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De aliado a rival, chefe da Anvisa agora desafia o presidente
Brasília - Rompido com o presidente Jair Bolsonaro, de quem cobrou retratação em carta pública, o almirante Antonio Barra Torres, atual diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), chegou ao cargo com um perfil alinhado ao do chefe. Médico militar da reserva, ele deixou posto de chefia na Marinha para atuar como indicado de Bolsonaro, de quem se dizia amigo, no órgão regulatório. Desde então, percorreu uma trajetória de afastamento, marcada por seguidos embates com o Planalto, até o rompimento, destaca o Estadão.
A nota de Barra Torres, divulgada anteontem, foi além e revelou um enfrentamento público. Ele cobrou retratação do presidente, que questionou os "interesses" de integrantes da Anvisa em aprovar a vacinação de crianças contra covid-19. Na semana passada, Bolsonaro também afirmou que a agência "virou outro Poder no Brasil" e que seus técnicos são "pessoas taradas por vacinas".
"Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que, com orgulho, eu tenho o privilégio de integrar", disse Barra Torres no texto.
Ele deu tom desafiador e pessoal à nota, assumindo para si uma insinuação que Bolsonaro fez genericamente à Anvisa. Na assinatura e no texto, destacou o cargo militar de alta patente e o elo com a Marinha, reproduzindo um comportamento comum nas Forças Armadas de tentar preservar a imagem pública da instituição e de sair em defesa dos "comandados", o que tem lhe rendido apoio dentro da agência.
A carta expõe de maneira clara a mudança na relação antes de amizade que dizia ter com Bolsonaro. O contra-almirante foi escolhido em 2019 para ocupar uma das diretorias vagas na Anvisa. Foi nomeado em julho e, após cinco meses, assumiu como chefe substituto.
ALINHAMENTO
Quando veio a pandemia, Barra Torres agiu de forma alinhada às posições bolsonaristas - ao menos no começo. Ele chegou a participar, sem máscara, de um ato antidemocrático, que pregava o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Um ano depois, em maio de 2021, o almirante disse à CPI da Covid se arrepender do episódio. Afirmou ainda que as críticas de Bolsonaro às vacinas iam "contra o que preconiza a ciência". "Destarte a amizade que tenho pelo presidente, a conduta do presidente difere da minha."
Antes de ser efetivado na Anvisa, o militar servia ao Planalto como uma espécie de contraponto ao então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e chegou a minimizar a gravidade da pandemia no Congresso.
"É importante citar todo o esforço que há para que não se dissemine o pânico", disse aos parlamentares. Poucos dias depois, infectados e mortos por covid-19 no País aumentaram exponencialmente.
Sete meses depois, o Senado confirmou a indicação do militar para comandar a agência reguladora. Sem a possibilidade de ser demitido, por exercer mandato de cinco anos, Barra Torres passou a se distanciar do presidente e a defender a "autonomia da agência".
DIVERGÊNCIAS
A partir de janeiro de 2021, as divergências ficaram mais claras. A Anvisa deu aval para o uso da Coronavac, trazida ao País por iniciativa do governador de São Paulo, João Doria, rival de Bolsonaro.
Ao longo de 2021, o afastamento se concretizaria, aprofundado pela CPI. Em depoimento em maio, Barra Torres confirmou que houve uma tentativa política no Planalto para inserir a recomendação da cloroquina, sem eficácia, no tratamento da covid-19. E disse ter se posicionado contra.
Em outubro, Barra Torres rebateu a declaração falsa de Bolsonaro de que os imunizantes poderiam causar aids. E, em novembro, a Anvisa recomendou a cobrança de vacinação contra para ingresso de viajantes no País, contrariando Bolsonaro.
O rompimento final veio em dezembro. Em live, após a Anvisa aprovar a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos com a Pfizer, Bolsonaro instigou a exposição pública dos nomes dos técnicos envolvidos na decisão, o que gerou uma onda de ameaças aos diretores da agência. Barra Torres cobrou proteção policial e investigação. Bolsonaro disse que o diálogo estava encerrado. "Impossível conversar mais com o presidente da Anvisa."
