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Fiocruz estima pico de internados por covid-19 acima de 80 anos no Rio

8.jun.2021 - Trabalho médico na UTI covid-19 do Hospital Estadual de Vila Alpina, na zona leste de São Paulo - Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo
8.jun.2021 - Trabalho médico na UTI covid-19 do Hospital Estadual de Vila Alpina, na zona leste de São Paulo Imagem: Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo

Roberta Jansen

Rio

17/08/2021 17h15

Novo estudo da Fiocruz revela que estão subindo os indicadores de casos e mortes pela covid-19 entre idosos no Rio de Janeiro. O número de pessoas com mais de 80 anos internadas no Estado atingiu o maior patamar desde o início da pandemia: 848 em uma semana, com 175 mortos.

É a primeira vez, desde fevereiro, que a quantidade de mortos pela doença aumenta entre as pessoas com mais de 60 anos. A Secretaria Municipal de Saúde do Rio contabiliza alta de 10% nas hospitalizações, em todas as faixas etárias, e já reabre leitos covid que haviam sido fechados.

Os pesquisadores da Fiocruz ainda estão trabalhando nos dados de São Paulo. Adiantam, porém, que a tendência de aumento de casos e mortes entre idosos paulistas é similar à do Rio.

Segundo os pesquisadores, três fatores podem explicar a escalada da covid entre os idosos. Um dos motivos é o relaxamento das medidas restritivas e o outro é a perda gradativa da proteção vacinal entre os mais velhos - os imunizantes previnem contra casos graves de covid-19, mas não eliminam completamente esse risco, sobretudo nos grupos mais vulneráveis, como idosos.

Fator Delta

Outro problema é a variante Delta, mais transmissível, que se espalha com rapidez no Rio. Segundo a Universidade Federal do Rio (UFRJ), essa cepa já origina por 56,6% dos casos - pelo menos dos sequenciados geneticamente. O prefeito Eduardo Paes (PSD) disse que o Rio já é o "epicentro" da variante Delta no País.

"O que temos por enquanto são hipóteses", frisou Leonardo Bastos, que participou do levantamento. "Mas houve relaxamento das medidas restritivas e um aumento da transmissão do vírus. Além disso, as vacinas não são 100% efetivas, e o vírus chega às pessoas. Há perda da imunidade da vacina, principalmente no pessoal que já tomou as duas doses há mais de seis meses", acrescenta ele, lembrando também da Delta.

Para o pesquisador Marcelo Gomes da Fiocruz, que também participou do levantamento, o aumento do número de casos não significa que as vacinas sejam ineficazes. "Se não tivesse a vacina, esses números seriam ainda maiores", afirmou o pesquisador. "Se a gente reduz as medidas de restrição, facilita a transmissão do vírus e acaba afetando também a população já vacinada", adverte. E acrescenta: "Junte-se a isso uma variante mais transmissível, e temos um cenário preocupante."

Os dados da Fiocruz foram calculados com base em um método estatístico, o "nowcasting". Ele faz uma projeção baseada nos números das semanas anteriores para compensar o atraso nas notificações e ter indicadores em tempo real.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou ontem que já reabriu 60 leitos da rede municipal para covid-19 que haviam sido fechados. "A gente já tinha a expectativa de um aumento no número de casos de covid no inverno, que é uma época de maior número de doenças gripais, mas tivemos outro fator agravante, que é a entrada da Delta", afirmou Soranz. "Houve aumento no número de casos, mas também aumento de internações. Precisamos reforçar o uso de máscara, o respeito às medidas restritivas, e a vacinação.

De acordo com a secretaria, 93% dos idosos já estão vacinados com as duas doses. O governo do Estado e a Prefeitura já avaliam a possibilidade de uma terceira dose de reforço para os maiores de 60 anos.

"Se a perda da imunidade for confirmada, então teremos que vacinar o pessoal mais velho, não tem jeito", disse Leonardo Bastos. "Mas isso ainda não está totalmente estabelecido. A explicação para o aumento de internações pode ser porque relaxamos medidas de restrição ou pela chegada da Delta, mais transmissível", acrescenta.

O avanço da nova cepa também já fez a prefeitura do Rio de Janeiro pedir mais doses de vacina ao governo federal.

*Com colaboração de Júlia Marques