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Indicado para Secretaria do Audiovisual de Bolsonaro quer cota nacional na Netflix e verba para gospel

Matheus Magenta - Da BBC News Brasil em São Paulo

04/06/2019 18h08

Em entrevista à BBC News Brasil, Edilásio Barra Jr., também conhecido como Tutuca, diz que "esquerda tem que entender que a direita assumiu esse país".

Cotado para assumir a Secretaria do Audiovisual no governo de Jair Bolsonaro, o pastor, produtor e jornalista Edilásio Barra Jr. defende a adoção de uma cota para filmes brasileiros em serviços de streaming como Netflix e cobra o direito de obras evangélicas terem acesso a verbas públicas em um sistema "sem viés ideológico".

"Acho que a esquerda tem de entender que a direita assumiu esse país. O que é ser direita? É ser liberal e conservador, é progredir com os bons costumes e a família. Por que não pode ter filme que fala da família? Por que não pode ter filme que preserve os bons costumes? Por que não pode ter filme gospel?", afirmou em entrevista à BBC News Brasil.

Para Barra Jr., conhecido também como Tutuca, a Secretaria do Audiovisual precisa ter uma visão democrática, desburocratizada, descentralizada e planejada. Entre as atribuições do órgão estão formação, editais de produção de filmes e séries e preservação de conteúdo.

Sua carreira começou há quatro décadas, dançando em um programa de auditório da TV Globo. Desde então foi ator, produtor e colunista social.

Ele relata ter passado por oito emissoras e cinco atrações. Ao descrever seu Programa VIP, que afirma ter sido exibido em CNT, Band e RedeTV!, Edilásio Barra Jr. diz que "tudo que Amaury Jr. fazia em São Paulo, eu fazia no Rio".

No meio do caminho, em 2011, fundou uma igreja para ajudar colegas do curso de Teologia, e hoje diz ser um pastor independente.

A nomeação de Barra Jr. está sob fogo. Segundo a revista Veja, o deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) afirmou que essa nomeação foi negociada entre o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), e o deputado federal Delegado Éder Mauro, primo de Barra Jr. O atual secretário é Pedro Henrique Peixoto, autor da biografia de Frota.

Barra Jr. também foi alvo de críticas do ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e da deputada federal Manuela d'Ávila (PCdoB-RS) por ter compartilhado um post em uma rede social que acusa os dois políticos de ligação com o atentado contra Jair Bolsonaro, em 2018. Ambos estudam processá-lo.

Questionado sobre o post, ele diz que compartilhar não é afirmar ou acusar, mas dar "oportunidade às pessoas a saberem o que está acontecendo" em seu entorno em um determinado momento. "E aí nós compartilhamos e pronto, porque nós somos de direita e naquele momento era isso que se falava."

Leia abaixo trechos da entrevista.

BBC News Brasil - Em áudio publicado pela revista Veja, o deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) insinuou que sua indicação ao cargo de secretário do audiovisual foi uma troca de favores entre o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e seu primo, o deputado federal Éder Mauro.

Edilásio Barra Jr. - Isso é uma completa mentira, engenhosa, de uma maldade cruel, da cabeça do Alexandre Frota. Até porque se ele desconhece ou não, eu fui coordenador da campanha do Bolsonaro e do PSL no Rio Grande do Sul.

Eu ajudei a organizar e fazer quatro deputados federais no Rio Grande do Sul, quatro estaduais, uma mulher chamada Carmen Flores com quase 1,5 milhão de votos (ela concorreu ao Senado e perdeu). Eu ajudei na coordenação, no marketing e nas plataformas digitais. Não tem nada a ver com meu primo, que mora em Belém do Pará e eu estava no Rio Grande do Sul.

BBC News Brasil - Seu parentesco, então, não pesou para a indicação?

Barra Jr. - Claro que não, eu tenho meu caminho próprio. Eu trabalho há 40 anos na minha carreira artística com som e imagem. O que é audiovisual? É uma forma de comunicação que através do som e da imagem você produz cinema, conteúdo de TV aberta e fechada e plataformas digitais. Eu sou diretor de TV e de arte e de produção sindicalizado pelo Sated-RJ e sou ator também.

