'Está tudo destruído', dizem os sobreviventes das enchentes no Paquistão
No pequeno vilarejo de Panjal Sheikh, no sul do Paquistão, chuvas torrenciais sem precedentes destruíram casas e inundaram plantações, levando seus moradores ao desespero.
Após duas semanas de chuvas incessantes, só restam paredes danificadas e objetos flutuando na água marrom.
Os moradores da localidade situada a menos de 25 quilômetros das margens do rio Indo, que atravessa o país de norte a sul, sofrem as consequências das chuvas de monção que afetaram um terço do Paquistão.
As inundações, as piores dos últimos 30 anos, segundo as autoridades, afetaram desde junho dezenas de milhões de paquistaneses, deixaram mais de mil mortos e destruíram quase um milhão de lares.
"Quando começou a chover, tudo começou a ser destruído", disse no domingo à AFP o morador Mukhtiar Ahmed. "Enquanto corríamos para salvar as crianças de uma casa, outra estava caindo, depois outra e outra", disse. "Todo o vilarejo foi arrasado".
O Paquistão enfrenta com frequência fortes chuvas durante a estação de monções, que vai de junho a setembro.
As chuvas, frequentemente devastadoras, também são essenciais para as plantações e restauração dos recursos hídricos. Mas, desta vez, a magnitude dos danos foi sem precedente nos últimos 30 anos, disse o primeiro-ministro Shehbaz Sharif.
Autoridades paquistanesas atribuem a devastação à mudança climática que está aumentado a frequência e intensidade dos fenômenos meteorológicos extremos em todo o mundo.
- "Vilarejo arrasado" -
O poder do mal tempo em Panjal Sheikh surpreendeu Ghulam Rasool, de 80 anos.
"Ouvimos um ruído muito alto de repente e não entendemos imediatamente o que estava acontecendo", disse. O idoso pensou que a casa de seu filho havia caído e que seus quatro moradores estavam mortos. Na verdade, era o som das torrentes de água.
Enquanto a família tentava em vão impedir que a água invadisse suas terras, a filha de Rasool pariu. "Sentia dores, mas tinha medo de falar sobre isso. Até que contei para minha mãe", disse Naheed Sheikh, de 30 anos.
Sob uma chuva torrencial, a família conseguiu levá-la a um hospital precário onde foi submetida a uma cesárea. O calvário da mulher não terminou quando ela voltou para casa.
"Estava meio dormindo (...) quando sentimos que a casa começou a tremer", disse à AFP. "Saí correndo com minha filha nos braços, quando as paredes começaram a cair".
Após 13 dias de chuvas, Ghulam Rasool caminha pelo que restou do vilarejo, tropeçando nos escombros, pertences da família e pilhas de lenha com as quais ganhava a vida.
Agora querem derrubar as frágeis paredes que ainda ficaram de pé para que não caiam sobre as pessoas.
"Tudo está destruído. Nem sequer podemos cozinhar", disse. "Estamos sofrendo muito e esperamos que alguém nos ajude".
Muitos sobreviventes das inundações como a enfrentada por Panjal Sheikh se deslocaram para a cidade de Sukkur com a esperança de receber ajuda.
Alguns se refugiaram em barracas de plástico ao longo de uma rodovia, que balançam com a passagem de caminhões do Exército que distribuem sacos de trigo e abrigos de emergência.
ak/qan/pc/mb/jc/am
© Agence France-Presse
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