Topo

Quem fez mais em seu primeiro mês como presidente: Obama ou Trump?

Rob Carr/Reuters
Imagem: Rob Carr/Reuters

Gerardo Lissardy

Da BBC Mundo, em Nova York

20/02/2017 18h05

Quando um presidente compara seus feitos com o de um antecessor, normalmente é porque ele está em campanha para a reeleição. Mas o recém-eleito Donald Trump já começou a fazer essas comparações menos de completar um mês ocupando o posto na Casa Branca.

"Tivemos progressos incríveis", disse Trump em uma entrevista de imprensa atípica e bastante acalorada na última quinta-feira.

"Não acredito que tenha havido um presidente eleito que, neste curto período de tempo, tenha feito tanto quanto nós fizemos", acrescentou. Trump completa um mês na Presidência nesta segunda-feira.

É verdade que muita coisa aconteceu desde aquele 20 de janeiro: anúncios surpreendentes, medidas polêmicas, escândalos como o que provocou a renúncia do novo assessor de segurança nacional de Trump, ataques do presidente contra a imprensa, contra a Justiça…

Mas olhando apenas para os resultados, diferentes especialistas negam que a afirmação de Trump seja "baseada em fatos reais".

"É uma loucura dizer que ele fez mais do que qualquer outro presidente no primeiro mês. Não fez", afirmou à BBC David Parker, um professor de Ciência Política que ensina sobre o êxito presidencial na Universidade Estatal de Montana.

Sendo assim, como de fato está sendo Trump em comparação com seu antecessor Barack Obama?

Muito 'barulho'

Trump disse na última quinta que sua administração "vai bem, como uma máquina bem afinada". Mas uma das primeiras coisas das quais é preciso para isso é ter um gabinete completo - algo que ele ainda não tem.

Ainda que seu partido, o Republicano, controle o Congresso, o processo de confirmação dos indicados para sua equipe tem demorado no Senado muito mais do que o que demoraram as indicações de outros presidentes recentes, incluindo Obama.

Quatro secretarias importantes do governo ainda esperam por seu novo chefe, incluindo a de Trabalho - seu indicado, Andrew Puzder, retirou a candidatura na semana passada por falta de apoio para assegurá-la no Senado.

Some-se a isso a renúncia, também na semana passada, do assessor de segurança nacional, Michael Flynn, depois de descobrirem que ele teria escondido informações do vice-presidente Mike Pence sobre seus contatos com a Rússia.

Trump tem tentado mostrar que seu governo anda conforme ele planejou, assinando ele mesmo mais de uma dúzia de ordens executivas, que em algumas áreas permitem pular o processo de aprovação do Congresso.

Mas até a eficácia delas é posta em dúvida por analistas.

"Houve muito barulho nessas assinaturas de documentos, mas seu impacto real é relativamente limitado", disse Mark Peterson, professor de Políticas Públicas na Universidade da Califórnia em Los Angeles.

O exemplo mais claro das dificuldades para avançar sua agenda tem sido o bloqueio que a Justiça impôs a sua ordem para proibir a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana nos Estados Unidos.

Essa era uma das promessas mais polêmicas de sua campanha e, apesar da derrota judicial, Trump disse que assinaria talvez ainda nesta semana uma nova ordem nesse sentido para "proteger o país".

Outra das promessas polêmicas foi a construção de um grande muro ao longo da fronteira com o México e, poucos dias depois de assumir o cargo, o presidente assinou outra ordem para que isso começasse a ser feito de maneira imediata.

Mas o muro de Trump segue sem ser construído e há estimativas de que a obra possam custar até US$ 21,6 milhões, um financiamento que depende de decisões do Congresso que parecem longe de se tornar realidade.

Do mesmo modo, o republicano pediu desde o início de seu mandato a revogação e substituição da emblemática reforma de saúde aprovada por seu antecessor, apelidada de "Obamacare".

