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Gentiloni x Tajani, a disputa não declarada pelo governo

28/02/2018 20h27

SÃO PAULO, 28 FEV (ANSA) - Paolo Gentiloni, 63 anos. Antonio Tajani, 64. Romanos, jornalistas, "nobres" e candidatos não declarados a primeiro-ministro da Itália. Com trajetórias cheias de semelhanças, os dois são os mais cotados para governar o país após as eleições de 4 de março, que podem revelar um cenário de fragmentação e incertezas devido à falta de uma maioria clara no Parlamento.   

Gentiloni já é premier desde o fim de 2016 e disputa um assento na Câmara dos Deputados pelo centro-esquerdista Partido Democrático (PD). Tajani, por sua vez, nem candidato é. Ele ocupa desde o ano passado a Presidência do Parlamento Europeu e milita em Bruxelas há mais de duas décadas.   

Embora rivais, ambos possuem muitos pontos em comum em suas histórias, começando na adolescência, quando Tajani liderava estudantes de direita, e Gentiloni, de esquerda, no tradicional colégio Torquato Tasso, em Roma.   

Os dois também trabalharam como porta-vozes de políticos importantes da Itália: o mais velho, de Silvio Berlusconi, no ano de sua "descida a campo", em 1994; o mais jovem, do então prefeito de Roma, Francesco Rutelli, que governou a "cidade eterna" entre 1993 e 2001.   

Tanto Tajani quanto Gentiloni também tentaram assumir o comando da capital da Itália, sendo que o primeiro chegou mais perto, ao perder para Walter Veltroni por 52% a 48% em 2011 - Gentiloni não passou das primárias do PD em 2013.   

Embora não tenha "sangue azul", Tajani foi militante da Frente Monárquica Juvenil, enquanto o primeiro-ministro é membro de uma família de nobres italianos, os condes Gentiloni Silveri, que possuíam amplos domínios na região de Marcas.   

Ambos deixaram a aristocracia de lado para se lançar na carreira jornalística, sem romper com a veia política que os acompanhava desde a juventude. Gentiloni escreveu para jornais de esquerda e para uma revista ambientalista chamada "Nuova Ecologia", enquanto Tajani contribuiu para o periódico conservador "Settimanale".   

Outra semelhança entre eles está no futebol: apesar de nascidos em Roma, eles torcem para a Juventus, embora Gentiloni seja um "tifoso" um pouco mais discreto.   

Coalizões - De fato, tanto um quanto outro são vistos como moderados e conciliadores, com poucos inimigos na vida pública.   

Gentiloni passou a ser cogitado para continuar no cargo devido ao perfil polarizador do atual líder do PD, o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi.   

Em uma situação de fragmentação no Parlamento, o chefe de governo seria uma figura mais palatável e capaz de atrair apoio entre forças de oposição, como o próprio Força Itália (FI), partido de Tajani e presidido por Silvio Berlusconi. "Quem foi presidente do Conselho dos Ministros, como Gentiloni, poderá jogar suas cartas no futuro", admitiu Renzi recentemente.   

Já o FI é o principal pilar da coalizão conservadora que lidera as pesquisas de intenção de voto, mas Berlusconi, inelegível até 2019, não pode exercer cargos públicos e teria de escolher um de seus pupilos. Ele ainda não bateu o martelo, mas vem fazendo muitos elogios a Tajani.   

"Ele é o homem certo, e gostaria que fosse o premier. Mas assumi o compromisso de que ele dirá se está disponível", afirmou Berlusconi nesta semana. O presidente do Parlamento Europeu terá de pesar na balança a estabilidade de seu posto atual e a instabilidade inerente à chefia do governo italiano, ainda mais com um Berlusconi que pode pleitear sua poltrona a partir de 2019, quando cairá sua inelegibilidade.   

Um indício de que o olhar de Tajani pode estar mais voltado para Roma do que para Bruxelas é sua recente intervenção junto ao Ministério da Indústria do Brasil para tentar solucionar a crise envolvendo a Embraco, empresa que demitirá quase 500 pessoas na Itália e que virou tema da campanha eleitoral.   

Se encontrar uma saída favorável aos italianos, Tajani talvez prejudique a Eslováquia, país para onde a companhia pretende levar sua produção e que também pertence à UE. Na cadeira de primeiro-ministro, no entanto, ele não terá de dar satisfações a Bratislava. (ANSA)
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