Comecei na Rede Globo de Televisão em 79. Tinha um programa de televisão que as pessoas dançavam. Comecei ali dançando como qualquer outro ator começou ali, que o Kadu Moliterno e a Élida L'Astorina apresentavam. Era um programa de auditório, o Jorge Lafond começou ali também dançando.

Fiz todos os programas da linha de shows da TV Globo. Aí vem Os Trapalhões, Viva o Gordo, A Praça é Nossa, fui dirigido pelo Lúcio Mauro, por Augusto Cesar Vanucci fazendo Pirlimpimpim 1, Pirlimpimpim 2.

BBC News Brasil - O que dessa experiência pode te ajudar gerir uma secretaria?

Barra Jr. - A primeira coisa que a gente tem que fazer é descentralizar a cultura desse país, que só fica no eixo Rio-São Paulo. Eu, como sou um nortista do Pará, as verbas têm que chegar mais fácil lá. Eu quero atuar com as ideias que o Bolsonaro tem através do ministro da Cidadania, Osmar Terra. Nós vamos descentralizar a cultura. Nós vamos dar oportunidade e voz a quem nunca teve nesse país. Eu não sei porque a esquerda se acha dona da cultura desse país.

BBC News Brasil - Há muitas críticas ao sistema de financiamento de verbas na cultura, entre elas o repasse de dinheiro a quem não precisa. O sr. concorda? Se sim, o que faria para mudar esse cenário?

Barra Jr. - Na minha opinião, como homem da cultura, é que precisa desburocratizar mais o acesso a essas verbas analisando o ponto das necessidades, não é isso? Eu vejo muita gente recebendo muito, mas isso é uma coisa que já foi ajeitada na Lei Rouanet, não é mais R$ 60 milhões para as pessoas. Agora é até R$ 1 milhão, que dá pra fazer um bom trabalho na cultura. (O governo Bolsonaro adotou diversas mudanças no mecanismo Os festivais e outras coisas serão estudados a cada situação. Isso eu acho correto.

Como é que os grandes artistas recebiam favor da Lei Rouanet se cobravam R$ 300, R$ 400, R$ 500 o ingresso? Isso tá errado. Como é que o governo federal vai bancar uma estrutura dessa? Tem que bancar a estrutura de pessoas que estão começando e precisam de R$ 100 mil, R$ 200 mil para gravar um CD, para fazer um festival, um documentário.

BBC News Brasil - Então, o sr. acha que o governo federal deveria fomentar também filmes de esquerda, como Marighella, de Wagner Moura, sobre um guerrilheiro na época da ditadura militar, que captou R$ 3,5 milhões?

Barra Jr. - Eu acho que a cultura não tem que ser administrada com viés ideológico.

BBC News Brasil - E o que isso significa na prática?

Barra Jr. - Eu acho que o cinema tem que passar também a preservação dos bons costumes, da família, dos nossos heróis, porque agora o filme mais visto do Brasil é Os Vingadores. Tem que ter uma implantação de uma cota de tela sensata.

BBC News Brasil - O que seria sensato? Uma cota de tela para preservar os bons costumes?

Barra Jr. - Eu acho que teria que ter espaço também nas salas de cinemas para os filmes brasileiros. Na verdade, 70%, 80% ficam com os filmes estrangeiros.

BBC News Brasil - Mas cota de tela já existe.

Barra Jr. - Mas (agora) seria cumprida, né? Uma fiscalização maior em cima disso, mas eu não estou aqui para criticar ninguém. Eu só posso falar como secretário se um dia eu for secretário. Eu só fui indicado, nem sei se eu vou ser. Até porque eu não vivo de cabide de emprego de cargo público. Se eu quisesse ser chefe de gabinete dos deputados federais que eu ajudei a eleger no Rio Grande do Sul, eu já seria.

BBC News Brasil - Por que o sr. acha que a Secretaria do Audiovisual deveria se preocupar com os bons costumes?

