram manifestações e protestos pedindo aos líderes da região para "agir".
"O destino da Amazônia está nas mãos dos líderes reunidos aqui. É o futuro da vida no planeta", afirma.
A Cúpula das Américas voltou aos Estados Unidos após sua primeira reunião em 1994, em Miami. O encontro é ofuscado por ausências notáveis como as do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador.
A Amazônia se estende por oito países latino-americanos e pela região da Guiana Francesa, com o Brasil concentrando a maior proporção da floresta.
O presidente Jair Bolsonaro foi duramente criticado por Soltani por seus pronunciamentos a favor da exploração comercial desse território.
"Começa de cima, se o presidente Bolsonaro fizer comentários racistas e incentivar a destruição da Amazônia, é claro que ele vai alimentar atividades criminosas", criticou.
A presidente da Amazon Watch também expressou preocupação com o desaparecimento na Amazônia brasileira do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira.
"É necessária uma investigação imediata. Basicamente, precisamos acabar com as gangues criminosas que ameaçam as comunidades e as pessoas que tentam proteger a floresta", pediu.
pr/es/aa
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