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No Vale do Jequitinhonha, Lula promete até campus de universidade

André Shalders/BBC Brasil
Imagem: André Shalders/BBC Brasil

André Shalders - @shaldim - Enviado da BBC Brasil a Itinga e Araçuaí (MG)

26/10/2017 15h44Atualizada em 26/10/2017 16h43

Mesmo com a possibilidade de ser impedido de concorrer por uma eventual condenação em segunda instância, Luiz Inácio Lula da Silva veste figurino de candidato. Nas suas caravanas, a disputa de 2018 já começou.

Mineiro da cidade de Mariana, o jornalista e escritor Fernando Morais está acompanhando a jornada petista por seu Estado natal. Costuma viajar no mesmo ônibus do ex-presidente - um dos dois que compõem a caravana.

Eleitor e entusiasta, prepara um livro biográfico sobre ele. Segundo o autor, a trama se estende dos anos 1980 até o fim da "novela" em torno da possível candidatura do petista em 2018. O livro terminará ou com o Lula candidato, ou com o Lula impedido de concorrer pela Justiça.

Mas para o ex-presidente a questão parece já estar resolvida. "Eu vou disputar as eleições e vou ganhar", disse ele na noite de quarta-feira, em cima de um palco e diante de cerca de 7 mil pessoas na cidade de Araçuaí (MG), no Vale do Jequitinhonha.

"E eu quero te dizer Armando (Jardim Paixão, prefeito de Araçuaí pelo PT): se prepare, porque eu sei que você já doou o terreno para o Ifet (Instituto Federal Tecnológico). E nesse terreno vai ter uma universidade aqui em Araçuaí", prometeu.

Esta tem sido a tônica da viagem de Lula por Minas: carros de som com jingles (um deles repetia "É Lula de novo, com a força do povo"), bandeiras do PT e camisetas com a hashtag #Lula2018.

26.out.2017 - Lula no Vale do Jequitinhonha - André Shalders/BBC Brasil - André Shalders/BBC Brasil
Imagem: André Shalders/BBC Brasil
Outros elementos mais óbvios da campanha, porém, não estão presentes. Não há cartazes com o número 13 do PT, e ele não pede votos diretamente (do tipo "vote em mim").

Isso é para evitar que a caravana seja caracterizada como propanda eleitoral antecipada. Pela legislação, é proibido pedir votos diretamente antes do período eleitoral, que começa só no segundo semestre de 2018 - quem infringir essa regra pode ser multado.

Segundo o especialista em direito eleitoral Alberto Luis Rollo, na pré-campanha é permitido exaltar das qualidades do candidato e até fazer promessas, desde que não estejam vinculadas a pedidos de voto ou números da legenda. "O candidato pode dizer: 'se eu me tornar presidente' ou 'se eu me tornar governador', desde que não peça votos", explica.

Antes de 2015, quando foi aprovada a lei Lei 13.165/2015, as regras de pré-campanha eram um pouco mais rígidas. "Existia uma hipocrisia, todo mundo era candidato, mas a propaganda era velada. A lei então criou a figura do pré-candidato", afirma o especialista.

As últimas pesquisas de intenção de voto trazem Lula à frente da disputa para as eleições do ano que vem. No último levantamento do Instituto Datafolha, por exemplo, ele aparece com 35%, ante 17% do militar da reserva e deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Por outro lado, o petista corre o risco de ficar de fora da disputa caso o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, em Porto Alegre, confirme a sentença proferida pelo juiz Sergio Moro, responsável pela operação Lava Jato na primeira instância, em Curitiba. Ele se tornaria inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa.

Mas no Vale do Jequitinhonha e em outras regiões de Minas onde Lula faz sua caravana, a Lava Jato parece um problema distante.

"Estejam preparados. Na verdade, não são vocês que vão votar em mim, sou eu que vou votar em vocês", disse o ex-presidente. "Eu tô dizendo uma coisa para eles saberem. Eu vou fazer um referendo revogatório. Eu vou pedir autorização para o povo brasileiro para a gente desfazer todas as bandalheiras que eles fizeram contra o Brasil", acrescentou, em referência às medidas do governo Michel Temer (PMDB) - e em mais uma proposta para um futuro mandato.

Beijando bebês

Lula faz campanha no Vale do Jequitinhonha pelo menos desde 1992. Em 2002, foi a Itinga como candidato a presidente, onde prometeu a construção de uma ponte ligando os dois lados da cidade.

Lá, conheceu as gêmeas Raíssa e Rayanne Chaves, então com quatro anos de idade. As duas continuam morando em Itinga. "A gente correu por debaixo da corda até ele", relembra Raíssa. O então candidato pegou as duas crianças no colo.

26.out.2017 - Lula visitou o vale do Jequitinhonha - André Shalders/BBC Brasil - André Shalders/BBC Brasil
Imagem: André Shalders/BBC Brasil
Nesta nova passagem de Lula, Raíssa e Rayanne estão com 18 anos. Foram convidadas pela equipe do ex-presidente para assistir ao breve discurso na praça da cidade e tirar fotos com ele.

As gêmeas também já são mães - trouxeram os filhos Arlindo Miguel (um ano e sete meses) e Lorena (dois anos). As crianças estavam paramentadas com botons do PT. Novamente, o material não trazia o número 13.

Lula chega a correr riscos em alguns momentos de sua caravana. Em Itinga, por exemplo, não havia alambrado para separar o petista da multidão.

O petista anda acompanhado por agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a que tem direito por ter exercido o cargo. No evento em Itinga, o Gabinete Militar do governo de Minas Gerais, hoje chefiado por Fernando Pimentel (PT), também enviou uma equipe.

Embora Lula continue um forte candidato no país como um todo, os votos no PT despencaram nas últimas eleições na região do Jequitinhonha. O candidato do partido à Prefeitura de Itinga recebeu só 1,8% dos votos em 2016, e o do PSDB foi eleito em primeiro turno. A legenda não conseguir eleger nenhum vereador na cidade.

Com colaboração de Letícia Mori, da BBC Brasil em São Paulo.