Mandetta, o ministro de Bolsonaro que provoca ciúmes no Planalto
Com a crise do coronavírus, o ministro filiado ao DEM do Mato Grosso do Sul vem ganhando holofotes e tem despertado ciúmes no Palácio do Planalto. Pesquisas e monitoramentos de redes sociais indicam que Bolsonaro perdeu popularidade após o avanço da doença, enquanto Mandetta ganhou.
No domingo, o titular da Saúde provocou polêmica ao sugerir o adiamento das eleições de outubro. No Congresso, a proposta dividiu deputados e senadores, mas o fato é que Mandetta tocou em um tema já tratado nos bastidores pelas cúpulas dos partidos.
Ao contrário dos tempos de Congresso, quando tinham afinidade na oposição ao PT, Bolsonaro e Mandetta, agora, parecem bater cabeça. Na sexta-feira, enquanto o presidente falava em "gripezinha", o ministro previa um "colapso" no sistema de saúde no final de abril.
Bolsonaro tem se queixado de que, muitas vezes, o discurso de Mandetta provoca pânico na população e cobra a mudança de tom. Preocupado com o reflexo da crise na economia e, como consequência, na sua popularidade, o presidente quer que Mandetta e outros auxiliares façam pronunciamentos mais otimistas, dizendo que o Brasil tem uma economia sólida.
Na prática, até a eclosão da pandemia, o ministro da Saúde estava escanteado na equipe e sempre saía pela tangente quando abordado sobre assuntos polêmicos, como a pauta de costumes. Trata-se de uma estratégia que não garante pontos com Bolsonaro, já que o presidente prefere perfis que partem para o enfrentamento político.
No fim do ano passado, Mandetta chegou a dizer a colegas da Câmara que se candidataria a prefeito de Campo Grande (MS). A conversa foi vista como uma forma honrosa de sair do cargo, evitando o desgaste de uma demissão.
Recentemente, porém, ele disse a aliados que desistiu do plano e há quem diga que ele esteja almejando voos mais altos, como o governo do Mato Grosso do Sul, em 2022.
No Ministério da Saúde, Mandetta mudou de perfil: baixou o tom de críticas ao Mais Médicos - programa ainda ativo na sua gestão - e ganhou status de voz ponderada no governo.
Ele começou a carreira política no MDB, em 2005, quando assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande, cidade onde nasceu. Em 2010, deixou o cargo e o MDB e concorreu a deputado federal pelo DEM. Foi reeleito em 2014, mas não tentou novo mandato quatro anos depois.
Mandetta é um dos três ministros do DEM no governo - além de Tereza Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Cidadania). Para chegar à Esplanada, teve apoio dos dois - à época, Onyx havia sido indicado para a Casa Civil - e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), além do aval de frentes parlamentares da saúde, que reúnem integrantes de várias legendas.
Sobre o ministro pairam desconfianças sobre sua afinidade com planos de saúde, porque presidiu a Unimed em Campo Grande e já disse que pautaria mudanças sobre acesso à rede pública de saúde.
Investigado
Com perfil discreto, ele é conhecido por não esconder "a real" situação dos fatos. Quando foi convidado para ingressar no ministério, avisou Bolsonaro de que era investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois. O presidente não fez reparo e observou, à época, que o médico não era réu.
A suspeita é de que, quando secretário, Mandetta tenha influenciado na contratação de uma empresa, em 2009, para gestão de informações na área, em troca de favores em campanha eleitoral. O Ministério da Saúde repassou R$ 8,16 milhões ao contrato. E a prefeitura, R$ 1,81 milhão. Segundo uma ação de 2015, movida pela Procuradoria de Campo Grande, o serviço não foi entregue e o município teve de devolver à União R$ 14,8 milhões. Mandetta contesta a acusação.
Na véspera da votação da reforma da Previdência na Câmara, no ano passado, quando a Saúde liberou mais de R$ 1 bilhão em emendas, Mandetta admitiu que a pasta fazia um "esforço" para aprovar a matéria. A versão era oposta à de Bolsonaro, que negava relação do pagamento com a votação.
O Ministério Público Federal abriu investigação sobre possível interferência de Bolsonaro, de Mandetta e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), na votação da reforma sob a forma de liberações de emendas. Procurado, o Ministério da Saúde disse que não vai se posicionar sobre "inquéritos não concluídos". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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