Barra Jr. - Uma secretaria de audiovisual deveria ter uma visão democrática, descentralizada, com planejamento e que dê oportunidades ao repentista de Recife gravar seu CD com R$ 50 mil, ao tecnobrega que um artista de Belém do Pará com R$ 80 mil para gravar seu DVD. A oportunidade tem que ser para todos, não só para quem mora no eixo Rio-São Paulo, sem desmerecer ninguém. São vários Estados no nosso país, com uma dimensão continental. Por que a cultura tem que ficar centralizada no eixo Rio-São Paulo, entre o Jardim Botânico e a Vila Madalena?

BBC News Brasil - O sr. acha que a produção audiovisual independente tem espaço hoje na Ancine, na Secretaria do Audiovisual?

Barra Jr. - Se eu entrar, vou saber tudo isso. Você está me perguntando coisa lá de dentro que eu não sei. Eu sei o que eu tô vendo. Agora, eu acho que o Osmar Terra é uma pessoa sensata, honesta, coerente, um homem escolhido para ser o nosso ministro e uma pessoa supercapacitada. É um gestor público. Ele tem que ser respeitado. Ele é uma pessoa coerente, colocou lá o Henrique Pires, que é o secretário especial de Cultura, competente, viram o meu currículo e me convidaram para conversar.

BBC News Brasil - Filmes com grande orçamento, como Minha Mãe é Uma Peça, deveriam ter direito de receber verba pública?

Barra Jr. - Se esses filmes faturam do jeito que dizem que faturam, Downtown Filmes, Paris Filmes, mas tem que ter critério igual para todo mundo. Tem que ter equidade. É justiça para todo mundo conforme a sua altura e tamanho, não é isso?

BBC News Brasil - Artistas e produtores que criticam o governo Bolsonaro deveriam ser impedidos de ter acesso a esses recursos?

Barra Jr. - Eu acho que todo mundo tem direito a verba pública. Só não pode ser administrado com viés ideológico. Só isso. Você sabe como foi criada a Ancine? Foi criada em 2001 pelo PCdoB e pelo PT. E o Mario (Manoel) Rangel ficou uma década lá dentro. Isso é que tem que mudar. Acho que a esquerda tem que entender que a direita assumiu esse país.

O que é ser direita? É ser liberal e conservador, é progredir com os bons costumes e a família. Por que não pode ter filme que fala da família? Por que não pode ter filme que preserve os bons costumes? Por que não pode ter filme gospel?

BBC News Brasil - Mas não tem filme gospel? Nada a Perder foi lançado no ano passado e se tornou o maior filme do ano.

Barra Jr. - Sem verba da Ancine porque eles nem queriam. Foi o filme nacional mais visto do país, a biografia do Edir Macedo.

BBC News Brasil - O sr. acha que esse filme, caso tivesse pleiteado verba pública, não teria tido acesso?

Barra Jr. - Não só esse como outros filmes que poderiam vir de outras denominações, de igrejas, de outras instituições que trabalhem com o mundo gospel. Por que nós temos que discriminar o mundo gospel?

BBC News Brasil - Hoje esse segmento sofre discriminação no acesso a verbas públicas?

Barra Jr. - Não sei, não sei se é discriminado. Ou se foi discriminado. Atualmente não foi colocado isso, mas eu acho que antigamente isso era discriminado.

BBC News Brasil - Mas o sr. acha então que este é um segmento que deveria ter mais acesso a verbas públicas?

Barra Jr. - Eu acho que o mundo gospel deveria também ter acesso à mídia, a verbas, participar dos editais, por que não? Acho que a cultura é pluralidade. O que não pode é ser só divulgado por um viés ideológico. Estou falando como Edilásio Barra, não como secretário. Eu acho que tem que ter uma revisão em cota de tela, tem que ser revisado isso, inclusive os streamings aí, Netflix, essas coisas que estão aí, que não tem nem muito filme brasileiro lá. Tem coreano, tem japonês, tem chinês, mas vai lá ver se tem filme brasileiro.

