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Temporais triplicam e temperatura sobe até 2,7 graus em São Paulo

Chuva causou alagamento na rua Frederico Steidel, região central de São Paulo, na semana passada - Luciana Quierati/UOL
Chuva causou alagamento na rua Frederico Steidel, região central de São Paulo, na semana passada Imagem: Luciana Quierati/UOL

Gustavo Porto

22/03/2022 08h02

Um estudo do governo federal comprova o aumento constante das temperaturas nos últimos 90 anos e a ocorrência de chuvas cada vez mais extremas no País, especialmente nas últimas décadas. O documento Normais Climatológicas do Brasil 1991-2020, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão responsável pelo monitoramento climático do Brasil, foi obtido pelo Estadão/Broadcast.

Um dos maiores municípios do mundo, São Paulo registra também os dados mais contundentes das alterações climáticas. Moradores enfrentaram temperaturas mínimas até 2,7 graus Celsius (°C) mais elevadas em alguns meses. Os eventos extremos de chuva excessiva na capital quase duplicaram para temporais de 80 milímetros e são mais de três vezes maiores para os de 100 mm, cenário que se intensificou desde a década de 1990.

Normais são médias históricas meteorológicas apuradas em longos períodos e representam as características do clima em um local. O último levantamento compreende o intervalo entre 1.º de janeiro de 1991 e 31 de dezembro de 2020, feito em 271 estações do Inmet no País. Segundo o instituto, os resultados de elevação de temperatura podem estar associados à variabilidade natural, ao aquecimento global e à urbanização. "De todo modo, o fator antropogênico (ação humana) é a causa mais provável das mudanças climáticas", aponta o órgão. No documento, o Inmet compara os dados obtidos em medições entre os períodos de 1931-1960, 1961-1990, 1981-2010 e de 1991-2020 e, como exemplo, aponta a elevação de temperaturas em metrópoles e pequenos e médios municípios do Brasil.

Para o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), o aumento de chuvas intensas, que causam os desastres naturais, na capital paulista tem a ver com o aquecimento global e também com o processo de urbanização da cidade nas últimas décadas. Nobre destaca que o impacto também atinge toda a região metropolitana. "Quando a cidade é menor, a maior parte desse aumento é por conta do aquecimento global.

Porém, não é o caso de São Paulo. No caso de Curitiba, uma das capitais mais verdes do País, esse aumento não foi tão acentuado como em outros locais."

Mínimas, médias e máximas

Para uma das capitais mais quentes do País, Cuiabá (MT), o Inmet aponta "claramente uma elevação da temperatura mínima quando comparados os períodos de 1931-1960 com 1991-2020 em todos os meses do ano". Em outubro, por exemplo, a variação chega a 1,6°C. A elevação da temperatura mínima em São Paulo, se comparados os períodos de 1931-1960 e 1991-2020, ocorreu em todos os meses do ano e foi de, no mínimo, 1,6°C, com pico de 2,7°C em julho e abril. Ou seja, as madrugadas estão ficando mais quentes.

Em Brasília (DF) cuja medição começou em 1961, um ano após a fundação da capital, o Inmet destaca a alta nas temperaturas médias em todos os meses do ano. A maior mudança é em outubro, de 1,5°C . Em Belo Horizonte, observa-se uma elevação de até 1,7°C da média nos meses de julho e dezembro, de 1,6°C em junho e de 1,5°C nos meses de abril, maio, agosto e outubro.

Até a capital com o clima mais ameno está menos fria. Em Curitiba (PR), a média de julho, mês mais frio do ano, foi de 13,8°C no período mais recente, 0,9°C acima da média em relação ao período de 1961-1990, de 12,9°C.

Já do lado mais quente do País, no Nordeste, Fortaleza (CE) sofre com aumento das temperaturas máximas em todos os meses. Se comparados os períodos 1961-1990 e 1991-2020, os meses que apresentaram maior elevação foram os de agosto e setembro, 1,2°C.

Chuvas extremas

O estudo aponta que os efeitos da ação humana e da urbanização no clima fizeram crescer a quantidade de dias de temporais com capacidade potencial para transtornos, aqueles volumes acumulados acima de 80 mm e 100 mm - como os registrados por duas vezes em Petrópolis.

Além de chuvas mais severas, o estudo apontou também mudança nos períodos quando as precipitações acumuladas são maiores. Em Maceió (AL), o mês mais chuvoso em dois períodos de três décadas - em 1931-1960 e 1961-1990 - foi maio. Agora, mesmo na atual normal meteorológica 1991-2020, é junho. "Ou seja, houve uma mudança no padrão da chuva na cidade quando comparadas as médias dos últimos 60 anos", apontou o Inmet. (Colaborou Ítalo Cosme, especial para o Estadão)