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'Eu era o otário do governo; eu era o bobo da corte', diz Odebrecht

O empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso pela Operação Lava Jato, em foto de arquivo - Heuler Andrey/AFP
O empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso pela Operação Lava Jato, em foto de arquivo Imagem: Heuler Andrey/AFP

Em Brasília

02/03/2017 07h38Atualizada em 03/03/2017 00h38

No depoimento que prestou nesta quarta-feira (1º) à Justiça Eleitoral, o empresário Marcelo Odebrecht disse que se sentia o "bobo da corte" do governo federal. Ao falar sobre a situação da empreiteira baiana que leva seu sobrenome, o ex-presidente do conglomerado demonstrou descontentamento por ser obrigado a entrar em projetos e empreendimentos que não desejava e bancar repasses às campanhas eleitorais, sem receber as contrapartidas que julgava necessárias.

Marcelo Odebrecht declarou que mantinha contato frequente com o alto escalão do governo - como Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff, com quem disse negociar repasses a campanhas eleitorais.

"Eu não era o dono do governo, eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo", afirmou Marcelo Odebrecht, segundo relatos colhidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

O conteúdo do depoimento de Odebrecht está sob sigilo. A versão oficial só será divulgada pelo TSE após o STF (Supremo Tribunal Federal) liberar o conteúdo das 77 delações de ex-executivos da Odebrecht, homologadas pela Justiça em janeiro. A ação em curso no TSE foi aberta a pedido do PSDB contra a chapa Dilma/Temer. A ação pode levar à perda de mandato do presidente Michel Temer (PMDB).

Divergência com o pai

O empresário também se mostrou incomodado por divergências com seu pai, patriarca e presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht, Emílio Odebrecht, na forma de apoio ao governo.

No depoimento, Marcelo Odebrecht falou com "naturalidade" do caixa 2 nas campanhas eleitorais, defendeu a legalização do lobby e disse que a Odebrecht não era a única empresa a usar doações para conquistar apoios políticos. Segundo ele, o uso de dinheiro de caixa 2 em campanhas eleitorais é algo "natural", mas que, de alguma forma, envolve também o pagamento de propinas.

Condenação

Em março do ano passado, Marcelo Odebrecht foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro - que conduz a Operação Lava Jato na primeira instância da Justiça - a 19 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa no esquema de desvios na Petrobras. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".