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Questão tão grave como impeachment não pode ser avaliada no drive-thru, diz Maia

Rodrigo Maia negou que tenha engavetado os pedidos de impeachment - Renato Costa/Folhapress
Rodrigo Maia negou que tenha engavetado os pedidos de impeachment Imagem: Renato Costa/Folhapress

Igor Gadelha

Em Brasília

24/05/2017 13h01Atualizada em 24/05/2017 16h04

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou nesta quarta-feira (24) que tenha engavetado os pedidos de impeachment do presidente Michel Temer protocolados na Câmara, com base na delação premiada da JBS. Segundo ele, uma questão "tão grave como essa não pode ser avaliada num drive-thru".

"Eu não posso avaliar uma questão tão grave como essa num drive-thru. Não é assim. Não é desse jeito. Quanto tempo se discutiu, se passou aqui na crise do governo Dilma? As coisas não são desse jeito", afirmou o presidente da Câmara em entrevista à imprensa ao chegar à Casa.

Ontem, a Secretaria-Geral da Mesa Diretora registrou o 12º pedido de impeachment contra. Amanhã, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) deve protocolar mais um.

Maia disse que é preciso ter "paciência". "Estão dizendo que eu engavetei. Não tomei decisão. Não é uma decisão que se tome da noite para o dia", declarou hoje.

Ele reforçou, porém, mais uma vez, que, como presidente da Câmara, "não será instrumento para desestabilização do Brasil".

UNe na Câmara - Luciana Amaral/UOL - Luciana Amaral/UOL
Presidente da UNE, Carina Vital, fala sobre o pedido de eleições diretas
Imagem: Luciana Amaral/UOL

"Esse tem sido meu comportamento, de muita paciência, muita calma, tentando construir uma agenda de recuperação da crise econômica. Estou olhando para 2018 com Brasil podendo crescer 3%, 4%. E acho que, com esse olhar, preciso ter agenda que garanta essa possibilidade no ano que vem", afirmou Maia.

Na entrevista, o presidente da Câmara avaliou que a votação de terça-feira no plenário da medida provisória (MP) que autoriza saque de contas inativas do FGTS foi uma sinalização importante para o governo, mas também para sociedade de que a Casa está focada na recuperação econômica do país.

Abaixo-assinado

Representantes dos movimentos estudantis UNE (União Nacional dos Estudantes) e Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) entregaram a Maia um abaixo-assinado com 220 mil assinaturas pedindo a convocação imediata de eleições diretas.

O documento, formado por um abaixo-assinado de cada uma das duas entidades, foi entregue diretamente a Maia no gabinete da Presidência da Câmara. Eles pedem a renúncia do presidente da República seguida de eleições diretas.

Segundo a presidente da UNE, Carina Vital, o país vive uma grave crise política que se iniciou com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

"Agora, ao invés de superar a crise, estamos nos afundando nessa crise. De atalho em atalho, de impeachment ilegal, de eleições indiretas, a gente acaba afundando o país em uma crise. A saída por eleições indiretas não vai resolver o problema institucional", afirmou.

Ambos os grupos também são contra as reformas propostas pelo governo Temer, como a do Ensino Médio, da Previdência e trabalhista. Segundo Carina, as iniciativas colocam a conta "nas costas dos trabalhadores, dos estudantes e da juventude".

Segundo Carina, o gesto de Rodrigo Maia em receber o grupo de estudantes foi importante. "Sabemos que o deputado, pessoalmente, discorda, mas vai encaminhar para o conhecimento da Casa as 220 mil assinaturas recolhidas em apenas uma semana", acrescentou.

Senado inclui Diretas na pauta da CCJ

Senadores de oposição conseguiram na manhã desta quarta iniciar a tramitação de outra PEC, a 67/2016, que prevê eleições indiretas para presidente apenas se o mandatário deixar o cargo no último ano de mandato--e não nos dois últimos, como é hoje.

Assim, se a proposta for aprovada, uma eventual saída de Temer da presidência devido à atual crise política levaria a eleições diretas, com o eleito completando o restante do mandato até 2018. O novo pleito aconteceria em 90 dias após o afastamento do presidente.

A ideia anima a oposição por tirar do Congresso, dominado pela base governista, o poder de escolher um novo presidente em um momento em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece como líder em pesquisas de intenção de voto.

A proposta é de autoria do senador Reguffe (sem partido-DF) e tem como relator Lindbergh Farias (PT-RJ). Segundo o petista, os opositores abriram a tramitação da PEC na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado ao chegarem cedo e inverterem a pauta da reunião do órgão.

"Eles [base do governo] estão muito desorganizados, isso aqui hoje mostra. A base do governo já sabe que o Temer não vai aguentar. A gente conseguiu inverter a pauta, ler o relatório, conceder vista coletiva e sair com a votação marcada para quarta-feira. Eu sinceramente esperava mais dificuldades", disse o senador fluminense.

Após a leitura, houve pedido coletivo de vistas da PEC. Com isso, segundo Lindbergh, a proposta já será votada na CCJ na próxima quarta, e daí segue ao plenário do Senado. De lá, passaria à Câmara.

Para ser aprovada, uma PEC precisa de três quintos dos votos dos parlamentares (308 deputados e 49 senadores). A votação é realizada em dois turnos. No Senado, a tramitação exige ao menos oito sessões no plenário para a discussão da proposta. Lindbergh não deu uma estimativa de prazo para a análise completa da PEC 67 no Congresso

"Isso depende da coisa política, depende de rua, se tem mobilização", disse.

Um possível termômetro está nos protestos organizados por centrais sindicais e movimentos sociais contra Temer e as reformas propostas por seu governo, marcados para a tarde desta quarta em Brasília. A Esplanada dos Ministérios amanheceu isolada por grades, e o esquema de segurança no local foi reforçado.

Lindbergh negou que uma mudança nas regras eleitorais previstas na Constituição no atual momento poderia agravar a crise política.

"Eles não têm coragem de dizer o que eles pensam. O que eles pensam é: 'Ah, o povo não está preparado para votar'. Eles estão voltando com um argumento da época da ditadura", afirmou. "Eles não entenderam que a estabilidade só vem das urnas. Ganhe quem tiver mais votos, de um lado ou de outro."