Temer vai fracassar se cometer o erro de distribuir ministérios, diz Aécio
Principal porta-voz da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) diz acreditar que um eventual governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB) só será bem-sucedido se não forem repetidas práticas que ele critica como "equivocadas" da gestão Dilma Rousseff, como o "loteamento" de cargos em órgãos públicos e empresas estatais.
"Se Temer cometer o equívoco, e espero que não cometa, de repetir esse modus operandi de distribuir ministérios para formar o governo, ele vai fracassar", afirmou Aécio em conversa com um pequeno grupo de jornalistas nesta quarta-feira (30), em Lisboa.
"Nós estamos dispostos a nos envolver, pela emergência da crise, e eu estive com o vice-presidente há menos de duas semanas e disse isso a ele. Mas a nossa conversa não é em torno de cargo, é em torno de um projeto", afirmou o senador, que também é presidente do PSDB.
Segundo o tucano, seu partido se afastará de um eventual governo de transição caso perceba um movimento na direção da distribuição de cargos.
"O PSDB não vai virar as costas para um governo Temer se ele acontecer. Vamos apoiá-lo na sociedade, nos setores onde temos interlocução, vamos apoiá-lo no Congresso Nacional. Mas a dimensão do nosso apoio vai depender muito da postura do Temer, do que ele disser a que veio. Por que, se ele começar a fazer um novo loteamento de cargos, nós não vamos chegar nem perto", afirmou.
Aécio viajou à capital portuguesa para participar, nesta quinta-feira (31), do último dia do 4º Seminário Luso-Brasileiro de Direito, evento que nos últimos dias reuniu personagens da oposição a Dilma –a participação de Temer, que fazia parte da programação, acabou cancelada.
Na avaliação do senador, as críticas ao encontro de oposicionistas em Portugal são indicativos de "fragilidade" do governo petista.
"O governo está tão sensível e fragilizado que quiseram transformar esse seminário numa grande conspiração. Como se isso tivesse qualquer sentido, como se fôssemos conspirar num auditório em Lisboa", ironizou.
'Mercantilização do poder'
A respeito do loteamento de cargos em troca de apoio político, Aécio afirmou que "essa mercantilização sempre houve no passado, vamos ser justos, mas atingiu níveis vergonhosos no atual governo. São ministérios, cargos públicos, direção de estatais, coisas que mexem com a vida das pessoas, distribuídas como se fossem bananas na feira livre".
"Eu diria que o governo da presidente Dilma vai cair, mas corre o risco de perder não apenas no voto, mas também a dignidade. Muitos governos já foram derrubados pelo mundo, mas caíram de pé. E penso que ela deveria estar mais atenta a isso nesse momento”, disse o tucano.
Ele negou que vá negociar cargos em troca de apoio ao atual vice caso a saída da presidente se concretize.
"O Michel (Temer) pode vir a nomear alguém do partido, mas isso não será uma demanda nossa, não vamos indicar ninguém nem exigir cargos, pelo contrário. Vamos sugerir que ele faça um governo acima dos partidos políticos."
'Mal menor'
Segundo colocado no último pleito, de 2014, Aécio também considera a "melhor solução" a realização de novas eleições presidenciais, mas "optou por apoiar o impeachment" diante do agravamento da crise.
"Dentro do partido muitos relutaram até pouco tempo atrás em apoiar o impeachment, porque consideravam, e eu me incluo entre eles, que o melhor caminho para o Brasil interromper esse ciclo de governo do PT seria a realização de novas eleições", disse. "Para que houvesse um governo eleito com uma agenda clara, aprovada pela sociedade, de reformas estruturais e que pudesse ser implementada. Isso seria o ideal para o país e eu não nego isso".
"O problema é que hoje há uma questão emergencial no país. O Brasil não suporta mais três ou seis meses do atual governo. O desemprego disparou, a inflação está corroendo o salário do trabalhador que recebe menos. O empresário não investe R$ 1 em um cenário desses e, por isso, optamos por apoiar o impeachment."
Na opinião de Aécio, o impeachment não vai resolver a crise brasileira do dia para a noite –e é preciso entender que haverá um longo período até o país se recuperar.
“Não haverá uma solução fácil. Não esperem dias fáceis, mesmo com a aprovação do impeachment. Esperem dias muito, muito difíceis para o Brasil. Por que a ausência da legitimidade do voto joga contra quem precisa de medidas amargas", avaliou.
"Por isso eu sempre achei que a saída da presidente Dilma pelo Tribunal Superior Eleitoral (onde as contas da campanha petista de 2014 estão sendo julgadas) seria a mais adequada. Todas as saídas serão traumáticas, o TSE talvez fosse a menos traumática, e certamente a permanência da Dilma será a mais de todas”, opinou o senador.
Fator Cunha
O tucano também comentou as denúncias contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) --réu na Lava Jato--, e a sua permanência no cargo.
egundo ele, "esse é um problema que o PMDB e o Michel Temer" terão de resolver.
"Esse é um bom ponto. As pessoas querem o afastamento da presidente e nós concordamos com isso, porque ela não tem mais condições de governar. Mas no dia seguinte será difícil quando as pessoas começarem a perceber que algumas lideranças políticas que foram sócias durante 14 anos disso aí (a gestão petista) estarão governando o Brasil", afirmou.
"Não vamos nos esquecer de que o PMDB foi nosso adversário nos últimos 14 anos e se fartou no banquete do governo do PT", disse o tucano.
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