Começa a obra do telescópio gigante
"O E-ELT produzirá descobertas que simplesmente nem podemos imaginar hoje, e certamente vão inspirar inúmeras pessoas em todo o mundo a pensar em ciência, em tecnologia e no nosso lugar no universo. Isso trará grandes benefícios aos países membros do ESO (European Southern Observatory, o consórcio europeu responsável pelo projeto e pela operação de vários outros telescópios de ponta no Deserto do Atacama), ao Chile e ao restante do mundo", disse o diretor-geral do ESO, Tim de Zeeuw, durante a cerimônia de lançamento da pedra fundamental do telescópio.
O local escolhido uma montanha de 3 mil metros chamada Cerro Armazones, cerca de 1.200 quilômetros ao norte de Santiago fica em uma região privilegiada para a astronomia. Um dos lugares mais áridos da Terra, o deserto chileno se beneficia de um céu noturno deslumbrante e límpido, quase sempre livre de nuvens, graças à baixíssima umidade do ar. No Cerro Armazones, são mais de 320 noites de céu claro por ano.
Segundo a presidente chilena, Michelle Bachelet, o país já é a "capital mundial da astronomia", concentrando três quartos das estruturas de pesquisa astronômica do mundo. "Trata-se de uma das maiores expressões da capacidade científica tecnológica e do potencial extraordinário da cooperação internacional", disse Bachelet na cerimônia de lançamento.
Nenhum equipamento é comparável em grandiosidade ao projeto do E-ELT. Seu espelho primário, o coração dos telescópios, terá 39 metros de diâmetro, uma medida sem precedentes. O Very Large Telescope (VLT), que fica a 20 quilômetros do Cerro Armazones e atualmente é o maior do mundo, tem espelhos de 8,2 metros.
Com a tecnologia avançada de seus espelhos, o E-ELT captará 13 vezes mais luz que o VLT. Embora seja construído na Terra, o telescópio será capaz de fornecer imagens 16 vezes mais nítidas que o Telescópio Espacial Hubble, graças à tecnologia avançada de óptica adaptativa.
Um dos principais objetivos científicos é a captura de imagens de exoplanetas, que são os planetas existentes fora do Sistema Solar, na órbita de outras estrelas.
Com custo previsto de aproximadamente ? 1,2 bilhão, o projeto do E-ELT originalmente conta com a participação do Brasil para sua construção e operação. Para ser sócio do consórcio, porém, o País precisa tornar-se membro efetivo do ESO, que é composto por 15 nações europeias e pelo Chile, que participa como país-sede. O processo de adesão do Brasil ao ESO, porém, tornou-se uma novela que já se arrasta há sete anos.
Para que o Brasil se torne membro efetivo, é preciso pagar a taxa de adesão, que naquele ano era calculada em ? 132 milhões parcelados em dez anos, além de uma anuidade de ? 20 milhões. Como a taxa de adesão é proporcional ao PIB do país, com a crise econômica, o ESO deu um desconto ao Brasil e a taxa caiu para pouco mais de ? 100 milhões, segundo o diretor-geral do consórcio, Tim de Zeeuw. Mesmo assim, o País ainda não aderiu.
"Todos vemos nos jornais que a condição política do Brasil é muito complicada e me parece óbvio que assinar com o ESO não é uma prioridade, o que é compreensível. Acredito, porém, que o Brasil ainda entrará no consórcio. Isso será bom para o País, que tem uma comunidade científica cada vez maior", disse Zeeuw ao Estado. Hoje, participam do ESO Áustria, Bélgica, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Itália, Holanda, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça e Grã-Bretanha.
A bandeira do Brasil ainda está fincada no Deserto do Atacama. Resta saber até quando.
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