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'Demos três passos e baixou o lençol de fumaça', lembra sobrevivente

27/01/2014 17h49

Mesmo um ano depois do incêndio que matou 242 pessoas em Santa Maria, as imagens do que aconteceu naquela madrugada do dia 27 na boate Kiss são revividas o tempo inteiro pelos jovens que sobreviveram à tragédia.

Era um fim de semana especial para a representante comercial Natália Greff, de 28 anos.

Dois grandes amigos com quem havia morado durante um intercâmbio na Nova Zelândia anos antes estavam vindo a Santa Maria visitá-la.

Felipe Vieira veio de Caxias do Sul e Rafael Carvalho - seu "amigo-irmão" - veio de São Paulo e estava fazendo aniversário.

Quando o empurra-empurra começou, acharam que era uma briga. Ao ver o fogo, Rafael chegou a falar em tentar apagá-lo. Mas uma amiga falou que não poderia se arriscar por ser mãe de uma filha pequena e foi a primeira a sair. Natália convenceu os outros dois a irem atrás.

Foi quando um lençol de fumaça preta baixou sobre a boate e eles conseguiram dar poucos passos, como conta em relato à BBC Brasil.

Coma

Natália passou quatro dias em coma e foi levada para um hospital em Porto Alegre, para onde vários feridos foram transferidos para receber atendimento.

Ela teve alta nove dias depois - e só então soube que os dois amigos haviam morrido.

"A gente se faz perguntas o tempo todo. Por que nós? Por que meu amigo, que veio para o Rio Grande do Sul pela primeira vez depois de viajar o mundo? Por que ele foi morrer logo aqui me visitando?"

Natália diz ter mudado muito. Tenta ser uma pessoa melhor e ao mesmo tempo é menos tolerante com o que não considera importante.

Mas a melhor notícia que recebeu no último ano foi descobrir que Rafael havia deixado um filho de quem ninguém sabia. Após o incêndio, a mãe do menino procurou a família.

"Foi mais uma loucura para as nossas cabeças mas foi uma benção divina que hoje é um alento para os nossos corações", diz.