Comitê Nobel pede a Belarus que liberte ganhador do prêmio da Paz
O Comitê Nobel da Noruega pediu nesta sexta-feira a libertação do defensor de direitos humanos bielorrusso e vencedor do Prêmio Nobel da Paz Ales Bialiatski, preso em Belarus por evasão fiscal.
"Nossa mensagem é pedir às autoridades bielorrussas que libertem Bialiatski e esperamos que isso aconteça e que ele possa vir a Oslo e receber o prêmio", disse Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê do Nobel. "Mas há milhares de presos políticos em Belarus e temo que meu desejo não seja muito realista."
O Comitê ainda afirmou que o Prêmio da Paz não é contra Putin, mas pediu que ele interrompa a repressão de ativistas.
O Prêmio Nobel da Paz de 2022 foi concedido na manhã de hoje a Ales Bialiatski, de Belarus, à ONG Memorial e ao Centro das Liberdades Civis, da Ucrânia.
Segundo os organizadores, os vencedores "representam a sociedade civil em seus países de origem" e promovem o "direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos".
Conheça os ganhadores
Ales Bialiatski é um dos principais nomes da oposição ao atual ditador de Belarus, Aleksandr Lukashenko, aliado de Vladimir Putin, presidente da Rússia. Bialiatski foi preso em 2020 pelo regime de Lukashenko e continua atrás das grades. Ele esteve na vanguarda do movimento pró-democracia em Minsk, ainda nos anos 1980, e "dedicou sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico de seu país natal".
Em 1996, ele fundou a Viasna (Primavera), que nos anos seguintes se transformou em uma organização dos direitos humanos que documenta o uso de tortura contra prisioneiros políticos. Após o anúncio dos vencedores, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista. A porta-voz da oposição de Belarus afirmou que Bialiatski está atualmente preso "em condições desumanas".
O líder da oposição no país, Pavel Latushko, disse que o Nobel reconheceu "todos os presos políticos em Belarus". "(O prêmio) não é apenas para ele (Bialiatski), mas para todos os prisioneiros políticos que temos atualmente em Belarus", declarou.
Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos - incluindo o vencedor do prêmio Nobel da Paz e físico nuclear Andrei Sakharov - que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stalin.
Em novembro de 2021, a Justiça da Rússia pediu a dissolução do Memorial, acusando o grupo de ter infringido "de maneira sistemática" obrigações de sua condição de "agente estrangeiro". Moscou também argumentou que estava aplicando leis para impedir o extremismo e proteger o país de influências externas.
No mês seguinte, a Suprema Corte do país determinou a dissolução do Memorial, marcando o final de um ano de intensa repressão a críticos e opositores do governo de Vladimir Putin.
O escritório da Alemanha da organização russa Memorial também falou sobre a premiação, que chamou de "um reconhecimento do nosso trabalho com os Direitos Humanos e especialmente dos nossos colegas na Rússia, que sofreram e sofrem ataques e repressões inomináveis".
O Centro de Liberdades Civis da Ucrânia é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada em 2007 em Kiev, Ucrânia, e liderada pela advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk.
A organização teve papel importante na documentação de prisões políticas e desaparecimentos nos últimos anos na Ucrânia, principalmente depois das manifestações de 2013 e 2014 contra o presidente Viktor Yanukovitch. O grupo apresentou ao Tribunal Penal Internacional (TPI) certidões sobre crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Yanukovitch durante a onda de protestos que ficou conhecida como Euromaidan.
O grupo também teve participação no monitoramento da movimentação russa na Crimeia e Donbas, e ganhou relevância com sua atuação depois da invasão russa. Entre outras coisas, o centro monitora desaparecimentos forçados que alega serem promovidos por forças militares russas em território ucraniano. Em nota, o centro agradeceu à comunidade internacional pelo apoio.
Em sua conta no Twitter, o Centro para as Liberdades Civis da Ucrânia declarou estar "orgulhoso" de ser um dos laureados do Nobel da Paz deste ano. "Manhã com boas notícias. Estamos orgulhosos".
História do Nobel
Os prêmios Nobel nasceram da vontade do sábio e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite, de legar grande parte de sua fortuna aos que trabalham por "um mundo melhor". Ele é lembrado como o patrono das artes, das ciências e da paz que, antes de morrer, no limiar do século 20, transformou a nitroglicerina em ouro.
Nobel, que patenteou mais de 350 produtos ao longo da vida, também inventou a borracha e o couro sintético.
Em seu testamento, assinado em Paris em 1895, um ano antes de sua morte em San Remo (Itália), ele determinou que a maioria de sua fortuna —estimada em mais de 31 milhões de coroas suecas, fosse convertida em um fundo que concedesse "prêmios para quem, durante o ano anterior, tiver conferido à humanidade os maiores benefícios".
Ele também designou os diferentes comitês que atribuem os prêmios a cada ano: a Academia Sueca para o de Literatura, o Karolinska Institutet para o de Medicina, a Real Academia Sueca de Ciências para o de Física e o de Química, e um comitê de cinco membros especialmente eleitos pelo Parlamento norueguês para o da Paz.
Como funciona o prêmio. As indicações para o Nobel têm início um ano antes do anúncio dos vencedores. Cientistas, professores, acadêmicos e vencedores de outras edições enviam nomes para a consideração do Comitê Nobel, que decide quais serão os indicados de fato. Não é possível que uma pessoa indique a si mesma para a seleção.
A entrega das honrarias ocorre sempre no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Nobel. Os laureados recebem diploma, medalha de ouro e uma quantia em dinheiro.
*Com Estadão Conteúdo
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