Procurada pelo Estadão, o Planalto não se pronunciou sobre a carta de Barra Torres, que não quis dar entrevista.
A nota de Barra Torres, divulgada anteontem, foi além e revelou um enfrentamento público. Ele cobrou retratação do presidente, que questionou os "interesses" de integrantes da Anvisa em aprovar a vacinação de crianças contra covid-19. Na semana passada, Bolsonaro também afirmou que a agência "virou outro Poder no Brasil" e que seus técnicos são "pessoas taradas por vacinas".
"Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que, com orgulho, eu tenho o privilégio de integrar", disse Barra Torres no texto.
Ele deu tom desafiador e pessoal à nota, assumindo para si uma insinuação que Bolsonaro fez genericamente à Anvisa. Na assinatura e no texto, destacou o cargo militar de alta patente e o elo com a Marinha, reproduzindo um comportamento comum nas Forças Armadas de tentar preservar a imagem pública da instituição e de sair em defesa dos "comandados", o que tem lhe rendido apoio dentro da agência.
A carta expõe de maneira clara a mudança na relação antes de amizade que dizia ter com Bolsonaro. O contra-almirante foi escolhido em 2019 para ocupar uma das diretorias vagas na Anvisa. Foi nomeado em julho e, após cinco meses, assumiu como chefe substituto.
ALINHAMENTO
Quando veio a pandemia, Barra Torres agiu de forma alinhada às posições bolsonaristas - ao menos no começo. Ele chegou a participar, sem máscara, de um ato antidemocrático, que pregava o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Um ano depois, em maio de 2021, o almirante disse à CPI da Covid se arrepender do episódio. Afirmou ainda que as críticas de Bolsonaro às vacinas iam "contra o que preconiza a ciência". "Destarte a amizade que tenho pelo presidente, a conduta do presidente difere da minha."
Antes de ser efetivado na Anvisa, o militar servia ao Planalto como uma espécie de contraponto ao então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e chegou a minimizar a gravidade da pandemia no Congresso.
"É importante citar todo o esforço que há para que não se dissemine o pânico", disse aos parlamentares. Poucos dias depois, infectados e mortos por covid-19 no País aumentaram exponencialmente.
Sete meses depois, o Senado confirmou a indicação do militar para comandar a agência reguladora. Sem a possibilidade de ser demitido, por exercer mandato de cinco anos, Barra Torres passou a se distanciar do presidente e a defender a "autonomia da agência".
DIVERGÊNCIAS
A partir de janeiro de 2021, as divergências ficaram mais claras. A Anvisa deu aval para o uso da Coronavac, trazida ao País por iniciativa do governador de São Paulo, João Doria, rival de Bolsonaro.
Ao longo de 2021, o afastamento se concretizaria, aprofundado pela CPI. Em depoimento em maio, Barra Torres confirmou que houve uma tentativa política no Planalto para inserir a recomendação da cloroquina, sem eficácia, no tratamento da covid-19. E disse ter se posicionado contra.
Em outubro, Barra Torres rebateu a declaração falsa de Bolsonaro de que os imunizantes poderiam causar aids. E, em novembro, a Anvisa recomendou a cobrança de vacinação contra para ingresso de viajantes no País, contrariando Bolsonaro.
O rompimento final veio em dezembro. Em live, após a Anvisa aprovar a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos com a Pfizer, Bolsonaro instigou a exposição pública dos nomes dos técnicos envolvidos na decisão, o que gerou uma onda de ameaças aos diretores da agência. Barra Torres cobrou proteção policial e investigação. Bolsonaro disse que o diálogo estava encerrado. "Impossível conversar mais com o presidente da Anvisa."
Procurada pelo Estadão, o Planalto não se pronunciou sobre a carta de Barra Torres, que não quis dar entrevista.
Felipe Frazão e Lauriberto Braga
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