Carolina Brígido

Carolina Brígido

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

STF não proíbe nem libera uso de linguagem neutra em escolas. Saiba por quê

Embora colecione decisões em defesa dos direitos da população LGBTQIA+, o STF (Supremo Tribunal Federal) tem evitado se posicionar diretamente sobre a polêmica da linguagem neutra nas escolas.

O tema está em julgamento no plenário virtual até a próxima segunda-feira (11). A tendência é que os ministros declarem que o uso ou não desse tipo de comunicação na educação formal seja definido exclusivamente pela União.

Esse entendimento já foi fixado em julgamentos anteriores sobre o mesmo assunto. Agora, está em votação uma ação de entidades em defesa da comunidade LGBTQIA+ contra lei do município de Votorantim (SP) que veda "flexões de número e gênero das palavras da língua portuguesa que destoem das regras previstas nas diretrizes e bases da educação nacional".

Até ontem (4) à noite, dois ministros tinham votado: Gilmar Mendes, o relator do processo, e Alexandre de Moraes, os dois no mesmo sentido. Para eles, a lei deve ser derrubada — não para liberar o uso da linguagem neutra nas escolas, mas porque apenas a União pode legislar sobre isso.

Entidades em defesa da comunidade LGBTQIA+ argumentaram que a legislação era uma forma de "censura à liberdade de expressão e ao livre exercício do magistério pelos professores", bem como uma afronta ao dispositivo constitucional que veda preconceitos e demais formas de discriminação.

Segundo Mendes, "não há dúvidas de que o diploma legislativo ora impugnado revela-se formalmente inconstitucional, tendo em vista que versa sobre diretrizes e bases da educação, invadindo a esfera de competência privativa da União".

Diante da inconstitucionalidade formal da lei, o ministro não examinou o conteúdo do dispositivo - ou seja, não entrou no mérito sobre a permissão de uso ou não da linguagem neutra nas escolas. "Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, conforme estabelecido na Constituição Federal", explicou o ministro.

No voto, Mendes ressaltou que "todas as pessoas são livres para se expressar como desejarem, em suas vidas privadas, liberdade insuscetível de eliminação, salvo a configuração de crime, o que evidentemente não é o caso da linguagem neutra".

Acrescentou que "a língua é viva, sempre aberta a novas possibilidades, em diversos espaços e tempos". E que "a adoção de formas mais inclusivas de comunicação é uma questão social de altíssima relevância".

Continua após a publicidade

Mas ponderou que a Constituição Federal consagrou a língua portuguesa como idioma oficial, inclusive nos sistemas de ensino. Qualquer mudança no idioma deve ser disciplinado pela União.

Entre as decisões tomadas recentemente em defesa da população LGBTQIA+, o STF reconheceu as uniões estáveis homoafetivas, permitiu a alteração do nome e do sexo de pessoas transexuais no registro civil sem a necessidade de cirurgia de redesignação sexual, equiparou a homofobia e a transfobia ao crime de racismo e o liberou a licença-maternidade a mães não-gestantes em uniões homoafetivas.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes