'Disseram para me matar se ameaçassem estupro', diz sobrevivente da guerra do Sudão

A ONU publicou na terça-feira (12) relatos comoventes de mulheres e meninas que fugiram da violência no Sudão, país africano que é cenário de uma guerra.

Em meio a uma dramática escalada de violência, ao menos 124 civis foram assassinados estado central de Al Jazira desde 20 de outubro, enquanto outros 135.000 fugiram para outras províncias, informou o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Entre as pessoas que fugiram, 3.200 são mulheres grávidas, segundo o UNFPA.

A guerra, um conflito entre dois generais respectivamente no comando do exército oficial e das forças paramilitares, provocou milhares de mortes desde abril de 2023 e o deslocamento de mais de 11 milhões, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O UNFPA citou o ministro da Saúde de Al Jazira, que mencionou relatos preliminares de 27 mulheres, dos 6 aos 60 anos, que foram estupradas ou agredidas no estado.

"Os casos são uma pequena parte da violência sexual generalizada na região", afirma um comunicado da agência.

Uma das histórias contadas pelo órgão fala sobre uma mulher que foi avistada pelos criminosos ao sair de casa para buscar comida.

"Dois soldados vieram checar quem ainda estava morando ali. Eles bateram na minha porta e perguntaram se tinha mais alguém comigo. Com medo, falei que estava sozinha. Eles pareciam estar procurando por guerreiros, então saíram", contou.

A mulher, que não teve o nome real divulgado, contou que os dois voltaram depois para cometer a violência sexual por dias, deixando-a sob a mira de uma arma. "Eles apontaram uma arma para mim. Falaram para eu não gritar nem falar nada", lembra. Ela fugiu do país com ajuda de uma amiga e nunca contou sobre o abuso para familiares.

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Também menciona uma menina, não identificada, em um campo para pessoas deslocadas que disse que deveria cometer suicídio para evitar o estupro.

"Meus parentes homens, incluindo irmãos, tios e pai, nos deram facas e disseram para que tirássemos nossas vidas se os combatentes armados ameaçassem nos estuprar", disse.

"As sobreviventes da violência sexual fogem e se escondem porque suas famílias ameaçaram acabar com suas vidas para apagar a desonra", acrescentou a agência da ONU.

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