Livro de italiana conta caso de sudanesa condenada à morte
SÃO PAULO, 24 ABR (ANSA) - Por Ana Ferraz. Em 2014, o caso de uma sudanesa que foi condenada à morte por ter se casado com um cristão e por ter rejeitado o islamismo foi vastamente comentado na imprensa internacional, que acabou se mobilizando a favor da libertação da mulher e da anulação da sua pena. Quase três anos depois, a escritora do livro que conta essa história do início ao fim veio a São Paulo comentar seu trabalho. Trata-se da obra "Meu Nome é Meriam", escrita pela jornalista italiana Antonella Napoli, uma das únicas profissionais do país que acompanhou a situação no Sudão, e que já conta com uma tradução em português. O livro fala sobre o caso de Meriam Ibrahim Ishag, mulher que se casou com um cristão, Daniel Wani, e que foi acusada de apostaria (abandono da religião) por ter rejeitado a fé islâmica em nome do cristianismo. Grávida de oito meses e mãe de um menino de dois anos, a jovem foi condenada a cem chibatadas por adultério, por ter se casado com um cristão, e à morte for enforcamento por ter se recusado a abandonar sua "nova" fé. Meriam foi presa em maio de 2014 e acabou dando luz a sua filha, Maya, ainda na cadeia. Já em junho do mesmo ano, após uma grande mobilização internacional, um tribunal ordenou a sua libertação.
"Em um primeiro momento trabalhamos com um perfil baixo, procurando envolver as embaixadas para tentar bloquear a sentença [de Meriam]", disse Napoli à ANSA durante evento no colégio italiano Eugenio Montale em São Paulo nesta segunda-feira, dia 24. "Depois o juiz quis seguir em frente, houve a condenação e naquele momento criamos a mobilização com um apelo que na Itália foi ouvido pelo 'Avvenire', o jornal católico mais importante do país, pelo primeiro-ministro da época, Matteo Renzi, e por muitos expoentes da cultura e do espetáculo. E essa mobilização cresceu até se tornar internacional. A pressão foi tão forte, grande, que conseguimos fazer com que a sentença fosse anulada e Meriam, libertada", disse a jornalista italiana.
No entanto, quando a família da sudanesa tentava deixar seu país, a mulher foi presa novamente por um período de dois dias.
Após duas detenções e muito sofrimento, Merian, seu marido e seus dois filhos, que estavam abrigados na embaixada nos Estados Unidos, conseguiram sair do país. A primeira parada dos quatro foi à Itália, onde eles foram recebidos pelo ex-premier Matteo Renzi e pelo papa Francisco no Vaticano, que disse que a mulher é um exemplo de cristã que até ele deveria seguir. Depois disso, a família foi para a Filadélfia, nos Estados Unidos, de onde o marido de Meriam tem dupla cidadania. "A história de Meriam é particularmente importante porque é também uma mensagem de esperança. Em um momento no qual há uma perseguição a cristãos tão vasta e se fala pouco disso, apenas os atos de terrorismo impactantes que envolvem centenas de pessoas [são comentados], quis mostrar essa história para que se entendesse o radical problema [do Sudão]", explicou Napoli. Segundo a escritora, ela descobriu a história da jovem sudanesa durante sua primeira viagem ao Sudão, que realizou para cobrir a crise de Darfur, região no oeste do país. Lá ela conheceu muitas realidades diferentes da sua e percebeu que na Itália se falava pouco desses conflitos e do país como um todo. "Não foi a Antonella que escolheu o Sudão, foi o Sudão que escolheu a Antonella. Por que, quando eu cheguei lá e vi com meus próprios olhos a realidade de Darfur, as crianças esqueléticas com as barrigas inchadas, as mulheres com os olhos abertos pela violência que sofreram, eu senti que a minha missão estava naquele lugar, eu precisava contar o que estava acontecendo", explicou Napoli. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
"Em um primeiro momento trabalhamos com um perfil baixo, procurando envolver as embaixadas para tentar bloquear a sentença [de Meriam]", disse Napoli à ANSA durante evento no colégio italiano Eugenio Montale em São Paulo nesta segunda-feira, dia 24. "Depois o juiz quis seguir em frente, houve a condenação e naquele momento criamos a mobilização com um apelo que na Itália foi ouvido pelo 'Avvenire', o jornal católico mais importante do país, pelo primeiro-ministro da época, Matteo Renzi, e por muitos expoentes da cultura e do espetáculo. E essa mobilização cresceu até se tornar internacional. A pressão foi tão forte, grande, que conseguimos fazer com que a sentença fosse anulada e Meriam, libertada", disse a jornalista italiana.
No entanto, quando a família da sudanesa tentava deixar seu país, a mulher foi presa novamente por um período de dois dias.
Após duas detenções e muito sofrimento, Merian, seu marido e seus dois filhos, que estavam abrigados na embaixada nos Estados Unidos, conseguiram sair do país. A primeira parada dos quatro foi à Itália, onde eles foram recebidos pelo ex-premier Matteo Renzi e pelo papa Francisco no Vaticano, que disse que a mulher é um exemplo de cristã que até ele deveria seguir. Depois disso, a família foi para a Filadélfia, nos Estados Unidos, de onde o marido de Meriam tem dupla cidadania. "A história de Meriam é particularmente importante porque é também uma mensagem de esperança. Em um momento no qual há uma perseguição a cristãos tão vasta e se fala pouco disso, apenas os atos de terrorismo impactantes que envolvem centenas de pessoas [são comentados], quis mostrar essa história para que se entendesse o radical problema [do Sudão]", explicou Napoli. Segundo a escritora, ela descobriu a história da jovem sudanesa durante sua primeira viagem ao Sudão, que realizou para cobrir a crise de Darfur, região no oeste do país. Lá ela conheceu muitas realidades diferentes da sua e percebeu que na Itália se falava pouco desses conflitos e do país como um todo. "Não foi a Antonella que escolheu o Sudão, foi o Sudão que escolheu a Antonella. Por que, quando eu cheguei lá e vi com meus próprios olhos a realidade de Darfur, as crianças esqueléticas com as barrigas inchadas, as mulheres com os olhos abertos pela violência que sofreram, eu senti que a minha missão estava naquele lugar, eu precisava contar o que estava acontecendo", explicou Napoli. (ANSA)
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