Amazonas recebe primeiro espaço do Brasil para atender indígenas com covid-19
A primeira ala hospitalar do Brasil voltada para o tratamento de pacientes indígenas com o novo coronavírus foi inaugurada no Amazonas ontem. Com 53 leitos exclusivos, o espaço foi montado no hospital de combate à covid-19, localizado na Universidade Nilton Lins, zona Centro-Sul de Manaus.
A cerimônia de inauguração contou com a presença do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, que destacou a doação de 20 respiradores do Governo Federal para abertura do espaço. A ala indígena vai disponibilizar 33 leitos clínicos e 20 de alta complexidade, além de um lugar destinado a pajés para o acompanhamento tradicional de cada paciente, de acordo com os seus costumes.
O atendimento será coordenado pelo médico Israelson Taveira, que trabalha com saúde indígena há sete anos e conhece cerca de 35 etnias. Para o profissional, o espaço é de suma importância para desenvolver protocolos de tratamento que respeitem e não interfiram na cultura de cada povo.
"É uma população que tem diferenciais de saúde, alterações genéticas devido aos costumes e hábitos que mudam os organismos. Então requer um olhar diferenciado até no manejo de medicamentos e evolução de tratamento principalmente no meio dessa pandemia. Temos que ter uma atenção maior ao introduzir certas condutas sem que haja um atrito com a cultura de cada um", declarou.
A professora indígena, Claudia Baré, destacou que o espaço é um avanço para os povos tradicionais que terão um atendimento direcionado aos seus costumes.
"Pega um pouco da nossa cultura, que era o que os indígenas mais reclamavam quando eram atendidos em outros hospitais. Por exemplo, nós não temos o costume de tomar café pela manhã, para nós é mingau de farinha, mingau de banana, e outros. Para umas pessoas parece frescura, mas para nós é a nossa cultura, é o mundo que a gente vive. Além disso, é muito importante também que a ala possua redes, a maioria dorme em cama e rede, mas nossos anciãos não, eles não estão acostumados. Então é muito ruim chegar em hospital, ter cama e não ter rede", explicou.
Para a professora, que também faz parte da liderança indígena em Manaus, é mais uma etapa vencida, porém há uma expectativa para que as autoridades continuem olhando para a saúde indígena após a pandemia.
"A gente quer uma construção de um hospital permanente que atenda os nossos parentes indígenas de todo o estado. Que não seja só nessa pandemia, que permaneça isso porque nós temos outros tipos de doença, não só a covid-19 e tem que ter essa atenção especial para saúde, já era pra ter acontecido há muito tempo", disse.
Casos de coronavírus em indígenas no Amazonas
Segundo o último Boletim Epidemiológico da Fundação de Vigilância Sanitária, divulgado nesta terça, o Amazonas possui 470 casos confirmados de covid-19 em indígenas. Desses, 132 estão com infecção ativa - que ainda não completaram 14 dias em isolamento domiciliar, a contar da data de início dos sintomas, ou ainda estão internados. O total de óbitos soma 29. Apesar do cenário, ao todo, 304 indígenas já foram curados do coronavírus no Estado.
De acordo com o monitoramento da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), as etnias mais afetadas pela doença são os Tikuna (Tikuna, Tukuna, Maguta) com 48 notificações e 10 confirmações; Kocama (Cocama, Kokama) 36 notificações e 13 confirmados; Baré com 22 notificações e 8 confirmados; e Satere-Mawe (Satere-Maue) também com 22 notificações, embora os casos confirmados sejam 6.
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