BBC News Brasil - O governo resiste há anos a colocar cota para filme brasileiro na Netflix, e o lobby do segmento é forte. O sr. compraria essa briga?

Barra Jr. - A briga tem que ser para melhorar o audiovisual do país. Tudo que for para melhorar o audiovisual do país acho que o Bolsonaro tá querendo, e o ministro Terra faz isso com muita competência.

BBC News Brasil - Então, uma última pergunta para concluir a entrevista...

Barra Jr. - Você não falou nada do meu currículo. O maior problema é que ficam me queimando. O Frota fica dizendo que eu não sou de televisão. A gente fazia novela junto, ficava junto o tempo todo. Eu, ele e o Mauricio Mattar, a gente saia pra boate, pra barzinho.

BBC News Brasil - Por que o deputado Alexandre Frota está agindo assim?

Barra Jr. - Eu não sei porque ele tá fazendo isso, porque o Frota é uma criança grande e malcriada e gosta de brigar com todo mundo. E ele acha que esse mandato é eterno.

BBC News Brasil - Ele emplacou um aliado dele nesse cargo, o próprio biógrafo.

Barra Jr. - Pois é, quem começou com o "toma lá, dá cá" foi ele, porque ele quis dar cargo para todos os amigos dele na Cultura. Aí o Osmar Terra falou: "pera aí, você quer comandar a Cultura? Não é assim". Quem começou com o "toma lá, dá cá", se tem "toma lá, dá cá", foi ele.

BBC News Brasil - Por fim, uma pergunta ligada a sua carreira jornalística. O sr. afirmou que o ex-deputado federal Jean Wyllys e que a deputada federal Manuela d'Ávila...

Barra Jr. - Não afirmei nada não. Não tem nada afirmado. Aquilo foi matérias que saíram em várias revistas e blogs e sites que eles eram...

BBC News Brasil - ...em rede social com um post que os aponta como principais mandantes da tentativa de assassinato do Bolsonaro?

Barra Jr. - Suspeitos, suspeitos. E aí nós compartilhamos e pronto, porque nós somos de direita e naquele momento era isso que se falava. Ponto final, só isso.

BBC News Brasil - Mas existe algum elemento que comprove essa ligação?

Barra Jr. - Eu não sou polícia, cara. Como eu acho também que todo mundo me detonou, a maioria dos repórteres me detonaram sem ligar para mim para falar mal do meu currículo. Você tá ligando hoje, graças a Deus, desde sexta-feira isso tá rolando. Se eles não são culpados, espero que não sejam, maravilha, isso é ótimo para o país.

BBC News Brasil - Mas como jornalista o sr. não fica preocupado de disseminar uma informação que talvez não seja comprovável?

Barra Jr. - Isso saiu na Veja, em vários jornais na época, que foi falado. A gente compartilhou, foi só isso, mais nada. Compartilhamento. Agora, o Jean Wyllys, que tá fora da mídia, teve só 24 mil votos, entregou seu mandato. E Manuela Dávila, que também quis ser vice-presidente e perderam. Estão encontrando uma maneira de querer entrar na mídia e usando meu nome porque isso foi compartilhado com mais de 5 milhões de pessoas.

BBC News Brasil - Compartilhar essa informação não significa endossá-la?

Barra Jr. - Compartilhar é você dar oportunidade às pessoas a saberem o que está acontecendo naquele momento. Porque internet é naquele momento. Estão pegando uma notícia daquele momento, de cinco, seis meses atrás e botando pra hoje como se tivesse afirmando hoje. Isso não é verdade. Eu não estou afirmando isso hoje. Foi naquele momento, em que todos os jornais, todos vocês publicaram isso.

BBC News Brasil - Essa acusação de ligação entre deputados e o acusado de tentativa de assassinato do Bolsonaro não foi publicada pela grande mídia, por veículos profissionais.

Barra Jr. - Eu posso te mandar umas seis matérias que te comprovam isso. E caso eles me processarem, eu vou mostrar lá na hora certa de onde eu compartilhei e por que eu compartilhei aquilo naquele momento. Já tenho tudo preparado e organizado caso eu seja processado.


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