O que é verdade ou mentira na crise migratória?
SÃO PAULO, 04 JUL (ANSA) - A chegada em massa de deslocados externos e migrantes ao litoral da Itália vem polarizando o debate político não apenas na península, mas em toda a União Europeia, com declarações contundentes de todos os lados.
Confira abaixo um fact-checking (checagem de fatos) sobre a crise migratória elaborado pelo Instituto de Estudos de Política Internacional (Ispi), think tank sediado em Milão, para saber o que é verdade ou mentira na emergência do Mediterrâneo.
Cada vez chegam mais imigrantes à Itália - Verdadeiro, caso se considere apenas os desembarques no Mediterrâneo, que passaram de uma média de 25 mil por ano entre 2004 e 2013 para 170 mil entre 2014 e 2016. Em 2017, os portos italianos já receberam 85.170 pessoas resgatadas no mar, um crescimento de 19,38% em relação ao mesmo período de 2016, ano que já havia batido recorde, segundo dados do Ministério do Interior.
No entanto, quando junta-se a esses números a imigração legal, o cenário é diferente. Contando também as pessoas que entraram no país por terra ou ar e subtraindo os estrangeiros que foram embora, a "imigração líquida" caiu de 350 mil por ano entre 2004 e 2013 para 305 mil entre 2014 e 2016.
Os migrantes fogem principalmente de conflitos - Falso. De acordo com o Ispi, 85 a cada 100 entradas registradas na Itália em 2016 se deveram predominantemente a razões econômicas, algo que não dá direito a refúgio ou asilo. É quase impossível estabelecer com certeza o que motiva uma pessoa a ir embora de seu país, mas o think tank se baseia na seguinte conta: 62% dos estrangeiros chegam à Itália de modo legal, ou seja, são "migrantes econômicos". Já outros 23% entram pelo Mediterrâneo, mas têm seus pedidos de refúgio negados, totalizando 85%, provavelmente por também terem se deslocado por questões econômicas.
As realocações na União Europeia não estão funcionando - Verdadeiro. Das 39,6 mil pessoas acolhidas pela Itália que deviam ser redistribuídas pelos países da UE, apenas 7.396 foram beneficiadas, o que equivale a 18,67%. O plano entrou em vigor em setembro de 2015, o que dá uma média de 336,2 reassentamentos por mês. Os números são do Ministério do Interior.
As estruturas de acolhimento estão no limite de sua capacidade - Verdadeiro, mas com ressalvas. Hoje a Itália abriga 179 mil pessoas em centros de acolhimento, e o governo tenta identificar novos lugares para ampliar esse número para 200 mil.
Contudo, em dezembro de 2016, a Associação Nacional das Cidades Italianas (Anci) chegou a um acordo com o Ministério do Interior para que os municípios com até 2 mil habitantes recebessem seis solicitantes de refúgio cada um. Já os outros acolheriam 3,5 requerentes para cada 1 mil moradores.
Se fosse aplicado em sua totalidade, o plano daria abrigo a cerca de 200 mil pessoas. Atualmente, apenas 2,9 mil das 8 mil cidades da Itália acolhem pelo menos um solicitante de refúgio.
Terroristas se infiltram entre os solicitantes de refúgio - Falso, ou quase. Entre todos aqueles que cometeram ou tentaram cometer atentados na Europa desde 2014, apenas oito muito provavelmente entraram no continente pelas rotas migratórias, segundo o Ispi. Levando-se em conta que 1,5 milhão de pessoas chegaram à Europa nos últimos três anos, trata-se de 0,0005% do total. Dos 65 indivíduos que realizaram ataques jihadistas no continente entre junho de 2014 e de 2017, 73% eram cidadãos do país onde foi realizada a ação. Outros 14% eram cidadãos ou "visitantes" provenientes de nações europeias vizinhas à do local do atentado. Os 5% restantes eram solicitantes de refúgio.
Mas isso não significa que não haja motivo para preocupação.
Segundo um relatório da Europol, entre 2015 e 2016, foram documentados pelo menos 300 casos de tentativas de radicalização por parte do Estado Islâmico (EI) e voltadas a pessoas em viagem rumo à Europa.
Estrangeiros roubam o trabalho dos italianos e derrubam os salários - Falso. Em média, os imigrantes recebem salários menores que os nativos, mas não há nenhum estudo que comprove efeitos negativos sobre os vencimentos dos cidadãos locais ou um aumento do desemprego entre os habitantes daquela nação. Em 2016, um estudo dinamarquês mostrou que um grande fluxo migratório nos anos 1990 forçou a mão de obra local a se reinserir em empregos de maior qualificação, com um efeito positivo sobre os salários.
Os imigrantes aumentam a criminalidade - Depende. É impossível chegar a essa resposta diretamente. A única forma de se estimar é contabilizar as denúncias e a população carcerária. Em 2015, 8,3% da população da Itália era estrangeira, enquanto as denúncias contra imigrantes representavam 32% do total. Já a porcentagem de detentos estrangeiros era de 33%.
Ou seja, é fato que um imigrante tem mais chances de ser preso na península que um italiano. Mas o aumento dos fluxos migratórios não corresponde à evolução na quantidade de crimes.
