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Valdemar Costa Neto emplaca ex-petista no comando do Banco do Nordeste

Lauriberto Pompeu e Vinicius Valfré

Brasília

17/01/2022 21h21Atualizada em 18/01/2022 10h25

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, emplacou um indicado seu como presidente interino do Banco do Nordeste. O economista José Gomes da Costa foi oficializado nesta segunda-feira, 17, no cargo, que vai acumular com a diretoria financeira do banco. O presidente Jair Bolsonaro chegou a resistir ao nome de Gomes da Costa a após descobrir que ele havia sido filiado ao PT no passado, mas acabou cedendo a forte pressão do aliado político.

Dados da Justiça Eleitoral indicam que Gomes da Costa se filiou ao PT da Bahia em fevereiro de 2003, na cidade de Lauro de Freitas. A filiação aparece como "excluída" em novembro de 2009 e "cancelada" em junho de 2019. Atualmente, ele não está em nenhum partido.

Alvo de escândalos de corrupção em governos passados, o BNB ganhou os holofotes em 2005, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando um assessor do deputado José Guimarães (PT-CE) foi pego com R$ 209 mil em espécie na mala e US$ 100 mil na cueca. Apurações do Ministério Público Federal mostraram que o dinheiro seria oriundo de propina, a partir de contratos com o banco. À época, o presidente do BNB, Roberto Smith, era indicado por Guimarães. No ano passado, a Justiça Federal arquivou o processo contra o deputado.

Em setembro, Costa Neto gravou um vídeo exigindo a demissão de Romildo Rolim, então presidente do BNB. O motivo apontado foi um contrato de R$ 583 milhões com o Instituto Nordeste Cidadania (Inec), ligado ao PT no Ceará. Desde a saída de Rolim, o banco vinha sendo comandado por Anderson Possa, que acumulava a função com a de diretor de negócios.

O Estadão apurou que Costa Neto — preso e condenado na esteira do escândalo do mensalão — quer contar com a colaboração de seu apadrinhado para afrouxar as regras de nomeação do presidente do BNB e emplacar outro nome no cargo.

O novo presidente interino do BNB é funcionário de carreira e exercia o cargo de superintendente em Salvador desde dezembro de 2017.

Coordenador da bancada do Nordeste no Congresso, o deputado Júlio Cesar (PSD-PI) confirmou que a escolha de Gomes da Costa é de responsabilidade do partido de Bolsonaro. "A indicação do presidente do banco coube ao PL", disse ele ao Estadão. De acordo com Júlio César, o partido já tentou emplacar Gomes da Costa antes, mas sem sucesso. "Já indicaram e não deu certo", lembrou.

O banco opera o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), que tem previsão orçamentária de R$ 26,6 bilhões para este ano. Com relevância no desenvolvimento da região, o BNB sofre fortes pressões políticas e é controlado pelo PL.

Romildo Rolim, que havia chegado ao cargo em 2017, no governo Michel Temer (MDB), era apadrinhado pelo então presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Com a mudança de governo, Rolim buscou padrinhos em outros partidos do centrão.

Em 2020, Costa Neto já havia tentado tirar Rolim do cargo. À época, o indicado havia sido Alexandre Cabral, ex-presidente da Casa da Moeda. Cabral chegou a ser nomeado para comandar o BNB, mas ficou apenas um dia na função. Pesaram contra ele investigações abertas para apurar contratos fraudulentos na Casa da Moeda.

Procurado, o BNB confirmou a troca na presidência, mas não se manifestou sobre as movimentações políticas na diretoria.