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Sánchez antecipa eleições na Espanha após derrota contundente nas municipais e regionais

29/05/2023 15h19

O primeiro-ministro da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira (29) a antecipação das eleições legislativas no país para 23 de julho, após a grande derrota de seu partido nas votações municipais regionais de domingo.

"As eleições acontecerão no domingo de 23 de julho", anunciou Sánchez em uma declaração institucional no Palácio de Moncloa, antes de explicar que tomou a decisão "com base nas eleições celebradas ontem".

"Assumo em primeira pessoa os resultados e acredito que é necessário dar uma resposta e submeter nosso mandato democrático à vontade popular", declarou Sánchez.

O conselho de ministros se reuniu durante a tarde para aprovar a medida, cuja publicação no Diário Oficial do Estado na terça-feira (30) resultará na dissolução do Parlamento.

A data-limite para as legislativas era dezembro, e poucos esperavam a antecipação, levando-se em consideração que a Espanha terá a presidência da União Europeia (UE) no segundo semestre de 2023.

O líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, do conservador Partido Popular, grande vencedor das eleições de domingo, reagiu à notícia afirmando que a Espanha "entrou em um caminho de renovação que é imparável".

Os analistas consideram que Sánchez, de 51 anos, que chegou ao poder em 2018 após um voto de censura contra o então primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy, precisava recuperar a iniciativa.

"É uma mudança de direção de Sánchez para deixar de falar sobre a derrota de ontem", disse à AFP Paloma Román, doutora em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madri.

Os socialistas "não perderam tanto e conseguiram permanecer em um nível que pode ajudá-los", explica Román, para quem o resultado "poderia ter sido pior". Ela lembra que o partido recebeu apenas 800.000 votos a menos que os conservadores do Partido Popular, entre mais de 35 milhões de eleitores.

- "Ele bateu na mesa" -

"Ele bateu na mesa, e tudo mudou", concordou Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona.

Nas eleições de domingo, o PP de Núñez Feijóo, que apresentou essas eleições como um plebiscito sobre Sánchez, retomou prefeituras importantes dos socialistas, incluindo Sevilha e Valência, e conquistou a reeleição, com maioria absoluta, dos governos da cidade e da região de Madri.

Além disso, o PP venceu em seis regiões que eram governadas pelos socialistas, sozinhos, ou em coalizão: a Comunidade Valenciana, Aragón, Extremadura, La Rioja, Baleares e Cantabria.

O domingo também foi vitorioso para o partido de extrema direita Vox, cujo apoio será necessário para os conservadores em várias regiões.

Nas eleições municipais, o PP recebeu mais de sete milhões de votos (31,5%), contra 6,2 milhões (28,1%) do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) de Pedro Sánchez.

Sánchez chegou ao pleito fragilizado pelo próprio desgaste, após mais de cinco anos no governo e o impacto da inflação no poder aquisitivo da população, mas também pelos constantes enfrentamentos entre os socialistas e seus parceiros de coalizão da esquerda radical. 

- Sánchez "em um beco sem saída" -

Sánchez está "em um beco sem saída", afirmou a presidente da região de Madri e grande estrela do PP, Isabel Díaz Ayuso, ao canal Telemadrid. 

"É uma notícia excelente, porque os espanhóis recuperam a voz depois de quatro anos de mentiras", celebrou o líder do Vox, Santiago Abascal.

A extrema esquerda destacou a vontade de trabalhar para corrigir o revés de domingo.

"A mensagem recebida foi muito clara: as coisas devem ser feitas de forma diferente. Sem distrações. A partir deste momento, estamos trabalhando para vencer no dia 23 de julho, escreveu Yolanda Díaz, segunda vice-presidente do governo, líder comunista e  esperança eleitoral da extrema esquerda.

O diretor do instituto de pesquisas Ipsos, o analista político José Pablo Ferrándiz, considerou que, com a antecipação eleitoral, Sánchez economiza "seis meses" de "pressão"da direita, mas também de seus sócios de governo. 

E Antonio Barroso, analista da consultoria Teneo, previu que os socialistas buscarão mobilizar seus eleitores, ressaltando que o PP terá de negociar governos regionais com a extrema direita nas próximas semanas. 

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© Agence France-Presse