Especial/ 2018, o ano em que os 'ismos' voltaram à tona
SÃO PAULO, 20 DEZ (ANSA) - Por Lucas Rizzi - "O que é fascismo?" Essa foi a pergunta mais feita pelos brasileiros ao Google em 2018. Após 73 anos do fuzilamento de Benito Mussolini, o regime totalitário que varreu a Europa na primeira metade do século 20 voltou à baila, associado a líderes da direita nacionalista em ascensão pelo mundo.
Do presidente eleito Jair Bolsonaro ao ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, passando pelo americano Donald Trump e pelo mandatário das Filipinas, Rodrigo Duterte, o fascismo foi usado para tentar explicar e entender o sucesso de políticos que, cada um à sua maneira, passeiam por ideais de nacionalismo exacerbado e usam tons ameaçadores contra a imprensa e opositores.
Mas esse não é o único "ismo" que ganhou as manchetes em 2018.
No leste europeu, governos de países como Polônia e Hungria cavalgaram no medo do comunismo para minar liberdades e a independência judiciária; no Brasil, a bandeira vermelha do comunismo atribuído ao PT foi rechaçada pelos bolsonaristas; na Alemanha, manifestações da extrema direita em Chemnitz reacenderam o alerta para o risco de ressurgimento do nazismo.
"É impossível não ver que a falta de uma solução concreta para o gerenciamento da imigração, dos refugiados, da situação demográfica, tem levado a um incremento do medo", diz Elena Lazarou, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acrescentando, contudo, que os extremistas ainda representam uma "minoria.
Populismo - O fenômeno da ascensão da extrema direita no mundo está relacionado a um "ismo" que abarca todas as tendências e ganha força na medida em que a globalização se mostra nociva para uma classe média frustrada e estagnada: o populismo.
Esse cenário já vinha se desenhando na União Europeia havia alguns anos e ganhou impulso inédito em junho passado, quando o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) se uniu à ultranacionalista Liga para governar a Itália, quarta maior economia do bloco e a terceira da zona do euro.
Governos populistas já tinham ascendido ao poder em países do leste europeu, como Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia, mas nunca haviam conquistado uma nação tão grande e importante dentro da UE. Salvini já foi definido até como fascista por rivais internos e personalidades internacionais que vão de ministros europeus à atriz americana Pamela Anderson.
"Já existe na Europa um grande debate sobre os países do leste, Hungria, Polônia, Eslováquia, mas a Itália, também por ser um país tradicional, membro da União Europeia desde o início, e pelo tamanho de sua economia, tem um potencial de influência maior", explica Lazarou.
Além da experiência italiana, o populismo anti-migrantes e eurocético deu combustível para manifestações multitudinárias na Alemanha e colocou um partido de ultradireita, o Vox, em um Parlamento regional espanhol, na Andaluzia, pela primeira vez desde o fim do franquismo.
Já há também quem encontre relação entre esse fenômeno e o movimento dos "coletes amarelos", que colocou o presidente da França, Emmanuel Macron, contra as cordas no fim deste ano. Para Lazarou, o populismo engloba grupos e partidos que não necessariamente compartilham as mesmas ideias, tanto à direita quanto à esquerda.
Mas, segundo a professora, há alguns pontos em comum, principalmente no campo conservador: "nacionalismo na crise migratória, reação nacionalista ao controle das finanças públicas pela União Europeia e o discurso de que a globalização foi usada de maneira desigual para fortalecer os ricos e enfraquecer os pobres".
Fora das fronteiras europeias, Bolsonaro surfou no desencanto da população com a classe política tradicional - embora ele mesmo seja um membro dessa casta, ainda que do baixo clero - e levou o populismo à vitória na maior nação do Hemisfério Sul.
Ao norte, o governo do republicano Trump fez surgir uma nova geração de políticos democratas abertamente socialistas, em um país onde esse termo era visto com ojeriza até pouco tempo atrás. Mais um sinal de que, em 2018, os termos do passado foram a nova moda da política. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Do presidente eleito Jair Bolsonaro ao ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, passando pelo americano Donald Trump e pelo mandatário das Filipinas, Rodrigo Duterte, o fascismo foi usado para tentar explicar e entender o sucesso de políticos que, cada um à sua maneira, passeiam por ideais de nacionalismo exacerbado e usam tons ameaçadores contra a imprensa e opositores.
Mas esse não é o único "ismo" que ganhou as manchetes em 2018.
No leste europeu, governos de países como Polônia e Hungria cavalgaram no medo do comunismo para minar liberdades e a independência judiciária; no Brasil, a bandeira vermelha do comunismo atribuído ao PT foi rechaçada pelos bolsonaristas; na Alemanha, manifestações da extrema direita em Chemnitz reacenderam o alerta para o risco de ressurgimento do nazismo.
"É impossível não ver que a falta de uma solução concreta para o gerenciamento da imigração, dos refugiados, da situação demográfica, tem levado a um incremento do medo", diz Elena Lazarou, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acrescentando, contudo, que os extremistas ainda representam uma "minoria.
Populismo - O fenômeno da ascensão da extrema direita no mundo está relacionado a um "ismo" que abarca todas as tendências e ganha força na medida em que a globalização se mostra nociva para uma classe média frustrada e estagnada: o populismo.
Esse cenário já vinha se desenhando na União Europeia havia alguns anos e ganhou impulso inédito em junho passado, quando o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) se uniu à ultranacionalista Liga para governar a Itália, quarta maior economia do bloco e a terceira da zona do euro.
Governos populistas já tinham ascendido ao poder em países do leste europeu, como Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia, mas nunca haviam conquistado uma nação tão grande e importante dentro da UE. Salvini já foi definido até como fascista por rivais internos e personalidades internacionais que vão de ministros europeus à atriz americana Pamela Anderson.
"Já existe na Europa um grande debate sobre os países do leste, Hungria, Polônia, Eslováquia, mas a Itália, também por ser um país tradicional, membro da União Europeia desde o início, e pelo tamanho de sua economia, tem um potencial de influência maior", explica Lazarou.
Além da experiência italiana, o populismo anti-migrantes e eurocético deu combustível para manifestações multitudinárias na Alemanha e colocou um partido de ultradireita, o Vox, em um Parlamento regional espanhol, na Andaluzia, pela primeira vez desde o fim do franquismo.
Já há também quem encontre relação entre esse fenômeno e o movimento dos "coletes amarelos", que colocou o presidente da França, Emmanuel Macron, contra as cordas no fim deste ano. Para Lazarou, o populismo engloba grupos e partidos que não necessariamente compartilham as mesmas ideias, tanto à direita quanto à esquerda.
Mas, segundo a professora, há alguns pontos em comum, principalmente no campo conservador: "nacionalismo na crise migratória, reação nacionalista ao controle das finanças públicas pela União Europeia e o discurso de que a globalização foi usada de maneira desigual para fortalecer os ricos e enfraquecer os pobres".
Fora das fronteiras europeias, Bolsonaro surfou no desencanto da população com a classe política tradicional - embora ele mesmo seja um membro dessa casta, ainda que do baixo clero - e levou o populismo à vitória na maior nação do Hemisfério Sul.
Ao norte, o governo do republicano Trump fez surgir uma nova geração de políticos democratas abertamente socialistas, em um país onde esse termo era visto com ojeriza até pouco tempo atrás. Mais um sinal de que, em 2018, os termos do passado foram a nova moda da política. (ANSA)
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