Mangueira zombará de corte de verba da prefeitura do Rio em desfile
Carnavalesco que foi sensação do carnaval carioca, Leandro Vieira, autor do enredo, vem dando declarações públicas críticas a Crivella, diferentemente de seus pares e dos presidentes das escolas, que tradicionalmente procuram não bater de frente com a prefeitura. O prefeito é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, que condena o carnaval como "festa da carne". Ele alegou que precisava da verba do carnaval para investir em creches municipais.
Segundo Vieira, "a Mangueira fará um carnaval sem hipocrisias e livre do bom-mocismo, que questiona não apenas um prefeito que 'vilaniza' o carnaval, os desfiles, e as manifestações espontâneas plurais usando argumentos demagogos, mas que também coloca em cheque o atual modelo em que os desfiles das Escolas estão inseridos."
Ele busca a reaproximação das escolas do público, que vem perdendo os interesses nos desfiles nos últimos anos. Um dado disso é o tom dos comentários de apoio à medida do prefeito, que classificam a apresentação como algo supérfluo. "O 'divórcio' entre a sociedade carioca e as agremiações tornou-se público em função dos acontecimentos recentes. O desfile que começo a realizar para o carnaval de 2018 joga o carnaval e o modelo dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro no ventilador", disse o carnavalesco. O modelo a que ele se refere é o do desfile-espetáculo, com largo uso de tecnologia e pirotecnia, hoje hegemônico, e que requer grande quantidade de recursos.
Vieira foi campeão pela Verde e Rosa em 2016, com um desfile sobre a religiosidade da cantora baiana Maria Bethânia. Aos 34 anos, ele é o mais jovem do sambódromo. Em sua explicação, o carnavalesco lembra que o título do enredo de 2018 saiu da marchinha "Eu brinco", dos anos 1940.
Ela foi composta como forma de ironizar a redução de verbas para o carnaval pelas autoridades, conforme registros da imprensa da época. A música diz: "Com pandeiro ou sem pandeiro/Ê, ê, ê, ê, eu brinco/ Com dinheiro ou sem dinheiro/Ê, ê, ê, ê, eu brinco (...) Tudo se acaba na vida/Morena querida/ Se o meu dinheiro acabar/ Com dinheiro ou sem dinheiro, meu amor, eu brinco".
"O enredo que proponho agora é eminentemente crítico. Não apenas ao bispo, que asfixia manifestações plurais nas quais o carnaval e os desfiles assumem destaque e ganham exposição na mídia, mas também ao distanciamento das escolas e do desfile da sociedade como um todo", disse. "É uma possibilidade do discurso das escolas voltar a se alinhar com a atualidade e levantar questões culturais, mesmo que para isso ela tenha que colocar o dedo em suas próprias feridas", justificou o carnavalesco da Mangueira.
Crivella se reuniu com dirigentes das agremiações semana passada e ratificou o corte de verbas. Ao anunciar que ajudaria a buscar recursos no setor privado, ele brincou: "Demos o primeiro passo para um acordo. Fundamos o bloco 'É conversando que a gente se entende'". O prefeito marcou uma nova reunião para esta semana, mas depois desmarcou.
Na reunião, ele listou os investimentos no sambódromo, como a substituição da iluminação para lâmpadas de LED, a instalação de telões e reparos necessários para 2018, como a reforma de 36 banheiros e dos assentos das arquibancadas - o que custará R$ 1,1 milhão, informou. A secretária Municipal de Fazenda, Maria Eduarda Gouvêa Berto, apresentou números e citou o déficit no orçamento municipal de R$ 3,8 bilhões.
O presidente da Riotur, Marcelo Alves, por sua vez, destacou que pretende aumentar o lucro municipal com os desfiles, comparando-o ao Rock in Rio, festival realizado em setembro. "O desfile das escolas de samba precisa se atualizar num grande projeto de marketing. As grandes marcas querem estar no carnaval. A festa na Sapucaí tem 10 vezes mais potencial de faturamento que o Rock in Rio. Temos que buscar juntos uma solução", ele disse. Os dirigentes deixaram a reunião dizendo-se otimistas, e que ainda buscavam uma solução que não penalizasse as escolas.
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