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Ministro do Petróleo da Venezuela renuncia após investigação sobre corrupção

20/03/2023 16h24

O ministro venezuelano do Petróleo e líder influente do chavismo, Tareck El Aissami, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (20), após uma operação contra a corrupção envolvendo a estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA) e colaboradores próximos.

A Polícia Nacional contra a Corrupção (PNCC) havia anunciado na semana passada "uma investigação profunda" sobre uma trama envolvendo o desvio de US$ 3 bilhões de pagamentos por petróleo bruto em criptoativos em 2022, segundo a imprensa.

Seis funcionários foram presos. Três deles têm vínculos, segundo a imprensa, com El Aissami: o vice-presidente de Comércio e Abastecimento de Qualidade da PDVSA, coronel Antonio Pérez Suárez; Joselit Ramírez, superintendente da Criptoativos da Venezuela (Sunacrip), que administra os fundos da indústria petroleira por meio de criptomoedas; e o deputado Hugbel Roa, criador do Petro, criptomoeda estatal lastreada nas vastas reservas de petróleo bruto do país e primeiro superintendente da Sunacrip.

"Em virtude das investigações iniciadas sobre fatos graves de corrupção na PDVSA; tomei a decisão de apresentar minha renúncia como ministro do Petróleo, com o propósito de apoiar, acompanhar e respaldar totalmente este processo", informou El Aissami em mensagem no Twitter. 

El Aissami, no cargo desde abril de 2020, também anunciou seu apoio a uma nova "cruzada" do governo contra a corrupção, que se estendeu ao poder Judiciário e ao Parlamento.

"Decidi aceitar a renúncia para facilitar as investigações, que devem ter como resultado o estabelecimento da verdade, a punição dos culpados", disse o presidente Nicolás Maduro durante um ato com o "gabinete político da revolução", no qual prometeu punição para os corruptos.

Alvo de sanções dos Estados Unidos, El Aissami é um dos líderes mais poderosos do chavismo, no poder na Venezuela. Antes, foi vice-presidente do país, além de ministro do Interior e da Indústria.

- Percentual da receita -

O jornal "Últimas Noticias", de linha governista, reportou que, em operações de venda de petróleo por meio de criptomoedas para contornar as sanções dos Estados Unidos contra o petróleo bruto venezuelano, perderam-se os US$ 3 bilhões (R$ 15,7 bilhões) do ano passado, dinheiro desviado por Joselit Ramírez, apontou o veículo.

A firma Ecoanalítica estimou que a receita em divisas do Estado venezuelano em 2022 foi de US$ 25 bilhões, segundo seu diretor Adrúbal Oliveros. "Para que possamos compreender a magnitude do desfalque de US$ 3 bilhões, o que desapareceu equivale a 12% da receita do ano passado".

A indústria petroleira da Venezuela foi alvo de mais de 25 investigações por corrupção desde 2017, que terminaram com a prisão de dezenas de funcionários da PDVSA e de dois ministros do Petróleo.

"Iremos limpar totalmente a PDVSA de todos esses mecanismos, de todas essas barbaridades, de todas essa gente que rouba o dinheiro do povo, com medidas draconianas de reestruturação no mais alto nível, como já começamos a fazer", afirmou o presidente Maduro, que já havia anunciado reformas na petroleira.

Rafael Ramírez, um dos homens de confiança do presidente falecido Hugo Chávez e que se encontra foragido na Itália, é acusado de desviar dinheiro durante suas gestões como ministro do Petróleo (2002-2014) e presidente da PDVSA (2004-2014).

- Leitura política -

A renúncia de El Aissami também ganhou uma leitura política, com dissidentes e opositores apontando fraturas dentro do chavismo a um ano das eleições presidenciais, nas quais Maduro buscará um terceiro mandato de seis anos.

O líder Diosdado Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), negou essa teoria. "O que essas coisas fazem é aumentar nossa união em torno de Chávez", declarou, em entrevista coletiva. "Os corruptos não têm espaço na revolução."

Entre a oposição, a saída do czar petroleiro é vista como "uma confissão de como destruíram o país", expressou Juan Guaidó, até janeiro passado reconhecido pelos Estados Unidos como presidente da Venezuela. "Não podemos esquecer que Nelson Martínez morreu na prisão, que Eulogio del Pino continua preso, todos designados por Maduro, principal responsável por essa rede de corrupção."

"O que temos visto nas últimas horas, longe de ser um ato de justiça, é um acerto de contas entre a cúpula que detém o poder", avaliou Henrique Capriles, pré-candidato da oposição para as eleições presidenciais de 2024, assim como Guaidó. "Estão disputando o espólio e não se importam com o sofrimento do povo."

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© Agence France-Presse