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Defesa Civil de Maceió interdita quarteirões em bairro que está afundando

Edifícios do bairro do Pinheiro, em Maceió (AL), foram evacuados e estão em área isolada por risco de desabamento - Divulgação/Ascom Defesa Civil
Edifícios do bairro do Pinheiro, em Maceió (AL), foram evacuados e estão em área isolada por risco de desabamento Imagem: Divulgação/Ascom Defesa Civil

Paula Felix

São Paulo

23/11/2019 10h40

A Defesa Civil de Maceió anunciou nesta sexta-feira, 22, que vai interditar uma área de dois quarteirões no bairro do Pinheiro, que apresenta rachaduras e afundamento desde o ano passado, por causa do risco de desabamento de cinco prédios de um condomínio residencial. As fissuras atingem quatro bairros da capital alagoana e afetam mais de 40 mil pessoas.

O bloqueio será no entorno do conjunto Jardim Acácia e vai entrar em vigor neste sábado, 23. Por tempo indeterminado, veículos não vão poder circular pelo trecho interditado.

"São prédios muito antigos, com 50 anos, que estão em situação precária. Os engenheiros detectaram que esses imóveis estão com risco iminente de desabamento e a recomendação foi aumentar o perímetro de isolamento", explica Dinário Lemos, coordenador-geral de Proteção e Defesa Civil de Maceió.

No mês passado, o órgão chegou a abordar a necessidade de demolição dos cinco blocos, desocupados desde junho.

Segundo Lemos, seria a solução mais adequada diante da situação. "O ideal seria que fosse demolido para a gente tirar o risco de desabar."

O relatório do órgão, segundo nota divulgada em seu site, informa que os prédios "passaram do estado limite de deformação e encontram-se colapsados e sem funções, com grandes riscos de tombamento iminente".

Presidente do SOS Pinheiro, associação de moradores do bairro, o administrador de empresas Geraldo Vasconcelos, de 55 anos, diz que a notícia da interdição abalou a população do bairro.

"Essa área é o coração do Pinheiro. Tem um supermercado com restaurante próprio, que é um ponto de encontro, farmácia, depósito de bebidas. Os moradores estão muito apreensivos. Já teve a informação de que a Braskem vai fazer a retirada de 1,5 mil pessoas, mas é um plano de evacuação muito aquém da situação."

Nesta semana, a petroquímica Braskem informou que vai remover moradores de 400 imóveis dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. A empresa criou ainda uma zona de resguardo em torno de 15 poços de extração de sal-gema de propriedade da companhia.

A petroquímica já tinha apresentado à Agência Nacional de Mineração (ANM) o anúncio de encerramento de suas atividades de extração de sal-gema, matéria-prima na fabricação de soda cáustica e PVC, e fechamento de poços em Maceió.

Rachaduras

Em fevereiro de 2018, após fortes chuvas, rachaduras começaram a aparecer em dezenas de imóveis do bairro do Pinheiro. Em 3 de março, foi registrado abalo sísmico no local.

Um relatório divulgado em maio pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apontou a extração de sal-gema realizada pela empresa como a principal causa do afundamento que atinge os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto. A Braskem afirma que, até o momento, a relação não está estabelecida.

A situação fez com que a prefeitura de Maceió decretasse estado de calamidade pública. Em setembro deste ano, a gestão municipal incluiu o bairro do Bom Parto no decreto. A estimativa da gestão municipal é de que mais de 40 mil pessoas foram afetadas pelo problema. Atualmente, mais de 2 mil famílias que já deixaram suas casas recebem auxílio-moradia de R$ 1 mil concedido pelo governo federal.

Em nota, de julho de 2019, a Braskem informou que o documento elaborado pelo CPRM apresenta "inconsistências técnicas relevantes e a falta de uma solução definitiva que garanta a segurança aos moradores dos bairros afetados".

Em setembro, também em nota, a empresa disse que "instituições de estudo geológico e especialistas do Brasil e do exterior" apontam "inconsistências de metodologias usadas na elaboração do Relatório Síntese da CPRM".

Em nota de outubro, a Braskem informou seguir "empenhada em contribuir com as autoridades na identificação das causas e das soluções e tem cooperado com a adoção das medidas emergenciais necessárias definidas em Termo de Cooperação com os Ministérios Públicos Estadual e Federal, Município de Maceió e Crea-AL (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia)". A empresa ainda disse reafirmar "seu comprometimento e sua atuação responsável com as pessoas de Alagoas, onde atua há mais de 40 anos".

Errata: este conteúdo foi atualizado
A sigla CREA significa Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, e não Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura como foi escrito na primeira versão do texto. O erro foi corrigido.