'Povo das Águas' se soma à luta contra o fogo que consome o Pantanal

Conhecidos como 'povo das águas' do Pantanal, indígenas Guató formaram a primeira brigada em seu território treinada para combater os incêndios que ameaçam sua aldeia Uberaba, a 350 km de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

"O treinamento foi um pedido da comunidade porque nos últimos anos, eles ficaram ilhados com as queimadas no Pantanal, a cada ano mais intensas, e temiam que o fogo chegasse ao território indígena", explica à AFP Elvis Terena, de 42 anos, coordenador regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Campo Grande (MS). 

Vinte e quatro homens e mulheres foram capacitados para combater incêndios na aldeia, situada na ilha Ínsua, às margens do rio Paraguai. O treinamento foi oferecido em setembro pelo Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo)/Ibama, juntamente com a Funai e a ONG Instituto do Homem Pantaneiro (IHP). 

Agora, integram a primeira brigada voluntária dessa Terra Indígena Guató, no norte do estado, onde vivem cerca de 200 pessoas.  

Embora até agora a aldeia tenha se salvado do fogo, já houve focos no entorno. 

"A situação ficou bem crítica, com o fogo próximo da ilha. A gente sempre teme que chegue na aldeia porque pode queimar tudo", conta à AFP de Corumbá Jorcimari Picolomini, de 31 anos, professora na escola indígena Toghopanãa, localizada na aldeia. 

Ela é uma das sete mulheres que participaram da formação.

"O cacique sempre disse que era importante os indígenas terem esse treinamento para cuidar da reserva porque até chamar o socorro às vezes demora", acrescenta. 

Os incêndios, que as autoridades atribuem majoritariamente à ação humana, são potencializados pela seca registrada em grande parte do Brasil. 

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Em algumas regiões remotas, como no Pantanal, as brigadas comunitárias são estratégicas no enfrentamento do fogo. 

"Acho importante ter uma brigada em um local onde o deslocamento de Corumbá [a cidade mais próxima] demora mais de dez horas [de barco], o que é agravado porque o rio Paraguai está com a profundidade muito baixa" devido à seca, explica à AFP Márcio Yule, coordenador do PrevFogo/Ibama no Mato Grosso do Sul. 

"É importante ter gente treinada e equipada para fazer o primeiro combate até a chegada das brigadas contratadas, do corpo de bombeiros", continua, ressaltando que os Guató receberam equipamento de proteção individual e ferramentas para o combate às chamas, que ficaram na aldeia. 

O Pantanal é um dos biomas mais afetados pelos incêndios que assolam o país, com 13.141 focos registrados entre 1/01/24 e 6/10/24 - 1.270% a mais que no mesmo período de 2023, segundo o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Considerada a maior área úmida do planeta, o Pantanal se estende por parte do Brasil, Bolívia e Paraguai. No Brasil, ocupa 150.355 km2 em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 

Além da rica biodiversidade, o bioma abriga comunidades tradicionais, como quilombolas, ribeirinhos e povos indígenas, como Guató, Terena, Kadiwéu, entre outros.   

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mvv/ic

© Agence France-Presse

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