'Caso Hermosilla': o escândalo que abala a elite chilena

Um áudio vazado para a imprensa no Chile provocou o maior escândalo de corrupção desde o retorno da democracia em 1990. O caso "Hermosilla" atingiu há 11 meses a elite política, empresarial e judicial de um país valorizado internacionalmente por sua transparência.

- Gênese -

Em novembro do ano passado, o veículo investigativo Ciper divulgou o áudio de uma conversa gravada sem ordem judicial entre o renomado advogado Luis Hermosilla, sua colega Leonarda Villalobos e o empresário Daniel Sauer, investigado por fraude. 

"Aqui estamos cometendo um 'hueva' (algo) que é um crime", ouve-se Hermosilla dizer sobre o pagamento de subornos para salvar Sauer da prisão. 

A Justiça apreendeu o telefone do advogado. A imprensa teve acesso ao conteúdo e o escândalo foi crescendo aos poucos. 

Quase um milhão de páginas de transcrições revelam os vínculos do advogado com a elite política, econômica e judicial, e as suas manobras para distorcer a justiça em benefício dos seus poderosos clientes.

O caso Hermosilla "nos mostra como uma parte da elite resolve certos problemas e como administra os interesses econômicos. Nesses esforços há muita trapaça, tráfico de influência e corrupção", explica à AFP Nicolás Sepúlveda, jornalista investigativo que revelou a trama. 

O escândalo desencadeou um terremoto político e é comparado ao gerado pela Odebrecht, a gigante brasileira da construção que obteve contratos públicos milionários em vários países em troca de financiar políticos ilegalmente.

"É o maior caso de corrupção da história recente do nosso país, uma rede muito profunda de corrupção de colarinho e gravata que tem buscado corromper diferentes instituições do Estado", descreveu Camila Vallejo, porta-voz do governo do esquerdista Gabriel Boric que até agora não parece envolvido no caso.

- Danos -

Doze pessoas estão sendo investigadas. Os três protagonistas do áudio estão presos, além do ex-chefe da Polícia Civil, Sergio Muñoz, acusado de fornecer informações sigilosas. 

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A juíza do Supremo Tribunal, Ángela Vivanco, foi destituída do cargo na quinta-feira por seus vínculos com o advogado e agora enfrenta um julgamento de impeachment no Congresso, que pode inabilitá-la para cargos públicos. 

Jean Pierre Matus, membro do tribunal superior composto por 21 juízes, também enfrenta um processo de destituição por possível tráfico de influências. 

O caso abalou as fibras de um país que, segundo a ONG Transparência Internacional, é o 29º do mundo e o segundo da América Latina com menos corrupção. 

- Danos políticos - 

As mensagens reveladas com o caso Hermosilla - assessor do governo do direitista Sebastián Piñera na época - mostram que Guerra atuou em conjunto para encerrar o caso em 2018.

"Nos 25 anos de existência do Ministério Público não houve acusação de corrupção desta magnitude contra uma autoridade tão relevante", reconheceu o procurador nacional, Ángel Valencia. 

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As farpas também atingem o falecido ex-presidente Piñera. 

Andrés Chadwick, primo e ex-ministro do Interior dos seus dois governos (2010-2014/2018-2022), e um dos melhores amigos de Hermosilla, é mencionado repetidamente nas mensagens. 

O ex-ministro foi convocado para depor. Acredita-se que ele poderia ter liderado as operações realizadas pelo advogado. 

Nas mensagens com o ex-promotor Guerra é revelado que ele também forneceu informações sobre dois processos judiciais que investigavam os investimentos de Piñera e que foram encerrados sem acusação. 

"O escândalo gerou danos transversais ao sistema político chileno, fortemente afetado por uma crise de confiança que vem se tornando cada vez mais intensa desde 2010", afirma o cientista político Marcelo Mella.

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© Agence France-Presse

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