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Os sinais que levam polícia a suspeitar que PCC está ligado a 'roubo do século' no Paraguai

O prédio da transportadora atacada pelos assaltantes ficou destruído - Kiko Sierich / Futura Press/ Estadão Conteúdo
O prédio da transportadora atacada pelos assaltantes ficou destruído Imagem: Kiko Sierich / Futura Press/ Estadão Conteúdo

25/04/2017 09h37

O Paraguai assistiu na segunda-feira (24) a cenas dignas de um filme de ação, com explosões, carros em chamas, perseguição policial, troca de tiros e uma fortuna levada de uma transportadora de valores num megaassalto em Ciudad del Este que já é considerado o "roubo do século", o maior da história do país.

Inicialmente, a polícia disse que os ladrões teriam levado cerca de US$ 40 milhões (cerca de R$ 120 milhões) - mas depois afirmou que não poderia precisar ainda a quantia levada pelos assaltantes.

Autoridades paraguaias suspeitam que os assaltantes tenham ligação com a facção brasileira PCC (Primeiro Comando da Capital) porque usaram carros com placas do Brasil e falavam português.

Além disso, o modus operandi da ação no Paraguai é muito parecido com os ataques a carros fortes e transportadoras no Brasil que se intensificaram a partir de 2015 e são atribuídos ao grupo.

E há anos que a Polícia Federal brasileira identifica o crescimento da atuação de facções nacionais no território paraguaio.

Em 2011, o delegado Antônio Celso dos Santos, que à época ocupava o posto de adido da PF no Paraguai havia dois anos, definiu o território do país vizinho como "um escritório" do PCC e do Comando Vermelho (CV). Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo naquele ano, Santos disse que os dois grupos lá se instalaram e se associaram a criminosos locais para eliminar intermediários no tráfico de drogas e armas que passam pela fronteira seca entre Paraguai e Brasil.

Mas, desde o assassinato do empresário Jorge Rafaat - suposto chefe da maior quadrilha da cidade de Pedro Juan Caballero, do "outro lado" de Ponta Porã (MS) - no ano passado, o conflito entre traficantes brasileiros e paraguaios se intensificou na fronteira.

O controle do local é disputado por PCC, CV e seguidores de Rafaat. No mês passado, essa guerra teve mais um capítulo com o assassinato, nas ruas de Ponta Porã, de Ronny, irmão do traficante brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, que se encontra preso na capital paraguaia e teria, segundo suspeitas, ordenado a morte de Rafaat num acordo com o PCC.

Paraguai  - Divulgação - Divulgação
A polícia apreendeu armas de grosso calibre usadas no ataque à transportadora
Imagem: Divulgação

50 homens armados

Em Ciudad del Este, na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, local de intenso movimento comercial, o alvo do assalto foi a transportadora de valores Prosegur.

Na madrugada de segunda, por volta das 0h30, a transportadora foi invadida por um grupo de dezenas de homens armados, após troca de tiros com vigilantes. Eles explodiram o caixa-forte e levaram, em dólares, reais e guaranis, o valor estimado em dezenas de milhões de dólares.

Pelo menos 19 veículos - entre carros e caminhões - tinham sido incendiados nas redondezas da transportadora, causando confusão e caos na região.

Além disso, foram acionados explosivos próximos à sede da polícia, dificultando mais ainda uma reação imediata das autoridades locais.

"Por duas horas, a polícia não conseguiu chegar ao local", disse a promotora de Ciudad del Este Denise Duarte.

"Custou muito porque havia franco-atiradores e porque incendiaram carros na entrada da sede (da polícia) para não permitir a saída de reforços", disse ela. A promotora acrescentou que os assaltantes usavam máscaras e falavam português.

As investigações indicam que o grupo, depois de fugir em carros em direção à fronteira como Brasil, usou uma lancha para entrar na selva e se esconder.

Horas depois do mega-assalto, por volta do meio-dia, a Polícia Federal brasileira trocou tiros com suspeitos na área rural de Itaipulândia, às margens do Lago de Itaipu, no oeste do Paraná, ao se deparar com um grupo de 12 pessoas.

Às 14h, houve nova troca de tiros, dessa vez em em São Miguel do Iguaçu, a 40 quilômetros do local do primeiro embate entre policiais federais e suspeitos.

De acordo com a polícia, os mortos e feridos estão entre os cerca 50 homens que participaram do roubo durante a madrugada. Segundo a PF, foram apreendidos cinco veículos (entre eles, um carro de polícia), um fuzil, uma pistola, um barco, 7 quilos de explosivos, malotes vazios e munição de grosso calibre.

As buscas continuam no Brasil e no Paraguai, e parte do dinheiro levado foi encontrada numa sacola com numerosos maços de reais, dólares e guaranis. Segundo o jornal paraguaio ABC Color, junto ao dinheiro, uma arma calibre .50 também foi abandonada num descampado no Paraná.

Até o momento, foram contados quatro mortos: um policial paraguaio, que morreu na ação do assalto à transportadora, e três suspeitos, nas trocas de tiros com a Polícia Federal brasileira no Paraná. Oito suspeitos foram presos.

A sede da transportadora fica a quatro quilômetros da Ponte da Amizade, na fronteira entre Paraguai e Brasil, em Ciudad del Este - local onde operam contrabandistas e traficantes de drogas e de pessoas.

Além de autoridades paraguaias, a Polícia Federal brasileira e a Polícia Militar do Paraná também trabalham em conjunto na busca pelos assaltantes. Como há suspeita de participação de integrantes do PCC ou de pessoas ligadas à facção, a polícia de São Paulo também tem trocado informações com a PF.

Guerra

A sede da transportadora ficou completamente destruída e as explosões também comprometeram a estrutura de imóveis. Pelo menos três moradores locais se feriram durante a ação.

O policial que morreu no assalto era o agente do Grupo de Operações Especiais Sabino Ramon Benitez, que policiava a área próxima ao ataque.

"O barulho soou na cidade como se fossem bombas em uma guerra", disse à agência de notícias AFP Antonio del Puerto, uma das testemunhas do assalto.

A Prosegur, por meio de uma nota, lamentou a morte do agente, elogiou o trabalho das autoridades e disse que "se preocupa com o nível de organização da quadrilha, sua capacidade de atuação e material bélico empregado pelo crime organizado nesta ação".

O ministro do Interior do Paraguai, Lorenzo Lezcano, afirmou que o roubo foi produto de uma "operação bem planejada". Lezcano confirmou que a maioria dos carros usados na ação tinha placas brasileiras.

Resposta

O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, ordenou que o Exército do país ajudasse a polícia a controlar o acesso ao local do roubo e na busca por suspeitos.

O presidente do Brasil, Michel Temer, disse que PF auxiliaria o país vizinho "com todos os recursos necessários".

O chefe de polícia do Paraguai, Luis Rojas, disse ser "muito provável" que os assaltantes tenham contado com ajuda de dentro da polícia - sem especificar qual polícia seria.

"Vou procurar recursos e melhores homens para trabalhar para pegar essas pessoas", disse ele, que pediu apoio também à polícia da Argentina na busca pelos assaltantes.

A polícia busca ainda algum tipo de possível conexão entre a ação no Paraguai e um assalto a uma transportadora em Roboré, no leste da Bolívia, no final de março, que também tem integrantes do PCC como suspeitos.

No caso boliviano, os assaltantes fugiram para a Amazônia brasileira e ainda são procurados pelas autoridades bolivianas.