Presidente da Anvisa reage e cobra retratação de Bolsonaro
Barra Torres desafiou Bolsonaro a fornecer indícios de corrupção contra ele. "Se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate", cobrou o militar da reserva da Marinha, indicado pelo próprio Bolsonaro ao cargo. "Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário."
A autorização para vacinação de crianças contra a covid-19 motivou uma série de críticas do presidente e atos do governo que protelaram o início da imunização. Em dezembro, ele orientou o Ministério da Saúde a adotar a cobrança de prescrição médica e a promover uma consulta pública sobre o tema. Apesar disso, a pasta deu aval para a imunização infantil no último dia 5 de janeiro, por pressão da opinião pública e de especialistas médicos. (https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,ministerio-da-saude-vacinacao-infantil-criancas-autorizacao,70003942501).
A postura atual do chefe da Anvisa difere de seu comportamento no início da pandemia. Em março de 2020, antes de ser confirmado no cargo pelo Congresso, ele esteve, ao lado do presidente, em uma manifestação de bolsonaristas na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em maio do ano passado, Barra Torres admitiu que foi "um ato inadequado".
Leia a íntegra da nota:
Nota - Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres
Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.
Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.
Antonio Barra Torres
Diretor Presidente - Anvisa Contra-Almirante RM1 Médico Marinha do Brasil
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