Assim como em 2020, campanha de desinformação toma conta das eleições nos EUA

Quatro anos após uma campanha presidencial repleta de desinformação, os americanos encaram este cenário mais uma vez.

Com teorias conspiratórias já fervilhando na acirrada disputa entre Donald Trump e Kamala Harris, espera-se que a contagem de votos dure dias e alimente as acusações de fraude eleitoral.

Usuários das redes sociais em estados como Texas já estão comentando sobre erros nos sistemas de votação antecipada como prova de que estas eleições serão irregulares.

O ex-presidente republicano também acusou repetidamente os democratas de "importarem" imigrantes para que votem ilegalmente em Kamala no dia da eleição, em 5 de novembro.

Em 2020, Trump negou sua derrota eleitoral para Joe Biden e afirmou que havia vencido, uma alegação infundada que o magnata continua repetindo até hoje.

Apesar de ter sido desmentida reiteradamente, 8 em cada 10 republicanos apoiam a versão de que imigrantes irregulares poderiam ajudar a colocar Kamala na Casa Branca, segundo uma pesquisa recente da iniciativa multiuniversitária Bright Line Watch.

"É o mesmo roteiro de 2016 e de 2020", disse Lisa Deeley, vice-presidente dos Comissionados da Cidade da Filadélfia, Pensilvânia.

Contribuem para o burburinho uma série de apoios falsos de celebridades, vídeos de eventos de campanha enganosamente editados e sátiras que se fazem passar por notícias reais.

Também sobram teorias da conspiração sobre dois supostos atentados contra Trump durante a campanha. Mais de um terço dos democratas acredita que estes ataques foram uma farsa, segundo a Bright Line Watch.

Continua após a publicidade

As eleições de 2020 foram manchadas por acusações falsas sobre máquinas de votação hackeadas ou mortos que haviam votado. Esse clima culminou com o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio por apoiadores de Trump.

Apesar de nenhum tribunal ou auditoria ter revelado evidências de fraude generalizada, os especialistas preveem uma avalanche de falsidades semelhantes às de quatro anos atrás e imagens geradas por inteligência artificial, além de declarações prematuras de vitória.

"Uma informação errônea que é absolutamente previsível é a falsa impressão de que deveríamos saber na noite da eleição quem ganhou e que algo está errado se não soubermos", disse Justin Levitt, professor de direito na Universidade Loyola Marymount.

"Previsões são apenas isso. E se demoram um pouco mais, não é um sinal de que as coisas não funcionaram, mas de que estão funcionando".

- "Um pouco ridículo" -

A última eleição presidencial foi a mais segura da história dos Estados Unidos, segundo a Agência de Segurança de Infraestrutura e Cibersegurança.

Continua após a publicidade

Das dezenas de milhões de votos emitidos em 2020 e durante as eleições de meio de mandato de 2022, apenas algumas poucas foram condenadas por fraude, segundo uma base de dados mantida pela conservadora Heritage Foundation.

Estudos compilados pelo Centro Brennan para a Justiça, que revisou casos de fraude anteriores a 2020, também afirmam que as irregularidades são raras.

Quem comete esses crimes enfrenta duras penalidades, como multas de milhares de dólares ou até penas de prisão.

"Com todos os olhares voltados para as eleições nesses dias, a ideia de que haveria uma fraude eleitoral generalizada é um pouco ridícula", disse Charles Stewart, diretor do Laboratório Eleitoral do Instituto Tecnológico de Massachusetts.

- Proteger o voto -

Todos os estados implementaram medidas de segurança para cada etapa do processo de votação.

Continua após a publicidade

No condado de Maricopa, no Arizona, que Biden conquistou dos republicanos em 2020, os votos por correspondência passam por uma rigorosa verificação de assinaturas por equipes bipartidárias, disse à AFP a subdiretora eleitoral Jennifer Liewer.

Quem vota antecipadamente pode acompanhar sua cédula "a cada passo do caminho".

Existem procedimentos rigorosos de cadeia de custódia para as cédulas, e muitas jurisdições transmitem a contagem ao vivo, como o condado de Fulton, na Geórgia, outro estado-pêndulo.

"Queremos garantir que as coisas sejam abertas, que o público possa vir e ver, e não permitir que ninguém publique um vídeo com narrativas falsas", disse Nadine Williams, diretora de registro e eleições.

Àqueles que ainda têm dúvidas sobre o processo, Deeley, dos Comissionados da Cidade da Filadélfia, recomenda se envolverem mais e se oferecerem como funcionários eleitorais. "Assim, eles poderão ser participantes de sua própria democracia", afirmou.

df/adm/st/dg/dga/jb/aa

Continua após a publicidade

© Agence France-Presse

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.