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O homem que cruza fronteira a pé com 70 kg de brinquedos para alegrar crianças na Síria em guerra

28/09/2016 16h13

O sírio-finlandês Rami Adham se dedica a fazer crianças sorrir em meio à tristeza de uma guerra que parece não ter fim.

Nos últimos quatro anos, foram 28 viagens à Síria. Ele distribui brinquedos entre meninos e meninas de Aleppo, no norte do país. Em troca, recebe sorrisos muitas vezes tímidos, mas recompensadores.

Mas a iniciativa requer uma grande operação logística - ele cruza a fronteira entre a Turquia e a Síria carregando malas com até 70 kg de brinquedos. O trajeto é feito a pé e às vezes demora 16 horas.

Por causa de seu trabalho, Rami ficou conhecido como o "contrabandista de brinquedos de Aleppo".

"O sorriso que elas (crianças) te dão, a gratidão... você as ajuda a esquecer que elas perderam suas casas, suas escolas, seus brinquedos".

Segundo Rami, as bonecas Barbie são pesadas - ele diz colocar até cem em sua bagagem de mão. Também diz empacotar brinquedos mais maléaveis porque se acomodam em embalagens a vácuo e não correm o risco de quebrar.

Rami Adham durante a viagem

Rami chega a levar 70 kg de brinquedos - e parte do trajeto é feito a pé

Rami ainda ajuda a fornecer comida e outros suprimentos básicos por meio da Associação Síria-Finlandesa, que fundou por meio de doações. Agora, se dedica a construir escolas em campos de refugiados.

A reação das crianças, diz, encoraja seu retorno.

"Esse é o tipo de sentimento que me alimenta, que recarrega minhas baterias", diz ele.

Traumas da guerra

Rami diz que nunca conseguiu se esquecer de uma menina de seis anos que, traumatizada, não falava uma única palavra.

Forças do governo sírio haviam invadido sua casa, prendido seu pai dentro de um armário e ateado fogo nele, conta. Sua mãe foi sequestrada, e ninguém sabe o paradeiro dela.

"Ela gritou tanto que perdeu sua voz", afirma Rami, que diz tê-la visitado várias vezes e lhe dado uma Barbie e um pônei de brinquedo. "A reação dela foi sempre a mesma: um sorriso lindo".

Muitas outras crianças que Rami encontrou ficaram órfãs pela guerra. "Não há escola, nada para elas fazerem", explica.

"As crianças ali não têm medo mais da morte. Elas preferem morrer a se ferir - dizem que quando você morre não tem de se preocupar com mais nada."

Rami com crianças sírias

Muitas das crianças são órfãs e estão traumatizadas, conta ele

Sem acesso

Rami voltou recentemente de uma viagem de 12 dias na Síria. Ele levou brinquedos e suprimentos para várias áreas, incluindo um campo que abriga as pessoas que recentemente abandonaram a cidade de Darayya.

Mas não conseguiu encontrar uma rota segura no leste sitiado de Aleppo, cidade onde cresceu e que visita constantemente.

Depois de uma semana de cessar-fogo, voltou à Finlândia. Foi quando o local onde ele estava na Síria foi severamente atingido por um ataque aéreo - nove pessoas morreram, incluindo dois amigos dele.

"Agora, as crianças estão literalmente nadando na cratera que a bomba formou", afirma.

Ele espera poder retornar à Síria dentro das próximas semanas, mas se diz pessimista.

"Fiquei sabendo que várias pessoas que conheço estão mortas. Estou bem apavorado, nervoso sobre a próxima viagem."

Caso consiga ir, porém, não faltarão brinquedos. "São a primeira coisa na lista", garante.