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Adolescentes poderão ser "pedra no sapato" da extrema-direita na Áustria

Flora (esq.) era jovem demais para votar na eleição, mas sua amiga Lena já tinha 16 anos - BBC
Flora (esq.) era jovem demais para votar na eleição, mas sua amiga Lena já tinha 16 anos Imagem: BBC

Bethany Bell

Da BBC, em Viena

23/09/2016 19h43

Muitos austríacos devem estar frustrados pela controvérsia envolvendo a última eleição presidencial, que teve o segundo turno anulado por causa de um erro na validação dos votos em 14 de 20 distritos. Mas Flora Maier não é uma delas.

Ela tinha 15 anos quando o pleito começou a ser realizado, em abril, e estava abaixo da idade mínima para votar.

O segundo turno, que será realizado em 4 de dezembro, pode resultar na eleição do primeiro chefe de Estado de extrema-direita (Nobert Hofer, do Partido da Liberdade).

Flora, que fez aniversário em 23 de maio - curiosamente, um dia após a realização do segundo turno - agora tem uma chance de participar do processo. Ela e outros 45.600 adolescentes austríacos que chegaram aos 16 anos desde maio.

"Eu fiquei extremamente feliz. Para mim, é importante dar minha opinião", conta a jovem.

A Áustria vem tentando eleger um presidente há meses, mas os planos têm sido frustrados por uma série de problemas. Em maio, Alexander Van der Bellen, ex-líder do Partido Verde que se candidatou como independente, derrotou Hofer no segundo turno por menos de 1% diferença.

O resultado, porém, foi anulado pelo mais alto tribunal do país por causa de problemas na contagem dos votos postais.

Uma nova votação tinha sido marcada para 2 de outubro, mas teve de ser novamente adiada porque a cola usada para selar os envelopes dos votos postais estava falhando - um episódio que ficou conhecido como "Colagate".

Com medo de fraudes, o ministro do Interior, Wolfgang Sobotka, pediu ao Parlamento o adiamento do pleito, e a aprovação representou abriu uma brecha para dezenas de milhares de novos eleitores. Sua participação ainda depende da Justiça Eleitoral austríaca.

Dadas as margens tão apertadas do segundo turno, o voto jovem pode fazer a diferença. As pesquisas mais recentes dão a Hofer pequena vantagem, mas Flora representa uma fatia do eleitorado que pode estragar os planos da extrema-direita.

"Alexander Van der Bellen teve melhor desempenho entre eleitores jovens do que Norbert Hofer. Não seria vantajoso para Van der Bellen que adolescentes que completaram 16 anos desde a primeira eleição fossem excluídos", diz o analista político austríaco Thomas Hofer (que não é parente de Norbert).

O atraso nas eleições foi duramente criticado pelos austríacos. Para Thomas Hofer, o processo tem sido vergonhoso para a reputação do país. "Na esfera doméstica, a confiança no sistema político, que já era baixa, ficou ainda mais abalada."

Lena Ramaseder, amiga de Flora, e que votou na eleição, concorda que a situação é constrangedora.

"As coisas estão ficando um pouco ridículas e é um pouco triste que a gente ainda não tenha conseguido realizar a eleição."