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'Brigada venezuelana' vai para as ruas de SP

Juliana Diógenes

São Paulo

27/10/2018 08h58

Após seis meses em São Paulo, fazendo bicos, o eletricista venezuelano Willian José Sotillo, de 60 anos, vai começar a trabalhar em um emprego fixo. Ele e outros 27 conterrâneos vão atuar na limpeza urbana da capital paulista a partir de segunda-feira. Sotillo diz não se importar com a mudança de área. "Sempre tive muita sorte na vida. Vou ter um trabalho fixo e poder pagar as passagens para trazer a minha família."

Eles vão receber R$ 1.180 por 44 horas semanais - o que corresponde a R$ 20,7 mil bolívares venezuelanos. Os 28 contratados vão trabalhar na região de seis subprefeituras: Vila Maria-Vila Guilherme, Freguesia do Ó-Brasilândia, Santana-Tucuruvi, Casa Verde e Jaçanã-Tremembé (na zona norte) e Penha (na zona leste). A iniciativa faz parte do programa Trabalho Novo, que, até agora, empregou 2.522 pessoas. Desses, 81 são da Venezuela.

A possibilidade de ter um trabalho fixo também é o que motiva Angela Daniela Guacaran, de 23 anos, a única mulher entre os 28 venezuelanos contratados. Em Maracay, onde morava com a família, ela estudava Engenharia Elétrica e trabalhava como vendedora. "Tive de parar de estudar para trabalhar mais um turno e conseguir dinheiro para comprar comida. Com o salário que ganhava lá, bancar saúde e comprar roupa não dava."

Desde abril, mais de 2,8 mil refugiados da Venezuela foram levados pelo governo federal para outros Estados, por meio do processo de interiorização. A iniciativa foi criada para ajudar os migrantes a buscar oportunidades em outras localidades do País. São Paulo foi a cidade que recebeu o maior número deles: 510. A maioria foi abrigada no Centro Temporário de Acolhimento (CTA) de São Mateus, na zona leste. Lá foram acolhidos 193 imigrantes. No abrigo Missão Paz, no Glicério, foram abrigados 88.

Sotillo chegou a ficar abrigado no CTA e hoje mora com a filha de 18 anos, que chegou há um mês, próximo de Cidade Tiradentes, na zona leste da cidade. Agora, ele se prepara para a chegada do outro filho de 17 anos, e da mulher, que está com câncer no útero. A família morava em Barcelona, município da Venezuela, onde ele trabalhava com resíduos sólidos - anteriormente, havia sido eletricista. "Decidi vir ao Brasil depois que a minha mulher descobriu um câncer no útero. Serviços de saúde na Venezuela estão caríssimos."

Português

De acordo com a Prefeitura, a iniciativa atende a uma reivindicação por trabalho dos próprios imigrantes. Os participantes são atendidos nos centros de acolhimento e passam por capacitação socioemocional, antes de serem encaminhados aos trabalhos. Um curso de português será oferecido pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo.

Embora Angela ainda não saiba falar português, ela quer logo retomar os estudos que interrompeu na Venezuela para poder vir ao Brasil. Por isso, matriculou-se no curso de Engenharia Elétrica. Enquanto reorganiza a vida, vai estudar e trabalhar.

Desde que chegou, há um mês, Angela está morando de favor na casa de uma amiga da igreja. O namorado mora no CTA de São Mateus. A família dele está em Manaus, e a dela, na Venezuela. O objetivo agora é juntar dinheiro e reunir todos novamente na mesma cidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.