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Para aliados, decisões que impediram Lula de ir a funeral reforçam 'perseguição'

Ricardo Galhardo

São Paulo

30/01/2019 22h22

A série de decisões da Justiça, Ministério Público Federal e Polícia Federal que inviabilizaram nesta quarta-feira, 30, a ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao funeral de seu irmão Genivaldo Inácio da Silva, o Vavá, serviu de base para que aliados, familiares e o próprio Lula reforçassem o discurso de perseguição política.

"Não deixaram que eu me despedisse do Vavá por pura maldade", disse Lula de manhã ao saber que a Justiça havia impedido a ida ao funeral. "Não posso fazer nada porque não me deixaram ir. O que eu posso fazer é ficar aqui e chorar", lamentou o ex-presidente segundo relato da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, à Agência PT de Notícias.

Vavá foi sepultado às 13h no cemitério da Paulicéia, em São Bernardo, onde também está enterrada a mãe de Lula, Eurídice Ferreira de Melo, a dona Lindu.

Lideranças petistas como Gleisi, os ex-ministros Gilberto Carvalho, Luiz Marinho e Aloizio Mercadante, os deputados Paulo Pimenta, Carlos Zarattini e Paulo Teixeira, companheiros das greves no ABC como Djalma Bom e Juno Rodrigues Silva, o Gigio, além dos filhos, irmãos e outros parentes de Lula acompanharam a cerimônia que teve gritos de "Lula Livre".

Embora houvesse desde o início do dia a expectativa de o Supremo Tribunal Federal (STF) poder liberar a ida de Lula, em momento algum a família chegou a cogitar adiar o funeral.

A notícia de que o ministro Dias Toffoli havia autorizado que o corpo de Vavá fosse levado até uma base militar chegou quando o cortejo já havia saído da capela rumo ao túmulo onde o irmão do ex-presidente foi enterrado e só fez aumentar a indignação. No Twitter, as hashtags #LulaPresoPolitico e #Toffoli seguem na lista dos Trending Topics brasileiros, ou assuntos mais comentados do dia.

"É uma situação ridícula. Em todo país civilizado onde há democracia e até em zonas de conflito sempre se respeitou os mortos", disse José Gomes da Silva, o Frei Chico, irmão mais velho e responsável por iniciar o ex-presidente na política sindical. "A verdade é que eles têm medo de Lula. Estão destruindo todo resquício de solidariedade humana no Brasil", completou.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Frei Chico disse que Vavá morreu pedindo para ver Lula. Parentes lembraram que em 1980 o então líder sindical preso por comandar as históricas greves de metalúrgicos de 1978, 1979 e 1980 foi autorizado a visitar dona Lindu no hospital e comparecer ao funeral da mãe em plena ditadura militar.

"Já na dita democracia Lula foi impedido de ir ao enterro de Sigmaringa Seixas (advogado petista morto em dezembro) sob o argumento de que não havia parentesco e agora soltam a decisão durante o sepultamento. Fica cada vez mais claro que Lula é um preso político, um cidadão isolado na condição de refém do Estado", disse Edson Inácio da Silva, filho de Vavá.

Os filhos de Lula presentes ao enterro rejeitaram de pronto as condições apresentadas pelo STF para que o ex-presidente visitasse a família ainda nesta quarta. Informados sobre a exigência de que o encontro fosse em uma base militar, disseram que estavam querendo levá-los para "o campo do inimigo".

Lideranças petistas enxergaram nas exigências - que incluíam a proibição de celulares e da imprensa no local do encontro - sinais claros de que os responsáveis pela decisão não estavam preocupados com a segurança ou logística da operação mas. Na verdade, quiseram impedir imagens e declarações públicas do ex-presidente.

"Lula não pode ser visto nem ouvido. A decisão saiu no meio do sepultamento. Queriam o que? Que tirassem o corpo do túmulo? Isso é um escárnio", disse o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS). "Lula saiu da condição de preso político para a de refém", completou o deputado.

Para o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, a decisão de Toffoli, embora inócua do ponto de vista prático, serviu para mostrar que a juíza Carolina Lebbos, que proibiu a ida do ex-presidente ao velório com base em pareceres do MPF e da PF, violou um direito do ex-presidente.

"Se a juíza de primeira instância tivesse tido o bom senso do ministro Toffoli, Lula teria tido a oportunidade de se despedir do irmão", disse ele.

Lebbos também foi alvo de críticas por parte de Gleisi, que lembrou decisões recentes tomadas pela juíza com o intuito de restringir a visita de líderes religiosos e advogados, entre eles o próprio integrante do partido, Fernando Haddad.

O principal alvo de críticas foi o ministro da Justiça, Sérgio Moro, responsável pela primeira condenação de Lula e chefe da PF.

"A juíza tinha que simplesmente despachar, mas não, consultou o MPF e a PF que é subordinada ao Moro. Em última instância ela, que é substituta do Moro, delegou a decisão ao próprio Moro", disse Pimenta.

Em mensagem publicada nas redes sociais, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, candidato derrotado à presidência em 2018, disse que "sinceramente, entendo que a relação com Lula, que nunca foi jurídica, transbordou do político e se tornou pessoal".

Desde que a defesa de Lula pediu autorização para que o ex-presidente fosse ao velório de Vavá, aliados do petista iniciaram gestões políticas para viabilizar o pedido que incluíram até adversários como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). O vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) chegou a mandar uma mensagem diretamente ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). No início da noite, João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra, ligou para o vice-presidente da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o "Juruna", que por sua vez acionou o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), amigo de Maia. As gestões, no entanto, não surtiram efeito.