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Como um jovem brasileiro fez a diferença para comunidades na África

Bruno Feder, 31, natural de São Paulo, reverte o dinheiro de suas fotografias para melhorar a vida de comunidades em Uganda e no Sudão do Sul - BBC/Cross Geographic/Reprodução
Bruno Feder, 31, natural de São Paulo, reverte o dinheiro de suas fotografias para melhorar a vida de comunidades em Uganda e no Sudão do Sul Imagem: BBC/Cross Geographic/Reprodução

Thiago Guimarães

Da BBC Brasil, em São Paulo

23/07/2015 05h47

Um jovem ocidental de 30 e poucos anos, criado em grandes centros urbanos, pode fazer a diferença em comunidades remotas na África rural?

Pode parecer impossível, mas é o que vem fazendo Bruno Feder, 31 anos, natural de São Paulo.

Feder transformou o hobby em profissão e há um ano e meio reverte o dinheiro de suas fotografias, registradas na África, para melhorar a vida de comunidades em Uganda e no Sudão do Sul.

Tudo começou em 2013, quando Feder decidiu fazer um curso no ICP (International Center of Photography), em Nova York. Por lá, conheceu a fotógrafa Louise Contino, que estava de malas prontas para Uganda.

O destino era Wanteete, localidade rural a cerca de 150 km da capital do país, Kampala. Uma vila de 3 mil moradores sem saneamento básico, médicos nem água limpa.

Louise ensinaria 15 moradores da comunidade a contar histórias por meio da fotografia, e Feder acabou como assistente do projeto.

De volta ao Brasil, teve a ideia de vender as imagens captadas na comunidade para melhorar a condição de vida dos próprios moradores.

Com o dinheiro de 27 fotos, ele voltou a Wanteete em agosto de 2014. Passou dias comprando madeira para mesas e cadeiras, medindo crianças e adquirindo tecidos para uniformes.

Reforma na escola de Wanteete; fotógrafo acompanha a contratação e execução dos trabalhos.

Resultado: 600 lápis, 600 livros, 200 apontadores, 180 uniformes e um caminhão de tábuas para originar mesas e cadeiras para a pequena escola local, até então sem mobília.

O sucesso da primeira empreitada rendeu uma exposição de fotos no Brasil em novembro do ano passado, a Uganda Edition, onde Feder vendeu mais cem registros do projeto, que batizou como Cross Geographic.

O brasileiro diz que procura intervir o mínimo possível nas cenas que registra, e que, sempre que pode, opta por fugir dos clichês de miséria associados à realidade africana. "É importante mostrar coisas positivas de uma região que já é tão estigmatizada. Costuma-se pensar apenas em Aids, pobreza e guerra em relação à África, e não há só isso", afirma.

Coloridos e em preto e branco, os registros de Feder custam R$ 350 cada um, em formato 30x40 cm, e privilegiam cenas da vida cotidiana e da natureza locais.

Cliques que são revertidos em recursos costumam retratar cenas cotidianas de comunidades africanas.

Consolidação e ampliação

O fotógrafo, que tem formação em Relações Internacionais, diz ter revertido cerca de US$ 25 mil em realizações em Wanteete.

A partir da terceira visita, em dezembro de 2014, o projeto também financiou ações em saúde. Distribuiu mais de 4.000 preservativos e 500 escovas de dente, vermifugou 200 crianças, montou uma tenda para atendimentos dentários e viabilizou a cirurgia, na capital, de uma moradora idosa com câncer no pescoço.

E com o reforço em infraestrutura, a escola cresceu e passou a receber mais 120 alunos.

O trabalho no Cross Geographic deu vazão à vocação de Feder, que sempre se interessou por culturas e povos distantes. Após passar um ano na Nova Zelândia na adolescência, enquanto colegas sonhavam com viagens aos EUA e à Europa, ele mapeava destinos como Laos, Nepal e Filipinas.

"Sempre me interessei por temas globais", conta o fotógrafo, que antes trabalhou em setores de relações internacionais na prefeitura e no governo de São Paulo.

Sudão do Sul

Em abril deste ano, ao fazer mais uma visita a Uganda, Feder teve a oportunidade de viajar ao Sudão do Sul, país mais novo do mundo e cenário de uma dura guerra civil há quase dois anos.

Baseado em Juba, capital do Sudão do Sul, o brasileiro esteve em campos de refugiados (a estimativa da ONU é de 2,2 milhões de deslocados em razão do conflito) e ajudou a registrar o trabalho de entidades como a ONG sul-sudanesa CCC (Confident Children Out of Conflict, crianças confiantes fora de conflito, em tradução livre), que trabalha com crianças órfãs e vítimas de violência.

No registro de Feder, a brincadeira de uma criança em meio a um campo de refugiados no Sudão do Sul.

Bancando os próprios custos, ele irá retornar ao Sudão do Sul em agosto (após uma parada em Uganda para obtenção do visto) para mais uma missão de "coisas pontuais e possíveis de se realizar", como as pequenas melhorias que ajudou a viabilizar em Uganda.

"É algo que discuto na hora e vejo a demanda com diretores de escolas, por exemplo."

O trabalho em uma nação em guerra, naturalmente, é muito mais difícil. Feder conta que a população sul-sudanesa em geral é mais arredia aos registros. "São gerações sofridas e perdidas, e tudo o que sabem envolve conflito", afirma.

Há também dificuldades com tropas policiais e militares, que impedem o registro de estruturas que possam identificar determinada região, como pontes e viadutos, e não raro trabalham alcoolizados e praticando extorsão.

"O Sudão do Sul é um bebê do mundo, completamente abandonado", diz o fotógrafo brasileiro, ao explicar o que o motiva para começar uma nova história pelos confins da África.