Mas as diferenças entre os próprios republicanos sobre como fazer isso também o impediram de cumprir essa promessa no primeiro mês de governo.

As ideias de mudar o código tributário ou de destinar grandes recursos para reformas de infraestrutura do país também não avançaram no Congresso.

Então, o que fez Trump até agora?

2009 x 2017

Em sua última coletiva de imprensa, Trump ofereceu uma lista do que, a seu ver, são resultados concretos de seu governo.

Uma das primeiras coisas que mencionou foi ter tirado os Estados Unidos do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP, na sigla em inglês) assinado por Obama com outros 11 países.

Ele também autorizou a construção de dois gasodutos, o corte de regulações para fazer negócios e sustentou que, graças à sua eleição, empresas como Ford, Chrysler e General Motors anunciaram novos investimentos nos Estados Unidos - e que tiveram por consequência a criação de empregos.

Trump também lembrou que havia indicado o juiz Neil Gorsuch para ocupar a cadeira vazia na Suprema Corte dos Estados Unidos, cumprindo uma promessa de campanha para inclinar o tribunal para uma linha mais conservadora - o escolhido, porém, ainda não foi confirmado pelo Congresso.

Mas Obama também tinha uma lista de resultados para exibir depois de seu primeiro mês de governo, em 2009.

Segundo dados do Projeto para a Presidência Americana, Obama assinou mais ordens executivas em 2009 do que Trump fez agora.

Entre elas, fez uma proibindo formalmente a tortura a presos por suspeita de terrorismo e outra para fechar a prisão de Guantánamo - cujo resultado também não foi como esperado, já que, após o fim do segundo mandato do Barack Obama, o local ainda existe.

Feitos

Mas o feito mais significativo de Obama em seu primeiro mês de governo foi a aprovação de uma lei de estímulo econômico de US$ 800 bilhões em meio a gigante crise financeira que castigava o país.

Ele conseguiu isso coordenando a aprovação com o Congresso, que na época era controlado pelo seu Partido Democrata.

Também promulgou uma lei para fortalecer e ampliar um plano de cobertura médica a crianças que precisavam de um seguro de saúde e uma medida contra a discriminação no pagamento de salários.

Os analistas acreditam que, para conseguir esses resultados em seu primeiro mês de governo, Obama teve a "vantagem" da crise financeira que acometia o país naqueles anos, uma recessão que eliminou 800 mil postos de trabalho no primeiro mês.

"Era uma situação de crise, que tipicamente torna possível a aprovação de medidas de maneira mais rápida", afirma Peterson.

Ao defender seu governo, Trump disse na semana passada que teve como herança um "desastre" de seu antecessor.

Mas a economia americana acaba de passar por seu período mais prolongado de criação de postos de trabalho, com uma taxa de desemprego de 4,8% em janeiro, bastante inferior aos 7,8% registrados quando Obama assumiu o governo.

Os índices da Bolsa de Valores têm tido recordes desde que Trump assumiu, algo que mostra uma expectativa dos investidores por suas promessas, o que o presidente também apontou como um feito seu na semana passada.

Aprovação

Se a lista de feitos de Trump é grande, seu índice de aprovação já não vai tão bem assim. É o menor já registrado para um presidente estreante nos Estados Unidos e já é mais de 20 pontos abaixo do que tinha Obama (e outros antecessores) após um mês de Casa Branca.

Isso também pode ser chave para os resultados obtidos, já que quanto mais popular é um presidente, maior é sua capacidade de convencer o Congresso para aprovar suas leis.

Por isso, especialistas como Parker e Peterson acreditam que Obama teve claramente mais feitos do que Trump em suas primeiras semanas de mandato, ainda que um bom contraste seja mais conclusivo quando se completarem 100 dias de governo.

"O presidente Obama estava adiantado em comparação a Trump a essa altura", afirma Peterson. "Mas ainda é muito cedo para fazer essa comparação."