Busca de oxímetro cresce e preocupa especialistas
Especialistas ouvidos pela reportagem não veem benefício no uso do aparelho por pessoas aparentemente saudáveis para descobrir se foram infectadas pelo coronavírus e apontam o risco de que a utilização acabe causando pânico desnecessário. Pacientes com a covid-19 têm outros sintomas, como febre, dor no corpo, cansaço, dor de cabeça, dor de garganta, antes de apresentarem insuficiência respiratória, explica o médico pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein, José Eduardo Afonso Jr. "Nunca um paciente com covid-19 vai ter como primeiro sintoma a queda na oxigenação no sangue", diz o especialista.
O pneumologista do Hospital Samaritano, Mauro Gomes, concorda com o colega. "Isso pode fazer com que uma pessoa que tenha um oxímetro em casa, cuja manutenção não esteja boa, constate uma oxigenação baixa e vá desnecessariamente ao pronto-socorro, correndo o risco de se contaminar", alerta o especialista.
O índice normal de saturação de oxigênio no sangue é acima de 90% a 92%. Mas cai em pacientes graves da covid-19. Gomes, porém, considera um exagero uma pessoa comum comprar um aparelho para monitorar a oxigenação. "O que a gente tem visto são algumas pessoas movidas pelo pânico." Nesta semana, a Sociedade Brasileira de Pneumologia divulgou comunicado no qual não recomenda o uso irrestrito de oxímetro. A entidade ressalta que não há estudos científicos que indiquem o monitoramento e ressalta que "a decisão sobre usar ou não o aparelho em casa para monitorar o nível de oxigênio no sangue depende do médico".
Indicações
Gomes diz que o monitoramento da oximetria pode ser indicado para paciente com doenças preexistentes. "É mais uma fonte de informação. Para quem não tem (doença) é uma fonte de confusão", afirma o especialista.
Abigail do Val, de 77 anos, comprou um oxímetro por recomendação da fisioterapeuta do marido, que tem 86 anos, é cardíaco e teve pneumonia recentemente. Ela mede diariamente o nível de oxigênio no sangue do marido. "Ela nos orientou assim. É mais seguro e, dependendo do resultado, pode ser um sinal."
A microempresária Ellen Requejo, de 44 anos, comprou um oxímetro depois que leu artigo na imprensa internacional que relatava a baixa oxigenação como um sinal precoce de covid-19.
Ela conta que usa o equipamento para monitorar o pai, que tem 74 anos e tem doença de Parkinson. "Uso o aparelho todos os dias de manhã e à noite com o meu pai", diz. Ela própria também usa, pois faz algumas semanas que teve alguns sintomas, como dor no corpo, tosse e diarreia e achou que teve contato com o vírus. "Acho que estamos meio ao 'Deus dará'", diz Ellen, fazendo referência à falta de soluções para a pandemia.
As lojas especializadas em equipamentos médicos e fabricantes de oxímetro já sentiram os efeitos da corrida para comprar o produto. A loja Gino, que trabalha com produtos hospitalares, vendeu 200 oxímetros no último fim de semana, conta o funcionário Felipe Siqueira. Ontem, a revenda não tinha mais o produto, que custa na faixa de R$ 150. Na concorrente MercadoMed, o produto também acabou na segunda-feira, conta a vendedora Josefa Alves. Ela notou que o produto, antes procurado por profissionais da saúde, agora está sendo vendido para pessoas comuns.
A fabricante de oxímetros Transmai está trabalhando a todo vapor para conseguir entregar os pedidos, mesmo nos finais de semanas e feriados, conta o gerente da empresa, Mauro Tonucci. "As vendas quadruplicaram", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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