Entre 2009 e 2015, a população estrangeira residente na Itália cresceu 47%, porém o número de denúncias contra imigrantes caiu de 35,5% para 32%. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Confira abaixo um fact-checking (checagem de fatos) sobre a crise migratória elaborado pelo Instituto de Estudos de Política Internacional (Ispi), think tank sediado em Milão, para saber o que é verdade ou mentira na emergência do Mediterrâneo.
Cada vez chegam mais imigrantes à Itália - Verdadeiro, caso se considere apenas os desembarques no Mediterrâneo, que passaram de uma média de 25 mil por ano entre 2004 e 2013 para 170 mil entre 2014 e 2016. Em 2017, os portos italianos já receberam 85.170 pessoas resgatadas no mar, um crescimento de 19,38% em relação ao mesmo período de 2016, ano que já havia batido recorde, segundo dados do Ministério do Interior.
No entanto, quando junta-se a esses números a imigração legal, o cenário é diferente. Contando também as pessoas que entraram no país por terra ou ar e subtraindo os estrangeiros que foram embora, a "imigração líquida" caiu de 350 mil por ano entre 2004 e 2013 para 305 mil entre 2014 e 2016.
Os migrantes fogem principalmente de conflitos - Falso. De acordo com o Ispi, 85 a cada 100 entradas registradas na Itália em 2016 se deveram predominantemente a razões econômicas, algo que não dá direito a refúgio ou asilo. É quase impossível estabelecer com certeza o que motiva uma pessoa a ir embora de seu país, mas o think tank se baseia na seguinte conta: 62% dos estrangeiros chegam à Itália de modo legal, ou seja, são "migrantes econômicos". Já outros 23% entram pelo Mediterrâneo, mas têm seus pedidos de refúgio negados, totalizando 85%, provavelmente por também terem se deslocado por questões econômicas.
As realocações na União Europeia não estão funcionando - Verdadeiro. Das 39,6 mil pessoas acolhidas pela Itália que deviam ser redistribuídas pelos países da UE, apenas 7.396 foram beneficiadas, o que equivale a 18,67%. O plano entrou em vigor em setembro de 2015, o que dá uma média de 336,2 reassentamentos por mês. Os números são do Ministério do Interior.
As estruturas de acolhimento estão no limite de sua capacidade - Verdadeiro, mas com ressalvas. Hoje a Itália abriga 179 mil pessoas em centros de acolhimento, e o governo tenta identificar novos lugares para ampliar esse número para 200 mil.
Contudo, em dezembro de 2016, a Associação Nacional das Cidades Italianas (Anci) chegou a um acordo com o Ministério do Interior para que os municípios com até 2 mil habitantes recebessem seis solicitantes de refúgio cada um. Já os outros acolheriam 3,5 requerentes para cada 1 mil moradores.
Se fosse aplicado em sua totalidade, o plano daria abrigo a cerca de 200 mil pessoas. Atualmente, apenas 2,9 mil das 8 mil cidades da Itália acolhem pelo menos um solicitante de refúgio.
Terroristas se infiltram entre os solicitantes de refúgio - Falso, ou quase. Entre todos aqueles que cometeram ou tentaram cometer atentados na Europa desde 2014, apenas oito muito provavelmente entraram no continente pelas rotas migratórias, segundo o Ispi. Levando-se em conta que 1,5 milhão de pessoas chegaram à Europa nos últimos três anos, trata-se de 0,0005% do total. Dos 65 indivíduos que realizaram ataques jihadistas no continente entre junho de 2014 e de 2017, 73% eram cidadãos do país onde foi realizada a ação. Outros 14% eram cidadãos ou "visitantes" provenientes de nações europeias vizinhas à do local do atentado. Os 5% restantes eram solicitantes de refúgio.
Mas isso não significa que não haja motivo para preocupação.
Segundo um relatório da Europol, entre 2015 e 2016, foram documentados pelo menos 300 casos de tentativas de radicalização por parte do Estado Islâmico (EI) e voltadas a pessoas em viagem rumo à Europa.
Estrangeiros roubam o trabalho dos italianos e derrubam os salários - Falso. Em média, os imigrantes recebem salários menores que os nativos, mas não há nenhum estudo que comprove efeitos negativos sobre os vencimentos dos cidadãos locais ou um aumento do desemprego entre os habitantes daquela nação. Em 2016, um estudo dinamarquês mostrou que um grande fluxo migratório nos anos 1990 forçou a mão de obra local a se reinserir em empregos de maior qualificação, com um efeito positivo sobre os salários.
Os imigrantes aumentam a criminalidade - Depende. É impossível chegar a essa resposta diretamente. A única forma de se estimar é contabilizar as denúncias e a população carcerária. Em 2015, 8,3% da população da Itália era estrangeira, enquanto as denúncias contra imigrantes representavam 32% do total. Já a porcentagem de detentos estrangeiros era de 33%.
Ou seja, é fato que um imigrante tem mais chances de ser preso na península que um italiano. Mas o aumento dos fluxos migratórios não corresponde à evolução na quantidade de crimes.
Entre 2009 e 2015, a população estrangeira residente na Itália cresceu 47%, porém o número de denúncias contra imigrantes caiu de 35,5% para 32%. (ANSA)
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