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Slime, o milionário mercado de massa pegajosa que é sucesso entre crianças

Felicity Hannah - Do Wake up to Money, BBC Radio 5 Live

14/01/2019 12h24

Empresas crescem à medida que trabalham com youtubers para difundir 'mania'; mas muitos sites divulgam receitas caseiras de slime, o que preocupa autoridades.

Gosma é um negócio sério.

O mercado do slime, um tipo de massa de modelar que pode ser enfeitada com diferentes cores e purpurinas, não mostra sinais de que vá perder seu apelo grudento entre as crianças.

"Artesãos" de slime no YouTube, por exemplo, ganharam status de celebridade - com alguns conquistando centenas de milhares de seguidores.

Muitos fabricantes cresceram, como atesta a empresa Zimpli Kids, sediada em Blackburn, na Inglaterra.

A companhia mudou-se para uma fábrica maior para atender à demanda e agora fornece pó para a produção de slime em todo o mundo.

Seu porta-voz, Paul Jackson, diz que o crescimento foi astronômico.

"Em 2016 crescemos mais de 300%, em 2017 crescemos 60%. Para 2018 (em resultados preliminares), estamos com cerca de 35%", diz Jackson.

O papel do YouTube e da internet na disseminação do slime

A fábrica da Zimpli Kids é repleta de vastos caixotes com pacotes de pó coloridos. Eles estão empilhados, e o chão da fábrica está cheio de enormes caldeirões e máquinas que canalizam os pós para pacotes.

Há um longo caminho até chegar aos YouTubers misturando slimes em suas cozinhas. Mas ainda é a internet o motor das vendas.

"O YouTube é para as crianças o que a TV era há cinco anos", diz Jackson. "É o site mais visitado do mundo por crianças, é tão influente. Se algo vira tendência no YouTube, ele será vendido no varejo."

"Trabalhamos com mais de mil youtubers. Fornecemos nosso pó de slime e eles fazem seus próprios vídeos", conta.

A empresa afirma que seus dois produtos mais populares atraíram mais de 4,5 bilhões de visualizações no YouTube graças a avaliações de influenciadores online. Seria preciso uma campanha publicitária de alcance global para chegar a esse número através das plataformas mais tradicionais.

As empresas podem usar influenciadores para impulsionar seus produtos, mas algumas destas estrelas da internet estão lançando seus próprios negócios no segmento.

Izzy Suss tem apenas 12 anos, mas criou a Slime's On The Rise, empresa online que fabrica diferentes slimes. Ela também organiza festas onde ensina outras crianças a fazer e personalizar seus próprios slimes em casa.

Parte de seu sucesso é creditado a seus 5 mil seguidores no Instagram.

"Eu vendia na escola, quando encontrei o Etsy, um site que é uma plataforma de vendas", diz.

"O Instagram realmente me ajudou a fazer meu negócio crescer", comemora Izzy. "(O slime) É muito fácil e divertido de se brincar, e é um verdadeiro alívio para o estresse. É um brinquedo muito simples, mas muito eficiente".

Preocupações com o slime

Tanto a Zimpli Kids quanto Izzy dizem que seus produtos são feitos com ingredientes seguros - mas nem todos os fabricantes podem fazer essa afirmação.

Sempre que uma nova mania decola, há empresas que rapidamente começam a produção para lucrar, aumentando o risco de que os padrões de segurança não sejam rigorosamente respeitados.

A Which?, organização pela defesa dos consumidores no Reino Unido, testou recentemente 13 produtos do segmento de slime e constatou que quase metade trazia quantidades de borato de sódio (ou bórax) - substância que tem demonstrado afetar potencialmente a fertilidade - acima do limite considerado seguro por normas da União Europeia.

Nikki Stopford, diretora de pesquisa e publicação da Which?, diz: "Encontramos evidências preocupantes de que crianças poderiam estar sob risco com esses brinquedos".

"Os pais devem ter certeza de que os produtos que compram para os filhos são seguros, mas nossa mais recente investigação descobriu que produtos nocivos estão sendo vendidos até mesmo por grandes varejistas".

"Novamente, pedimos aos fabricantes que parem de fazer produtos inseguros", disse Stopford.

No Brasil, onde o slime também é popular - em boa parte, nas versões artesanais, em que as crianças produzem o slime desde o início, em contraposição a versões prontas -, o alarme também foi aceso.

Em agosto de 2018, a organização Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) publicou uma nota alertando para os riscos do slime produzido em casa. O comunicado lembra que sua fabricação artesanal envolve o contato com substâncias químicas diversas, como o bórax, cola branca e bicabornato de sódio. O contato com esta mistura pode causar alergias e até queimaduras, destacou a entidade.

"É fundamental acompanhar todos os processos de confecção do slime caseiro junto com as crianças. Porém, não é possível garantir que o produto final será inofensivo", diz a nota, recomendando a preferência por slimes prontos e industrializados, com selo do Inmetro.

Sucesso viscoso

Apesar das preocupações, não parece que elas estejam freando a mania do slime.

Pesquise no Google por "Como fazer slime" e veja que existem mais de 10 milhões de resultados. Visite o YouTube ou o Instagram e perceba que o conteúdo relacionado ao slime está sendo adicionado a cada poucos minutos.

E, também no mundo offline, veja em qualquer loja de brinquedos pilhas de ingredientes e slimes prontos empilhados pelos corredores.

Mas Paul Jackson, da Zimpli Kids, diz ser improvável que a febre dure para sempre.

"O slime vai deixar de ser tão popular, nada é tendência para sempre", diz ele.

"Acho que vamos capitalizar o crescimento e seremos realistas. O slime será menos tendência do que é agora, mas não acho que vá desaparecer por completo".


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