Salles diz que 'ex-assessor' usou seu Twitter para ofender presidente da Câmara
Nesta quinta, 29, pela manhã, segundo relatos ao Estadão, Salles disse que havia pedido que Agência Brasileira de Investigação (Abin) para apurar a suposta invasão. Procurada pela reportagem, a Abin não se manifestou. À tarde, o ministro deu uma nova explicação a interlocutores, afirmando que um ex-assessor admitiu ter se equivocado e publicado a ofensa a Maia no perfil de Salles, em vez de usar a conta pessoal dele.
O chefe do Meio Ambiente justificou que diversas pessoas tinham seu login e senha de seu perfil pessoal, por causa da campanha eleitoral de 2018, quando concorreu a deputado federal pelo partido Novo, em São Paulo. Agora, sem identificar o suposto responsável, o ministro passou a tratar o episódio como "assunto encerrado" e abriu mão de pedir uma investigação.
Na noite de quarta, uma publicação do perfil de Salles em resposta a Maia chamava o deputado de "Nhônho". O apelido é utilizado de forma pejorativa pelos bolsonaristas contra o presidente da Câmara, em referência ao personagem da série mexicana "Chaves". Nhônho, interpretado pelo ator Édgar Vivar, é um menino gordo e apontado como uma "pessoa tonta".
Em pouco tempo, a ofensa a Salles se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter. Diante da repercussão política, o ministro postou, por volta das 6h30 desta quinta-feira, outro comentário na rede social: "Fui avisado há pouco que alguém se utilizou indevidamente da minha conta no Twitter para publicar comentário junto a conta do Presidente da Câmara dos Deputados, com quem, apesar de diferenças de opinião sempre mantive relação cordial".
Em seguida, a conta na rede social saiu do ar. O ministro, então, alegou que suspendeu o perfil por um "procedimento de segurança", segundo relatos à reportagem. Qualquer usuário do Twitter pode solicitar um relatório com histórico de acessos, o que indica, inclusive, os lugares onde a pessoa estava enquanto usava o aplicativo, além do IP do dispositivo, ou seja, seu registro.
O chefe do Meio Ambiente está em viagem oficial ao arquipélago de Fernando de Noronha (PE), acompanhado do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio. Também participam da comitiva o presidente da Embratur, Gilson Machado, e o secretário especial da Pesca, Jorge Seif Junior. Salles prometeu que só deve voltar ao Twitter na próxima semana, quando retornar à Brasília.
Descrédito. A versão de Salles de que teve a conta invadida não foi comprada por integrantes do governo. Colegas de Executivo, em conversas reservadas com o Estadão, afirmam acreditar que a ofensa a Maia partiu do ministro ou de alguém de sua equipe.
Apesar disso, ministros que têm boa relação com Salles argumentam que o presidente da Câmara exagerou no tom, ao criticar o chefe do Meio Ambiente. No dia 24, Maia escreveu: "Ricardo Salles, não satisfeito em destruir o meio ambiente do Brasil, agora resolveu destruir o próprio governo".
Já críticos de Salles aproveitaram o episódio no Twitter para reforçar internamente a defesa de que o ministro do Meio Ambiente deve deixar o governo. Reforçaram ainda que ele tem se aproximado do ala ideológica e ocupado o lugar do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.
A suposta reação a Maia, entretanto, não incomodou o presidente Jair Bolsonaro, que pediu à equipe, em reunião ministerial, que não "lavasse roupa suja" em público para evitar desgaste ao governo. Segundo interlocutores do Planalto, o recado do presidente foi para parar brigas entre ministros.
Maia é presidente da Câmara, tem um histórico de atritos com Bolsonaro e é alvo frequente da ala ideológica e militância bolsonarista. O presidente da Câmara não comentou o episódio, mas disse a interlocutores não acreditar na história de que a conta foi usada por outra pessoa.
A ofensa de Salles a Maia ocorreu na sequência de atritos na Esplanada, que se tornaram públicos na quinta-feira, 22. Também no Twitter, Salles chamou o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, de "Maria Fofoca".
O ataque ocorreu na esteira de uma nota publicada pelo jornal O Globo, afirmando que Salles estava "esticando a corda" com militares do governo. O ministro do Meio Ambiente viu ali o dedo de Ramos e, além disso, atribuiu ao colega uma ação para desidratar sua pasta, convencendo a equipe econômica a retirar verbas que deveriam ser destinadas ao Meio Ambiente para o combate às queimadas.
No último domingo, 25, em mensagem também publicada nas redes sociais, Salles pediu "desculpas pelo excesso" ao chamar Ramos de "Maria Fofoca". O ministro da Secretaria de Governo, por sua vez, disse que "uma boa conversa apazigua as diferenças".
Apesar da trégua, o confronto continuou nos bastidores do governo, escancarando novamente as divergências entre a ala ideológica, que apoia Salles, e o núcleo militar, que ficou ao lado de Ramos. O general também ganhou o respaldo de Maia, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR).
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