Quem é Bill de Blasio, prefeito de Nova York que criticou Bolsonaro antes de cancelamento de viagem
Presidente brasileiro citou 'agressões' de político norte-americano na nota em que informava ter cancelado a ida aos EUA; de Blasio chamou o mandatário de racista e homofóbico.
"Jair Bolsonaro acabou de aprender, da maneira mais difícil, que os nova-iorquinos não fecham os olhos para opressão. Nós denunciamos sua intolerância. Ele fugiu. Não é uma surpresa - os valentões não aguentam um soco. Bolsonaro, seu ódio não é bem-vindo aqui".
Com essas palavras, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, comemorou a desistência do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de participar de um evento na cidade americana, em 14 de maio, no qual seria homenageado como a Personalidade do Ano de 2019 da Câmara de Comércio Brasil-EUA.
A mensagem foi postada na conta do Twitter de de Blasio neste sábado, 4 de maio, pela manhã, mobilizando apoiadores e opositores do presidente brasileiro.
De Blasio foi uma das figuras públicas mais importantes por trás das iniciativas que buscaram inviabilizar o evento de homenagem a Bolsonaro em Nova York.
Ao justificar sua decisão de não comparecer à premiação, Bolsonaro chegou a destacar os "ataques deliberados" do prefeito americano.
"Em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações no evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade", disse, por nota, o porta-voz do governo, general Otávio do Rêgo Barros.
"Em função disso, e consultados vários setores do governo, o presidente Bolsonaro decidiu pelo cancelamento da ida a essa cerimônia e da agenda prevista para Miami."
Bolsonaro não é o único presidente a ser criticado por Bill de Blasio. O prefeito de Nova York também é um grande opositor do mandatário americano Donald Trump.
Mas quem é Bill de Blasio e o que motivou sua oposição a Bolsonaro?
Pressão de Bill de Blasio contra homenagem a Bolsonaro
A pressão do prefeito americano começou em abril. Em entrevista à rádio americana WNYC, de Blasio pediu que a homenagem ao brasileiro fosse cancelada, dizendo que Bolsonaro era um ser humano "perigoso", devido a "seu racismo e homofobia evidentes" e por ser "a pessoa com maior poder de impacto sobre o que se passará na Amazônia daqui para a frente".
Na época, o Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, criticou o americano: "Não há surpresa alguma em ver Bill de Blasio - um sujeito que colaborou com a revolução sandinista, que considera a USSR (sic) um exemplo a ser seguido e que faz comícios no monumento dedicado a Gramsci no Bronx - criticando o PR Bolsonaro. Surpresa seria uma toupeira dessas o elogiar".
Naquela altura, o evento estava previsto para ser realizado no Museu de História Natural de Nova York. Em 15 de abril, no entanto, o Museu se recusou a sediar a cerimônia.
"Com respeito mútuo pelo trabalho e pelos objetivos de nossas organizações individuais, concordamos em conjunto que o Museu não é o local ideal para o jantar de gala da Câmara de Comércio Brasil-EUA. Este evento terá lugar em outro local na data e hora originais", declarou a instituição, pelo Twitter.
https://twitter.com/NYCMayor/status/1118198898617667585
A desistência foi logo celebrada por de Blasio, também pelo Twitter. "Bolsonaro é um homem perigoso (...) Em nome da nossa cidade, obrigada AMNH (sigla em inglês para Museu de História Natural de Nova York) por cancelar este evento".
Foi a primeira de uma série de desistências. Depois disso, outros dois lugares se recusaram a sediar o evento. Uma companhia aérea e uma consultoria também desistiram de patrocinar a homenagem.
O primeiro democrata a governar Nova York em duas décadas
Bill de Blasio é considerado parte de uma ala progressista do Partido Democrata. É prefeito de Nova York, a maior cidade americana, desde 2013. Foi eleito com 73% dos votos e reeleito com 66%.
Entre suas bandeiras, de Blasio se comprometeu a combater a desigualdade em Nova York, por meio de taxações aos mais ricos e da construção de 200 mil habitações populares.
Em um comercial de televisão, seu filho Dante também prometeu que o pai acabaria com a polêmica política "stop-and-frisk" (pare e reviste), incentivada pelo então prefeito Michael Bloomberg. A medida autorizava que a polícia de Nova York revistasse qualquer pessoa, mesmo que não houvesse suspeitas aparentes - estatísticas mostraram que negros e latinos eram os mais abordados, levantando críticas de que a prática era discriminatória.
Dante é filho de de Blasio com Chirlane McCray, uma escritora afro-americana e ativista política, que, antes desse relacionamento se identificava como gay.
Em seu primeiro grande discurso como prefeito, de Blasio prometeu que sua administração "honraria" o trabalho de todos os nova-iorquinos, não apenas dos ricos, e prometeu que os imigrantes sem documentos não seriam forçados a viver e trabalhar "nas sombras".
Ainda no primeiro ano no cargo, de Blasio também declarou que boicotaria uma parada anual do Dia de São Patrício, porque os organizadores proibiram os manifestantes de portarem cartazes fazendo referência ao orgulho gay.
"Por toda minha vida, eu tenho sido um progressista, eu sei muito sobre a esquerda. Eu conversei com muitos progressistas sobre o que estamos fazendo, ativistas, políticos eleitos, especialistas. E descobri que há muita concordância com nossa agenda", declarou de Blasio em 2018, segundo o jornal The New York Times.
Assim, de Blasio e Jair Bolsonaro estão em diferentes lados do espectro político.
Críticas a sua administração e apoio aos sandinistas
A efetividade das bandeiras progressistas de Blasio é criticada por opositores. Por outro lado, de Blasio também tem sido criticado por grupos progressistas, que argumentam que o prefeito não está fazendo o suficiente para cumprir suas promessas de campanha - especialmente em relação aos mais pobres e imigrantes.
Além disso, o prefeito de Nova York é criticado por grupos conservadores por já ter apoiado o movimento sandinista, na Nicarágua, e por ter marchado na parada do Dia de Porto Rico, evento em que também estava Oscar López Rivera, visto por alguns como um terrorista e por outros como um ativista pela liberdade.
O apoio de de Blasio aos sandinistas remete a sua juventude. Quando tinha 26 anos, viajou à Nicarágua para ajudar a distribuir comida e medicamentos. Na época, o país estava mergulhado em um conflito entre a guerrilha sandinista e os chamados Contras - resistência armada apoiada pelo governo do então presidente americano Ronald Reagan.
Na Nicarágua, de Blasio passou a ter uma "visão de possibilidades" de um governo de esquerda, segundo o jornal The New York Times. De volta aos Estados Unidos, passou a trabalhar para uma organização que buscava melhorar a saúde na América Central, além de arrecadar fundos para os sandinistas.
Questionado sobre esses episódios, de Blasio disse que o período em que apoiou os sandinistas foi de "aprendizado" e que era um defensor do "socialismo democrático". Já hoje, diz ser crítico aos sandinistas.
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