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Caçadores desaparecem em terra indígena; clima é de tensão no sudoeste do Pará

Área desmatada dentro da Terra Indígena Apyterewa, do povo Parakanã, no Pará.  - Kaworé Parakanã.
Área desmatada dentro da Terra Indígena Apyterewa, do povo Parakanã, no Pará. Imagem: Kaworé Parakanã.

José Maria Tomazela

28/04/2022 16h34Atualizada em 28/04/2022 23h02

Três homens estão desaparecidos desde domingo, 24, depois de invadir a Terra Indígena Parakanã para caçar, em Novo Repartimento, no sudoeste do Pará. Moradores da região acusam indígenas pelo sumiço dos caçadores e falam em retaliação. Um grupo teria invadido uma escola indígena e agredido estudantes da aldeia.

A Rodovia Transamazônica (BR-230) chegou a ser bloqueada em protesto de familiares dos desaparecidos. A Polícia Federal enviou um efetivo para apoiar a Polícia Militar na manutenção da ordem na região.

Os caçadores, identificados como Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luis da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara, moradores de propriedades rurais da região, saíram para caçar e não retornaram. Na segunda-feira, 25, os familiares iniciaram as buscas e encontraram apenas as motos e objetos pessoais dos três homens em meio à mata da terra indígena, a cerca de 300 m da BR-230. Parentes de um dos desaparecidos foram à aldeia cobrar os indígenas e alegaram terem sido mantidos em cárcere privado.

Os indígenas, da etnia awaeté, passaram a receber ameaças diretamente e por meio de redes sociais. Conforme o Ministério Público Federal (MPF) do Pará, moradores da região entraram armados na reserva para ameaçar os indígenas. A indígena Tarana Parakanã, estudante de Letras, contou que não indígenas invadiram a escola, no Posto Taxakoakwera, e agrediram estudantes. Segundo ela, alguns dos invasores portavam armas.

Em nota, professores do Instituto Federal Rural do Pará, ao qual a escola é vinculada, cobraram uma ação enérgica das autoridades nas buscas pelos caçadores desaparecidos e denunciaram que os indígenas estão sendo alvo de preconceitos, já que não há nenhum indício de que tenham responsabilidade pelo desaparecimento deles. "O branco está invadindo as nossas terras e ameaçando o meu povo de morte", disse, em vídeo, o cacique da aldeia Parano'wa, Xeteria Parakanã.

O MPF informou que está em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Polícia Federal e a Polícia Militar do Estado para as buscas aos desaparecidos e a proteção da comunidade indígena. A PF e a PM confirmaram o envio de efetivo para prestar apoio e minimizar a possibilidade de ocorrência de um conflito. A Funai informou que um grupo de mediação de conflitos acompanha a situação que, no momento, é tranquila.

A entrada de pessoas estranhas ao grupo é proibida em terras indígenas, segundo lei federal de 1973. A TI Parakanã, com 352 mil hectares, possui 24 aldeias, onde vivem 1,4 mil indígenas, e está a cerca de 30 km da área urbana de Novo Repartimento. Devido ao contato recente com o homem branco, há menos de quatro décadas, os awaetés não dominam bem a língua portuguesa.

Em 25 de dezembro de 2013, cerca de 3 mil moradores de Humaitá, no sul do Amazonas, atearam fogo em prédios da Funai e postos de saúde indígena em protesto contra o desaparecimento de três homens na Transamazônica, quando cruzaram de carro a Terra Indígena Tenharim.

Os revoltosos responsabilizavam os indígenas pelos desaparecimentos, que seriam por vingança. Três dias antes, um cacique Tenharim tinha sido encontrado morto na Transamazônica.

Carros, ambulâncias e até um barco que atendia as populações indígenas também foram incendiados. Ameaçados de linchamento, os indígenas que moravam na cidade se refugiaram no Batalhão do Exército. Os corpos dos desaparecidos foram achados no dia 3 de fevereiro, em uma vala, no interior da reserva. Cinco tenharins foram presos, acusados pelas mortes. Em novembro de 2015, eles foram colocados em liberdade condicional. Os acusados ainda esperam o julgamento.