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"Saí do armário e estou muito feliz", diz padre gay afastado pelo Vaticano

Em Roma

03/10/2015 11h49

Às vésperas do Sínodo da Família, que inicia neste domingo (04), o monsenhor polonês Krzysztof Charamsa, 43 anos, revelou ser homossexual em uma entrevista publicada pelo jornal italiano "Corriere della Sera".   

"Quero que a Igreja e a minha comunidade saibam o que sou: um sacerdote homossexual, feliz e orgulhoso da própria identidade. Tenho um companheiro. Estou pronto a pagar as consequências, mas é o momento para que a Igreja abra os olhos para os gays crentes e entenda que a solução que eles propõem, a abstinência total do amor na vida, é desumana. Quero com a minha história escutar um pouco a consciência desta minha Igreja. Ao Santo Padre, revelarei pessoalmente a minha identidade em uma carta", declarou o religioso.

Em coletiva, o padre afirmou que saiu do armário e está "muito feliz" após anos de silêncio. 

Charamsa tem um cargo na Congregação para a Doutrina da Fé e é secretário-adjunto da Comissão Teológica Internacional vaticana, além de ser professor da Universidade Pontifícia Gregoriana e na Universidade Pontifícia Regina Apostolorum. Muito ativo nas redes sociais, do Twitter ao Linkedin, o teólogo também possui um blog - criado no fim do mês de agosto.

Padre foi afastado

A reação do Vaticano foi imediata e, como era de se esperar, muito dura. "Monsenhor Charamsa não poderá continuar a desenvolver as funções precedentes na Congregação para a Doutrina da Fé e nas Universidades Pontifícias, enquanto outros aspectos sobre sua situação serão de competência de seu responsável diocesano", afirmou o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.   

Para o representante, a "decisão de realizar uma manifestação assim clamorosa à vigília do Sínodo aparenta ser muito grave e irresponsável porque quer submeter a assembleia sinodal a uma indevida pressão midiática".   

O teólogo, ao invés disso, explica que quis falar antes do início do encontro de bispos e laicos porque quer que durante o evento seja debatido que "o amor homossexual é um amor que tem a necessidade da família". "Toda pessoa, também os gays, lésbicas e transexuais, leva no coração o desejo de amor e familiaridade", ressaltou Charamsa. O religioso ainda destacou que o papa Francisco vem sendo "fantástico" porque fez com que a Igreja "redescobrisse a beleza do diálogo". Segundo o polonês, antes de Jorge Mario Bergoglio, os membros da entidade "não dialogavam" e o Sínodo "precisa ser de todas as famílias".

Ao saber da reação do Vaticano, não apareceu publicamente, mas falou com a imprensa, dizendo que dedicava "o fato de assumir aos muitíssimos sacerdotes homossexuais que não tem força de sair do armário". Ao ser questionado se há muitos gays no próprio Vaticano, Charamsa respondeu que "em qualquer sociedade de apenas homens há muito mais gays do que no mundo em geral".

Sobre o fato de ser afastado de suas funções na Igreja, o teólogo disse que "irá procurar trabalho" e que também "já está pronto para a imprensa, em polonês e italiano, um livro em que conto minha experiência".   

O Sínodo sobre a Família irá debater, entre os dias 4 e 25 de outubro, diversos temas referentes às famílias católicas. Entre os pontos mais polêmicos, estará uma possível maior abertura aos gays e também a comunhão aos divorciados que se casaram novamente.