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Após Planalto, planos de Temer incluíam livro e filme

Pedro Venceslau e Fausto Macedo

São Paulo

22/03/2019 11h15

O ex-presidente Michel Temer percebeu nesta quinta-feira, 21, que seu dia seria atípico quando viu pela janela de sua casa, no Alto de Pinheiros, bairro nobre da zona oeste de São Paulo, que um pequeno grupo de jornalistas estava na calçada.

Fazia tempo que isso não acontecia. Falando por celular, ele comentou o fato com o marqueteiro Elsinho Mouco e o jornalista Márcio Freitas, ambos amigos que foram auxiliares nos tempos de Palácio do Planalto.

Rumores sobre uma possível ação da Polícia Federal já circulavam em grupos de WhatsApp desde o dia anterior, mas ninguém no entorno do emedebista imaginava que ele pudesse ser detido na rua por policiais fortemente armados a cerca de 700 metros de casa.

"A gente tinha uma reunião às 11 horas. A imprensa chegou na casa dele antes da Polícia Federal", disse Mouco ao jornal O Estado de S. Paulo. Ao questionar a motivação da prisão preventiva, o publicitário relatou que Temer tinha uma rotina absolutamente previsível desde que deixou o poder. Recebia visitas de autoridades, políticos, jornalistas e amigos em seu escritório, na Rua Pedroso Alvarenga, no Itaim. Era lá também que fazia longas reuniões com seus advogados para destrinchar os processos nos quais está envolvido.

O ex-presidente dizia para seus interlocutores com orgulho que continuava frequentando seus restaurantes preferidos sem ser hostilizado. Geralmente almoçava no La Tambouille da Avenida Nove de Julho, no Gero, na Rua Haddock Lobo, ou no Parigi, na Rua Amauri.

Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Temer foi visto na terça-feira passada, dia 19, almoçando no Parigi com o empresário Toninho Abdalla. Na ocasião, cumprimentou e foi cumprimentado por vários clientes da casa.

Nesta quinta-feira, antes de ser preso, tinha agendado almoço com um velho amigo constitucionalista.

"Ele estava absolutamente tranquilo, com um humor ótimo e levando a vida normalmente. Essa prisão me assustou", disse o jurista Adilson Dallari, um dos mais próximos amigos do ex-presidente. Advogado constitucionalista, Temer não acreditava que seria preso. "Não há nenhuma justificativa para a prisão do Michel", afirmou Dallari.

Em entrevista ao Estado em dezembro do ano passado, o ex-presidente foi questionado sobre a possibilidade de uma prisão preventiva após deixar o poder e perder o foro privilegiado. "Não tenho a menor preocupação. Zero. Começou uma onda de que eu teria assinado o decreto (dos Portos) para favorecer uma empresa chamada Rodrimar. Mandaram uma certidão e essa empresa não é beneficiada. A rigor, o que deveria ter sido feito com esse inquérito?", questionou na ocasião.

Documentário

Segundo amigos, Temer tinha planos de escrever um romance, um livro sobre sua passagem pela Presidência da República e estava gravando com Elsinho Mouco um documentário chamado O Brasil de Temer. Ele ainda comentava com os mais próximos ter disposição para voltar a escrever livros sobre Direito Constitucional, sua especialidade.

Nos fins de semana viajava com a família para Tietê ou Itu, onde passou o carnaval em um condomínio. Temer tinha decidido sair de vez da política e recusou até um convite para reunião do MDB em Brasília. "Ele não falava em fazer política. Pelo contrário, dizia que já tinha cumprido sua missão, afirmou Dallari.